quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Um capricho

(Versão simplificada)

Artur Azevedo


Zulmira, filha de um fazendeiro, era muito tola, muito mal-educada e muito caprichosa.

Um bom rapaz achava-a bonita e como estava apaixonado por ela não via nenhum de seus defeitos.

Perguntou-lhe uma vez se consentia que ele fosse pedi-la ao pai.

Ela respondeu:

– Pode sob uma condição, que seu nome seja impresso em um jornal, não sua assinatura, mas seu nome. É preciso que não seja coisa sua.

Epidauro, como assim se chamava o namorado, parecia não ter compreendido. Zulmira acrescentou:

– É um capricho.

Epidauro aceitou e foi para casa. Depois de muito pensar Epidauro, decidiu escrever uma carta ao jornal do Rio de Janeiro, dando-lhe noticias de Mar de Espanha.

Mas o pobre namorado tinha que enfrentar duas dificuldades, a 1ª é que nada acontecera em Mar de Espanha e a segunda é que não sabia como encaixar seu nome na correspondência.

Por fim conseguiu escrever duas tiras de papel de notícias desta espécie, ainda conseguiu colocar seu nome na carta. Enviou para o jornal, mas ela não foi publicada.

O pobre rapaz resolveu tomar o trem de ferro.

– Á corte!Á corte! – Dizia ele consigo – Por todos os meios meu nome há de ser publicado!

E veio para a corte.

Da estação foi direto para o escritório do jornal e registrou graves queixas contra o serviço da estrada de ferro e pediu para que fosse publicado que ele era o informante.

Mas nem mesmo a queixa foi publicada.

Epidauro Pamplona não desesperou. Viu que no jornal todo o dia se publicava o nome dos contribuintes.

E foi levar 5 mil-réis à redação, com tão má letra assinou, porém, que saiu: Epifânio Peixoto.

Ele foi novamente ao jornal e assinou mais 2$000. No jornal saiu que por causa desta quantia estava fechada a subscrição.

Uma folha caricata costumava responder às pessoas que mandavam seus versos.

Epidauro mandou uns versos, e que versos! A resposta dizia: “Sr. E. P. – não seja tolo.”

Procurou muitos outros meios para fazer imprimir seu nome, mas jamais conseguiu fazê-lo.

A última tentativa não foi a menos original, todo dia via no jornal o nome das pessoas que foram cumprimentar Sua Majestade, o Imperador.

No dia em que ele ia ir cumprimentar Sua Majestade teve febre a caiu de cama.

Zulmira, em Mar de Espanha, estava sentada ao pé do pai. Havia lhe contado a condição que impôs a Epidauro.

Um empregado entra trazendo o jornal, a moça o abre e vê finalmente o nome de Epidauro publicado: no obituário.

“Epidauro Pamplona, 23 anos, solteiro, mineiro – Febre perniciosa.”

*****


Artur Azevedo (Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo), jornalista e teatrólogo, nasceu em São Luís, MA, em 7 de julho de 1855, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 22 de outubro de 1908. Figurou, ao lado do irmão Aluísio Azevedo, no grupo fundador da Academia Brasileira de Letras, onde criou a cadeira nº 29, que tem como patrono Martins Pena.




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