terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Três últimos desejos de Alexandre, o Grande...



Que seu caixão fosse transportado pelas mãos dos médicos da época;

Que fosse espalhado no caminho até seu túmulo os seus tesouros conquistados como prata, ouro, e pedras preciosas;

Que suas duas mãos fossem deixadas balançando no ar, fora do caixão, à vista de todos.

Um dos seus generais, admirado com esses desejos insólitos, perguntou a Alexandre quais as razões desses pedidos e ele explicou:

Quero que os mais iminentes médicos carreguem meu caixão para mostrar que eles não têm poder de cura perante a morte;

Quero que o chão seja coberto pelos meus tesouros para que as pessoas possam ver que os bens materiais aqui conquistados, aqui permanecem;

Quero que minhas mãos balancem ao vento para que as pessoas possam ver que de mãos vazias viemos e de mãos vazias partimos.

Onde jaz Alexandre, o Grande?

Onde esta a sepultura do venerado conquistador da Antiguidade? Em Mênfis, ou seja, em Saqqara? No oásis de Siwa ou em Bahariya? Na Macedônia, em Verghina? No Líbano? Em Istambul? Ou em Londres? Talvez Veneza? Ultima hipótese: Alexandria – mas onde procurar nessa cidade imensa?

Para enxergar com mais clareza, é preciso retornar à Babilônia, em 10 de junho de 323 a.C. Nesse dia, Alexandre morreu com 32 anos. Os sintomas de sua doença descritos por autores antigos sugerem que o soberano pode ter tido febre tifóide ou malária.

Seus generais demoram dias para entrar em um acordo sobre sua sucessão (ele não tinha herdeiros) e sepultura. Ainda assim, os embalsamadores encontraram o corpo de Alexandre em perfeito estado de conservação.

Milagre inventado para insinuar que o rei já era mais do que um homem? Hoje isso se explica como um coma profundo, típico de fase final da malária ou de febre tifóide. Alexandre ainda estava clinicamente vivo dias depois de sua morte oficial, e só morrera por ocasião da chegada dos embalsamadores.

Começavam os tempos de traição entre os herdeiros de Alexandre. Naquele momento, os homens fortes eram o conselheiro Perdicas e os administradores Crateros e Antípatro, mas ambos moravam bem longe da capital. Também havia Ptolomeu, filho de Lagos; Eumênio, arquivista de Alexandre; e Lisímaco, soldado renomado.

Sem abrir mão da manutenção de um império unitário, eles repartiram entre si os territórios. Ptolomeu obteve o Egito, para onde se dirigiu sem demora com um destacamento do exército.

Onde Alexandre seria enterrado? Os macedônios planejaram enviar o esquife até Aigai (atual Verghina), na Macedônia, onde se encontrava o cemitério da família real. Foi por isso que Perdicas chamou os embalsamadores: tratava-se e preparar o corpo do rei para esperar muitos meses pela partida e suportar uma vigem igualmente demorada.

Para o transporte, foi fabricado um rico carro funerário. O sarcófago tinha a forma do corpo do morto e era de ouro maciço. O cortejo fúnebre partiu em meados de 322 a.C.

Perdicas confiara a condição do cortejo a um amigo. Erro fatal: Ptolomeu, que já controlava o Egito, vendo a procissão sem grande líder e, para reaver o esquife, lançou uma expedição, que fracassou. Ele foi morto diante de Mênfis, sinal de que o corpo de Alexandre estava na cidade. Os restos mortais do príncipe ficaram durante meio século na capital o antigo Egito. Ptolomeu teria colocado Alexandre em uma tumba faraônica, reservada a Nectanebo II, que havia abandonado o Egito em 341 a.C., fugindo de invasões persas.

Como os anos, Ptolomeu I tornou-se rei de Alexandria, e é de supor seu desejo de, nessa nova condição, sepultar ali Alexandre, o Grande. O translado desde Mênfis foi operado por Ptolomeu II, filho de Ptolomeu, perto do ano de 280 a.C. Até hoje, ninguém conhece a localização exata dessa tumba, mas sabe-se que Alexandre, passou a ser venerado como um deus, com cerimônias anuais em sua homenagem.

Cerca de meio século depois, eis que Ptolomeu IV, conhecido como Filopator, decidiu construir um grande cemitério dinástico ao redor da tumba de Alexandre, que mudou de lugar e foi reconstruída.

Assim, o corpo do rei se tornou o signo da legitimidade dos Ptolomeus e da importância da cidade. A nova necrópole real se tornou um centro de peregrinação de visitantes estrangeiros. Os mais prestigiosos foram os grandes romanos que sonhavam ser um novo Alexandre: Julio Cesar, em 48 a.C., entres eles.

O primeiro imperador romano, Otávio Augusto, visitou o local em 30 a.C., logo depois da vitória de Ácio sobre Marco Antônio e Cleópatra. Os despojos de Alexandre foram mostrados ao vencedor e, nessa operação, o cadáver perdeu uma parte do nariz. Nos anos seguintes, outros imperadores romanos, como Calígula, foram prestar homenagem àquele que consideravam seu modelo.

O túmulo de Alexandre foi destruído em várias etapas, entre os anos de 240 a 391. O pior evento foi no dia 21 de julho de 365, quando um violento terremoto, seguido de um tsunami devastador, arrasou Alexandria.

Em 391, explodiu uma revolta cristã e antipagã que levou à destruição do grande templo de Serápis e talvez tenha atingido o que restava do mausoléu. Uma alusão recentemente descoberta em um discurso do orador Libânio indicaria que o corpo foi tirado da tumba para ser exposto publicamente uma ultima vez.

A partir de então, a tumba de Alexandre deixou a Alexandria real para penetrar no imaginário de seus habitantes e de seus visitantes.

Hoje há 160 propostas de identificação da tumba. E o mistério continua

Fonte: revista História Viva


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