(Versão simplificada)
Zulmira,
filha de um fazendeiro, era muito tola, muito mal-educada e muito caprichosa.
Um bom rapaz achava-a bonita e como
estava apaixonado por ela não via nenhum de seus defeitos.
Perguntou-lhe
uma vez se consentia que ele fosse pedi-la ao pai.
Ela
respondeu:
– Pode sob uma condição, que seu nome
seja impresso em um jornal, não sua assinatura, mas seu nome. É preciso que não
seja coisa sua.
Epidauro, como assim se chamava o
namorado, parecia não ter compreendido. Zulmira acrescentou:
– É um
capricho.
Epidauro aceitou e foi para casa. Depois de
muito pensar Epidauro, decidiu escrever uma carta ao jornal do Rio de Janeiro,
dando-lhe noticias de Mar de Espanha.
Mas o pobre namorado tinha que enfrentar
duas dificuldades, a 1ª é que nada acontecera em Mar de Espanha e a segunda é
que não sabia como encaixar seu nome na correspondência.
Por fim conseguiu escrever duas tiras
de papel de notícias desta espécie, ainda conseguiu colocar seu nome na carta.
Enviou para o jornal, mas ela não foi publicada.
O pobre
rapaz resolveu tomar o trem de ferro.
– Á corte!Á corte! – Dizia ele
consigo – Por todos os meios meu nome há de ser publicado!
E veio para
a corte.
Da estação foi direto para o
escritório do jornal e registrou graves queixas contra o serviço da estrada de
ferro e pediu para que fosse publicado que ele era o informante.
Mas nem
mesmo a queixa foi publicada.
Epidauro Pamplona não desesperou. Viu
que no jornal todo o dia se publicava o nome dos contribuintes.
E foi levar 5 mil-réis à redação, com
tão má letra assinou, porém, que saiu: Epifânio Peixoto.
Ele foi novamente ao jornal e assinou
mais 2$000. No jornal saiu que por causa desta quantia estava fechada a
subscrição.
Uma folha
caricata costumava responder às pessoas que mandavam seus versos.
Epidauro mandou
uns versos, e que versos! A resposta dizia: “Sr. E. P. – não seja tolo.”
Procurou muitos outros meios para
fazer imprimir seu nome, mas jamais conseguiu fazê-lo.
A última tentativa não foi a menos
original, todo dia via no jornal o nome das pessoas que foram cumprimentar Sua
Majestade, o Imperador.
No dia em que
ele ia ir cumprimentar Sua Majestade teve febre a caiu de cama.
Zulmira, em Mar de Espanha, estava sentada
ao pé do pai. Havia lhe contado a condição que impôs a Epidauro.
Um empregado entra trazendo o jornal,
a moça o abre e vê finalmente o nome de Epidauro publicado: no obituário.
“Epidauro Pamplona,
23 anos, solteiro, mineiro – Febre perniciosa.”
*****
Artur Azevedo (Artur Nabantino
Gonçalves de Azevedo), jornalista e teatrólogo, nasceu em São Luís , MA, em 7 de
julho de 1855, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 22 de outubro de 1908.
Figurou, ao lado do irmão Aluísio Azevedo, no grupo fundador da Academia
Brasileira de Letras, onde criou a cadeira nº 29, que tem como patrono Martins
Pena.
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