Que seu caixão fosse transportado pelas mãos dos médicos da
época;
Que fosse espalhado no caminho
até seu túmulo os seus tesouros conquistados como prata, ouro, e pedras
preciosas;
Que suas duas mãos fossem deixadas balançando no ar, fora do
caixão, à vista de todos.
Um dos seus generais, admirado
com esses desejos insólitos, perguntou a Alexandre quais as razões desses
pedidos e ele explicou:
Quero que os mais iminentes
médicos carreguem meu caixão para mostrar que eles não têm poder de cura perante a morte;
Quero que o chão seja coberto pelos meus tesouros para que as pessoas possam
ver que os bens materiais aqui conquistados, aqui permanecem;
Quero que minhas mãos balancem ao vento para que as pessoas possam ver que de
mãos vazias viemos e de mãos vazias partimos.
Onde jaz Alexandre, o Grande?
Onde esta a sepultura do venerado
conquistador da Antiguidade? Em Mênfis, ou seja, em Saqqara? No oásis de Siwa
ou em Bahariya? Na Macedônia, em Verghina? No Líbano? Em Istambul? Ou em
Londres? Talvez Veneza? Ultima hipótese: Alexandria – mas onde procurar nessa
cidade imensa?
Para enxergar com mais clareza, é
preciso retornar à Babilônia, em 10 de junho de 323 a .C. Nesse dia, Alexandre
morreu com 32 anos. Os sintomas de sua doença descritos por autores antigos
sugerem que o soberano pode ter tido febre tifóide ou malária.
Seus generais demoram dias para
entrar em um acordo sobre sua sucessão (ele não tinha herdeiros) e sepultura.
Ainda assim, os embalsamadores encontraram o corpo de Alexandre em perfeito
estado de conservação.
Milagre inventado para insinuar que o
rei já era mais do que um homem? Hoje isso se explica como um coma profundo,
típico de fase final da malária ou de febre tifóide. Alexandre ainda estava
clinicamente vivo dias depois de sua morte oficial, e só morrera por ocasião da
chegada dos embalsamadores.
Começavam os tempos de traição entre
os herdeiros de Alexandre. Naquele momento, os homens fortes eram o conselheiro
Perdicas e os administradores Crateros e Antípatro, mas ambos moravam bem longe
da capital. Também havia Ptolomeu, filho de Lagos; Eumênio, arquivista de
Alexandre; e Lisímaco, soldado renomado.
Sem abrir mão da manutenção de um
império unitário, eles repartiram entre si os territórios. Ptolomeu obteve o
Egito, para onde se dirigiu sem demora com um destacamento do exército.
Onde Alexandre seria enterrado? Os
macedônios planejaram enviar o esquife até Aigai (atual Verghina), na
Macedônia, onde se encontrava o cemitério da família real. Foi por isso que
Perdicas chamou os embalsamadores: tratava-se e preparar o corpo do rei para
esperar muitos meses pela partida e suportar uma vigem igualmente demorada.
Para o transporte, foi fabricado um rico
carro funerário. O sarcófago tinha a forma do corpo do morto e era de ouro
maciço. O cortejo fúnebre partiu em meados de 322 a .C.
Perdicas confiara a condição do
cortejo a um amigo. Erro fatal: Ptolomeu, que já controlava o Egito, vendo a
procissão sem grande líder e, para reaver o esquife, lançou uma expedição, que
fracassou. Ele foi morto diante de Mênfis, sinal de que o corpo de Alexandre
estava na cidade. Os restos mortais do príncipe ficaram durante meio século na
capital o antigo Egito. Ptolomeu teria colocado Alexandre em uma tumba
faraônica, reservada a Nectanebo II, que havia abandonado o Egito em 341 a .C., fugindo de invasões
persas.
Como os anos, Ptolomeu I tornou-se
rei de Alexandria, e é de supor seu desejo de, nessa nova condição, sepultar
ali Alexandre, o Grande. O translado desde Mênfis foi operado por Ptolomeu II,
filho de Ptolomeu, perto do ano de 280 a .C. Até hoje, ninguém conhece a
localização exata dessa tumba, mas sabe-se que Alexandre, passou a ser venerado
como um deus, com cerimônias anuais em sua homenagem.
Cerca de meio século depois, eis que
Ptolomeu IV, conhecido como Filopator, decidiu construir um grande cemitério
dinástico ao redor da tumba de Alexandre, que mudou de lugar e foi
reconstruída.
Assim, o corpo do rei se tornou o
signo da legitimidade dos Ptolomeus e da importância da cidade. A nova
necrópole real se tornou um centro de peregrinação de visitantes estrangeiros.
Os mais prestigiosos foram os grandes romanos que sonhavam ser um novo
Alexandre: Julio Cesar, em 48 a .C.,
entres eles.
O primeiro imperador romano, Otávio
Augusto, visitou o local em 30
a .C., logo depois da vitória de Ácio sobre Marco Antônio
e Cleópatra. Os despojos de Alexandre foram mostrados ao vencedor e, nessa
operação, o cadáver perdeu uma parte do nariz. Nos anos seguintes, outros
imperadores romanos, como Calígula, foram prestar homenagem àquele que
consideravam seu modelo.
O túmulo de Alexandre foi destruído
em várias etapas, entre os anos de 240 a 391. O pior evento foi no dia 21 de julho
de 365, quando um violento terremoto, seguido de um tsunami devastador, arrasou
Alexandria.
Em 391, explodiu uma revolta cristã e
antipagã que levou à destruição do grande templo de Serápis e talvez tenha
atingido o que restava do mausoléu. Uma alusão recentemente descoberta em um
discurso do orador Libânio indicaria que o corpo foi tirado da tumba para ser
exposto publicamente uma ultima vez.
A partir de então, a tumba de Alexandre
deixou a Alexandria real para penetrar no imaginário de seus habitantes e de
seus visitantes.
Hoje há 160
propostas de identificação da tumba. E o mistério continua
Fonte: revista História Viva
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