sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Texto do Almanhaque de 1955

Barão de Itararé


Justiça de Salomão

Por Tristão Bernardo
    
O rei Salomão, como sabeis, morreu em 975 em Jerusalém e nasceu em 1032. Esta é uma originalidade dos personagens de antes da era cristã de morrer assim antes do seu nascimento. Ele era o autor daquele julgamento cujas razões e “consideranda” são presentes em todas as memórias, entre duas mães que disputavam uma criança. Seu julgamento causou tão viva impressão que mais nenhuma pessoa no país se atrevia a litigar. Salomão chegava todos os dias no palácio, para fazer justiça:

 Nada de novo? – perguntava ao chefe da guarda.

 Nada de novo, Majestade.

Salomão oscilava gravemente a cabeça e dizia:

 Tanto melhor! Tanto melhor!

Entretanto, ele achava que assim seu renome de bom juiz estava sendo mal conservado e empalidecendo um pouco na lembrança dos homens.

Mais que um dia, como o rei Salomão caminhava devagar, ia chegando com méis hora de atraso, o chefe da guarda veio a seu encontro, correndo:

 Majestade! Estão aí dois contendores!

 Vamos ver, - disse o rei.

O soberano entrou precipitadamente na sala de audiências, e levaram à sua presença dois homens e uma mulher idosa. Os dois homens que pareciam muito irritados, um contra o outro, expuseram, bem ou mal, constantemente interrompidos pela mulher, a questão que os levava ao tribunal.

Um daqueles homens partira, trinta anos antes, para um país longínquo, onde se casou com uma moça; tendo morrido rapidamente a supracitada jovem, ele deixou o país em questão e regressou à cidade natal. Trinta anos depois desse acontecimento, a mãe da moça falecida chegou a Jerusalém e procurou saber onde morava o seu genro. Aconteceu, porém, que na localidade residiam dois homens, portadores do mesmo nome e que eram, mais ou menos, da mesma idade.

Grande perplexidade. Cada um desses homens dizia à mulher: “Eu não a conheço!” Um de boa e outro de má fé, evidentemente.

Qual seria o verdadeiro genro? O rei Salomão concentrou-se durante alguns instantes e, segundo a jurisprudência que tanto o notabilizara, mandou que trouxessem um grande sabre para dividir em dois o corpo da mulher. Mas no momento em que o estribeiro decepante ia praticar o seu ofício, um dos homens gritou:

 Não, não! Isso é muito desumano!

Enquanto o outro dizia:

 Mas, em todo caso, é uma solução!

Salomão aproximou-se deste último, pôs-lhe a mão sobre o ombro e disse-lhe:

 Tu és o verdadeiro genro!

E entregou-lhe a sogra, de corpo inteiro.


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