quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Paródias de poemas V

Outro poema, outra paródia...

Dos versos de Francisco Otaviano*, um dos poetas menores da era romântica do Brasil, o que ficou mais conhecido e é citado mesmo por quem jamais lhe conheceu o autor, é a sextilha seguinte:

Ilusões da vida

Quem passou pela vida em branca nuvem,
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu!

A paródia

Quem passou numa casa o dia inteiro,
E das carteiras o pó não sacudiu,
Quem nunca de manhã lavou tinteiro,
E o gosto de um “carão! Nunca sentiu,
Foi de caixeiro espectro e não caixeiro,
Veio ver se servia e não serviu!

E ainda:

Quem passou na cacimba a noite inteira,
E só de manhã cedo se tirou,
Quem foi ver se passava na carreira
E pra dentro da mesma escorregou,
Foi o gato da minha cozinheira,
Que foi ver se nadava e não nadou!

Sobre a influencia destes versos, o poeta Vinicius de Moraes, fez a composição: como dizia o poeta...

Como Dizia o Poeta
(Francisco Otaviano)

Vinicius de Moraes

Quem já passou por essa vida e não viveu.
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu,
Porque a vida só se dá pra quem se deu,
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu.
Ah, quem nunca curtiu uma paixão,

nunca vai ter nada, não.

Nao há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor, que não compensa,

é melhor que a solidão.
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair,
Pra que somar se a gente pode dividir.


Eu, francamente, já não quero nem saber
De quem não vai,

porque tem medo de sofrer.
Ai de quem não rasga o coração, 

esse não vai ter perdão. 

*Francisco Otaviano de Almeida Rosa, advogado, jornalista, político, diplomata e poeta, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 26 de junho de 1825, e faleceu na mesma cidade em 28 de junho de 1884. É o patrono da Cadeira n. 13, por escolha do fundador Visconde de Taunay.



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