“Enquanto a cidade dorme, os amantes da noite consomem angu”
(Revista Cruzeiro de
23/10/1974).
Amigos gaúchos:
Líbio, Freire e Nilo, dezembro de 2015,
no Angu do Gomes.
Líbio, Freire e Nilo, dezembro de 2015,
no Angu do Gomes.
Em 1760, o que mais tarde
abrigaria o Porto do Rio. São exatamente esses escravos africanos que trazem o
angu para o Brasil.
O então Vice-Rei do Império, Marquês
do Lavradio, decide transferir o mercado de escravos da Praça XV para onde hoje
ficam os bairros da Gamboa, Santo Cristo e Saúde, região Descrito pelo pintor
francês Debret – aqui a serviço da Corte Portuguesa – como iguaria suculenta e
gostosa, o angu, prato forte, de alto valor nutritivo, se integra rapidamente à
culinária nacional.
Em 1955, o português Gomes tem uma
grande ideia ao iniciar a comercialização dessa poderosa iguaria através de
carrocinhas de angu pelas ruas cariocas. Dez anos depois, com a morte do velho
Gomes, Basílio Moreira, também português, que desde menino ajudava o pai em
seus restaurantes, abandona a sociedade com a família para, junto a João Gomes,
transformarem o comércio iniciado na década anterior pelo pai de João em
negócio ainda mais próspero.
E é no Largo de São Francisco da
Prainha, na Saúde, que, em 1977, inauguram um restaurante para fomentar um
projeto de expansão, imprimindo um novo ritmo de produção de cozinha industrial
ao processo. Eram cerca de 300 funcionários, 40 carrocinhas espalhadas pela
cidade e uma média de mil refeições diárias. Diante de tamanho sucesso, a marca
virou até verbete, inscrita no Pequeno Dicionário de Gastronomia (Objetiva):
“ANGU DO GOMES. S. m. Prato popular e típico da paisagem carioca, geralmente vendido nas ruas, em carrinhos próprios. É uma papa de farinha de milho, servida com carne ensopada com miúdos.”
“ANGU DO GOMES. S. m. Prato popular e típico da paisagem carioca, geralmente vendido nas ruas, em carrinhos próprios. É uma papa de farinha de milho, servida com carne ensopada com miúdos.”
Bom e barato, por mais de duas
décadas as carrocinhas representaram um democrático espaço de convivência:
ricos e pobres, universitários, prostitutas, apontadores do “bicho” e
intelectuais, as mais diversas camadas da sociedade reuniam-se para
compartilhar um prato que representava um símbolo de resistência do Rio Antigo.
Além de assistir à boemia, como a
opção das madrugadas cariocas, servia de inspiração para movimentos musicais.
Conta a história que Sérgio Mendes, Tom Jobim e o produtor musical Armando
Pittighani se encontravam com frequência na Praça XV para comer o angu na
famosa carrocinha. Segundo o produtor, foi dessa união entre músicos e angu que
nasceu o que veio a ser chamado de samba-jazz.
Basílio,
aos 79 anos, relembra histórias curiosas acerca do angu. O Presidente Juscelino
Kubitscheck, sempre que vinha ao Rio, encomendava a ele o angu, que era feito
em panelas de aço inox.
“Mandei fazer só para servi-lo.” A
fama de alimento ideal para um dia duro de trabalho ou uma boa noitada – já
que, para Basílio, “o angu dá sustância, aquece, preenche e levanta”, é
confirmada pelo milionário Jorginho Guinle, que garantia que o Angu do Gomes
era afrodisíaco.
O engenheiro agrônomo Ruy Gripp
também afirma que, por seu significado nutritivo e econômico, deixar de comer
angu é um triste registro de decadência alimentar no Brasil.
“Enquanto
você vai com o fubá, eu já estou voltando com o angu!”
O Restaurante ANGU DO GOMES está de
volta no mesmo local que, de mercado negreiro, se transformou em centro de boemia,
palco das primeiras rodas de samba e de capoeira do Rio. A intenção é unir boa
comida à boa música, tudo sob a batuta do velho Basílio, presidente de honra da
CASCA – Confraria dos Amigos do Samba, Choro e Angu, ajudando a recuperar a
memória gastronômica, identitária e cultural de nossa cidade.
Angu do Gomes
Largo do São Francisco da Prainha, Praça Mauá, Centro,
Rio de Janeiro
Negras vendendo angu no Rio antigo
Muito interessante essa história,com ilustrações muito bonitas.
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