Nem brasileiros, argentinos, uruguaios
e chilenos se entendem. Tudo indica que não existe no Rio Grande do Sul uma
etimologia mais controvertida do que a relacionada ao vocábulo “gaúcho”. Até um
dos expoentes da nossa cultura do século passado, Augusto Meyer (1902-1970),
realizou minuciosas pesquisas, apontou inúmeras versões, mas deu o assunto por
encerrado sem adotar nenhuma.
O mineiro Guilhermino César
(1908-1993), um rio-grandense por adoção, viu o caso como um “quebra-cabeça”.
Na década de 1920, o mestre João Ribeiro já chegara a uma conclusão semelhante
quando o considerou como um “problema insolúvel”. Mais recentemente, quando
perguntaram a Barbosa Lessa sobre a origem da palavra, ele respondeu: “Ninguém
sabe”. Citou o professor Fernando Assunção, que reporta ao francês “gauche”
(esquerdo), mas sem muita convicção.
Dois estrangeiros, nossos vizinhos e
interessados diretamente na matéria, foram um pouco além. O argentino Costa
Alvarez – conforme pesquisas de Carlos Reverbel – chegou a encontrar 25
etimologias da palavra, e o uruguaio Buenaventura Caviglia Hijo ampliou esse
número para 36. Segundo ele, a origem pode ter vindo de nada menos que 17
idiomas, do castelhano ao latim, passando por tupi-guarani e árabe. No final,
Hijo conclui que gaúcho vem de “garrucho”, portador de garrocha (a nossa
garrucha).
Temos ainda mais duas opiniões de
estrangeiros. O chileno Rodolfo Lenz indica a palavra araucana “cachu” ou
“cauchu” como possível origem. E o argentino Paul Groussac optou por “guacho”.
Em resumo, até agora, parece que ninguém se entendeu. Sobre um aspecto do caso,
porém, não pairam dúvidas. Durante mais de um século, a palavra “gaúcho” teve
uma conotação nada simpática: marginal, ladrão, vagabundo, contrabandista,
coureador, aquele que saqueava fazendas só para roubar o couro das reses, que
chegou a valer quatro vezes o preço do gado em pé. Hoje , a palavra é
tratada com orgulho e respeito por todos os rio-grandenses e está presente, em
tom maior, no nosso cancioneiro: “Eu sou gaúcho, eu sou do Sul…”.
(Do Almanaque Gaúcho de Zero Hora)
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