sábado, 6 de fevereiro de 2016

Dançar de rosto colado



Rosto colado é coisa que os jovens de hoje não conhecem como preliminares de um ato de sedução. Nesses bailes de antigamente (que palavra dolorosa!), os jovens rastreavam o salão em busca da garota ideal para iniciar um romance.

Caso ela fosse localizada na mesa com os pais, nossas pernas tremiam. Uma cuba libre talvez fosse o combustível para  encorajar o ato de atravessar o salão e chegar na mesa com o convite, formalismo, “Vamos dançar?”.

O sim dela poderia significar que também queria dançar, pois os olhos já tinham se cruzado num momento do baile, mas poderia ser apenas o sim formal para não dar um cano no rapaz audacioso. Nesse último caso, a regra que a jovem aprendeu em casa com a mãe casamenteira, era dançar no máximo três para não significar que havia outro interesse a não ser o da  boa educação.

No entanto, se pintasse um clima ai, Jesus! – as danças se prolongariam por todo o baile e, na hora exata, os rostos se colavam e a sedução começava com uma conversa de  ouvido. O ato de seduzir transformava-se numa enciclopédia romântica que valia até mentiras ingênuas.

Corta para 2016...

Não há mais rosto colado, não há mais bailes, os conjuntos melódicos são apenas boas lembranças e os clubes estão fechando seus salões que tinham a sua boate para os jovens. O beijo roubado, quando as luzes diminuíam de intensidade, era, talvez, o único da noite. Hoje, as garotas ficam apostando quem beija mais garotos numa noite e vulgarizou-se o ato mais sublime de um início de conquista.

O baile funk, mais que uma reunião dos jovens de hoje, é um convescote de traficantes em busca de novos babacas para o início de uma vida de vícios. Vale o mesmo para a festa reive e os incidentes estão aí na imprensa para que o colunista não passe por um velho recalcado. A sedução transformou-se em agressão sexual, para ambos os lados.

Sem crack, sem pó, sem baseado, não há sequer uma aproximação de pessoas de sexo diferente. Rosto colado nem mesmo quando o DJ aposta em algo lento para descansar os dedos. Não se dança mais, os requebros e os pulos substituíramos passos cadenciados. O barulho do bate-estaca acabou com o diálogo. Sem diálogo não há sedução.

Fim de papo

Está bem, somos velhos quando falamos em rosto colado. Mas ninguém pode roubar de nossa memória um tempo mágico onde o cavalheirismo de uma dança fazia-nos flutuar por salões com pessoas especiais. E quem não dançou uma vez na vida de rosto colado não sabe o que perdeu.

(Rogério Mendelski)




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