O poema I-Juca Pirama
é composto de dez cantos e narra a história de um jovem guerreiro, que caiu
prisioneiro de outra tribo. Tendo que cuidar do pai velho e cego, ele se
humilha diante de seus inimigos, pedindo-lhes que o deixem ir para cuidar do
velho pai.
Ao tomar ciência do
ocorrido. O velho guerreiro se sente destroçado em seus sentimentos de orgulho
de índio valente e lança a maldição sobre o filho. E esta passagem que se segue.
Canto VIII
Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos
choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres
guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés.
Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz,
Ser das gentes o espectro
execrado;
Não encontres amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigos tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!
Não encontres doçura no dia,
Nem as cores da aurora te ameiguem,
E entre as larvas da noite
sombria
Nunca possas descanso gozar:
Não encontres um tronco, uma
pedra,
Posta ao sol, posta às chuvas e
aos ventos,
Padecendo os maiores tormentos,
Onde possas a fronte pousar.
Que a teus passos a relva se
torre;
Murchem prados, a flor desfaleça,
E o regato que límpido corre,
Mais te acenda o vesano furor;
Suas águas depressa se tornem,
Ao contacto dos lábios sedentos,
Lago impuro de vermes nojentos,
Donde fujas com asco e terror!
Sempre o céu, como um teto
incendido,
Creste e punja teus membros
malditos
E oceano de pó denegrido
Seja a terra ao ignavo tupi!
Miserável, faminto, sedento,
Manitôs lhe não falem nos sonhos,
E do horror os espectros medonhos
Traga sempre o cobarde após si.
Um amigo não tenhas piedoso
Que o teu corpo na terra
embalsame,
Pondo em vaso d'argila cuidoso
Arco e frecha e tacape a teus
pés!
Sê maldito, e sozinho na terra;
Pois que a tanta vileza chegaste,
Que em presença da morte
choraste,
Tu, cobarde, meu filho não és.
Gonçalves Dias
Antônio Gonçalves Dias nasceu em
Caxias (MA) em 10 de agosto de 1823. Era mestiço, filho de um comerciante
português com uma cafuza (mestiça de negro e índio). Quando foi estudar Direito
em Coimbra, conheceu alguns escritores românticos portugueses, com quem
estabeleceu relações importantes para a sua formação intelectual como poeta.
Ainda em Portugal, escreveu sua
famosa poesia “Canção do exílio”, a qual mostra o saudosismo do autor em regressar
ao Brasil. De volta ao país de origem, tem alguns casos amorosos e vive uma
paixão por Ana Amélia. No entanto, a mão da jovem é recusada pelo fato de
Gonçalves Dias ser mestiço. Acometido por doenças regressa à Europa em busca de
tratamento. Na volta ao Brasil, o poeta morre nas costas do Maranhão, no
naufrágio do Ville de Boulogne, navio no qual estava no dia 3 de novembro de
1864.
Textos, poemas e assuntos variados, muito bem selecionados, tenho aprendido muito, e agradeço, pelo conhecimento e pela emoção que o almanaque tem me proporcionado, acredito ou melhor tenho certeza do sucesso muitas e muitas pessoas já leram, o que me surpreende é que nunca vi um comentário, não conheço o autor do almanaque, mas se uma pessoa se dispõe a nos transmitir conhecimento e entretenimento, merece nossa consideração.
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