Num domingo de novembro de 1786, um
grupo de negros reuniu-se na igreja da Matriz de Porto Alegre com o propósito
de criar a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. E já no dia 20 de dezembro do
mesmo ano foi realizada a eleição da primeira mesa administrativa da Irmandade.
Seguindo as tradições africanas, foram escolhidos um rei e uma rainha. O negro
Antônico, escravo de Antônio José de Alencastro, foi eleito o Rei. E como
Rainha, foi eleita a negra alforriada Maria Garcez dos Passos.
Os fundadores, em sua quase
totalidade, eram negros e mestiços; alguns já gozando de liberdade; outros,
ainda na condição de escravos. Mas todos eles animados pelo mesmo sonho: a
construção de um templo onde pudessem livremente venerar suas padroeira, Nossa
Senhora do Rosário.
Com paciência, perseverança e muitos
sacrifícios, ao longo e 30 anos recolheram pequenas contribuições para a
realização do tão almejado sonho. E assim foi até o dia 2 de outubro de 1816,
quando a Irmandade conseguiu adquirir um terreno na então Rua da Bandeira, hoje
Vigário José Inácio. Um ano depois, em 3 de outubro de 1817, foi colocada a
pedra fundamental da Igreja do Rosário.*
*
Em 25 de dezembro de 1877 realizou-se um culto de despedida na Matriz, e, então, procedeu-se ao traslado
da imagem, que foi honrada com uma festa solene no dia seguinte já em sua nova
casa.
Do
livro “Crônicas pitorescas da história do Brasil”, de Eloy Terra
Pe. José Inácio de
Carvalho e Freitas ,
pároco de 1848-1877, o Vigário José Inácio
pároco de 1848-1877, o Vigário José Inácio
Em 1951, com a autorização do
Presidente Getúlio Vargas, a velha igreja foi demolida,
alegando-se para isso suas dimensões reduzidas para uma congregação sempre
crescente, e seu mau estado de conservação. Entretanto, esse desaparecimento
representou uma das mais lamentáveis perdas arquitetônicas e históricas para a
cidade, já que o antigo templo até a década de 1950 ainda apresentava seu perfil original, de belas e puras linhas barrocas. Athos Damasceno, em seu “Artes Plásticas no Rio Grande do Sul” (1971, p. 50),
escreveu sobre o velho templo nos seguintes termos:
"Porte teve, sem dúvida, a Igreja do Rosário,
de estatura não inferior a da Matriz que, se mais do que ela se mostrava, isso
se devia à circunstância de haver sido erguida em local elevado, ao passo que a
outra se levantava em rua estreita e rasa, que não lhe favorecia a vista nem a
aparência. Uma pena! Porque bem merecia ela ser contemplada - com seus doze
metros de altura, suas duas torres quadrangulares, seu corpo central dotado de
três portas na parte inferior e três amplas janelas na superior, seu campanário
servido de seis sinos e, em cima, o frontão em curva, e, embaixo, o adro
lajeado, guarnecido de pilares de alvenaria e gradis de ferro. Seu interior, a
despeito dos escassos recursos da Irmandade, merecia também ser visto e
admirado. Além do altar-mor, dispunha de mais quatro laterais, sendo dois
escantilhados, ocupando os ângulos formados pelas paredes da nave e as do vão
do cruzeiro. Dezessete imagens ali se achavam entronizadas, algumas delas
valiosas peças de torêutica portuguesa, como a de Nossa Senhora do Rosário, que
pertencera à Matriz.
Antiga Igreja Nossa Senhora do Rosário
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