sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Nossa Senhora dos Negros



Num domingo de novembro de 1786, um grupo de negros reuniu-se na igreja da Matriz de Porto Alegre com o propósito de criar a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. E já no dia 20 de dezembro do mesmo ano foi realizada a eleição da primeira mesa administrativa da Irmandade. Seguindo as tradições africanas, foram escolhidos um rei e uma rainha. O negro Antônico, escravo de Antônio José de Alencastro, foi eleito o Rei. E como Rainha, foi eleita a negra alforriada Maria Garcez dos Passos.

Os fundadores, em sua quase totalidade, eram negros e mestiços; alguns já gozando de liberdade; outros, ainda na condição de escravos. Mas todos eles animados pelo mesmo sonho: a construção de um templo onde pudessem livremente venerar suas padroeira, Nossa Senhora do Rosário.

Com paciência, perseverança e muitos sacrifícios, ao longo e 30 anos recolheram pequenas contribuições para a realização do tão almejado sonho. E assim foi até o dia 2 de outubro de 1816, quando a Irmandade conseguiu adquirir um terreno na então Rua da Bandeira, hoje Vigário José Inácio. Um ano depois, em 3 de outubro de 1817, foi colocada a pedra fundamental da Igreja do Rosário.*

* Em 25 de dezembro de 1877 realizou-se um culto de despedida na Matriz, e, então, procedeu-se ao traslado da imagem, que foi honrada com uma festa solene no dia seguinte já em sua nova casa.

Do livro “Crônicas pitorescas da história do Brasil”, de Eloy Terra


Pe. José Inácio de Carvalho e Freitas ,
pároco de 1848-1877, o Vigário José Inácio

Em 1951, com a autorização do Presidente Getúlio Vargas, a velha igreja foi demolida, alegando-se para isso suas dimensões reduzidas para uma congregação sempre crescente, e seu mau estado de conservação. Entretanto, esse desaparecimento representou uma das mais lamentáveis perdas arquitetônicas e históricas para a cidade, já que o antigo templo até a década de 1950 ainda apresentava seu perfil original, de belas e puras linhas barrocas. Athos Damasceno, em seu “Artes Plásticas no Rio Grande do Sul” (1971, p. 50), escreveu sobre o velho templo nos seguintes termos:

"Porte teve, sem dúvida, a Igreja do Rosário, de estatura não inferior a da Matriz que, se mais do que ela se mostrava, isso se devia à circunstância de haver sido erguida em local elevado, ao passo que a outra se levantava em rua estreita e rasa, que não lhe favorecia a vista nem a aparência. Uma pena! Porque bem merecia ela ser contemplada - com seus doze metros de altura, suas duas torres quadrangulares, seu corpo central dotado de três portas na parte inferior e três amplas janelas na superior, seu campanário servido de seis sinos e, em cima, o frontão em curva, e, embaixo, o adro lajeado, guarnecido de pilares de alvenaria e gradis de ferro. Seu interior, a despeito dos escassos recursos da Irmandade, merecia também ser visto e admirado. Além do altar-mor, dispunha de mais quatro laterais, sendo dois escantilhados, ocupando os ângulos formados pelas paredes da nave e as do vão do cruzeiro. Dezessete imagens ali se achavam entronizadas, algumas delas valiosas peças de torêutica portuguesa, como a de Nossa Senhora do Rosário, que pertencera à Matriz.


Antiga Igreja Nossa Senhora do Rosário




Igreja do Rosário atual


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