Cartola por Biratan
Cartola teve um amor em sua vida
que quase o destruiu, chegou a parar de compor e até (que pecado) deixou de
tocar violão. Cartola mantinha-se passivamente ao lado de uma mulher que não o
amava mais, contentando-se com as sobras daquele amor. Bebendo pra esquecer.
Por isso evitava a Mangueira. Por vergonha, talvez.
Quem conseguiu, finalmente,
tirá-lo desta fossa foram o bom senso de Carlos Cachaça e o novo amor que
chegou, na pessoa da pastora Zica. Cartola estava destruído: magro, sem dentes,
aquele narigão enorme, “feio pra caramba”, bebendo feito uma esponja. Zica
revela, sorrindo: “Mas eu quis ele assim mesmo!”
Zica representou, sem a menor
sombra de dúvida, a grande alvorada na vida do Mestre Cartola que, anos depois,
ao dedicar-lhe o samba Tive, sim, não deixou, com toda a honestidade que
o caracterizava, de fazer referência à nefasta Donária, a mulher que ela amou e
que quase o destruiu.
(Música que Cartola
fez para Dona Zica)
Tive, sim*
Tive, sim,
Outro grande amor antes do teu
Tive, sim.
O que ela sonhava
Eram os meus sonhos
E assim,
Íamos vivendo em paz,
Nosso lar,
Em nosso lar sempre houve
alegria,
Eu vivia tão contente
Como contente ao teu lado estou.
Tive, sim,
Mas comparar com teu amor
Seria o fim
E vou calar,
Pois não pretendo, amor, te
magoar.
(Extraído do livro “Cartola
os tempos idos”,
de Marília Barboza da
Silva e Arthur de Oliveira Filho. Editora Gryphus.)
*Esse samba, na minha opinião, é um dos mais lindos da MPB.
Vale a pena escutá-lo.
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