Rosto colado é coisa que os jovens de
hoje não conhecem como preliminares de um ato de sedução. Nesses bailes de antigamente
(que palavra dolorosa!), os jovens rastreavam o salão em busca da garota ideal
para iniciar um romance.
Caso ela fosse localizada na mesa com
os pais, nossas pernas tremiam. Uma cuba libre talvez fosse o combustível
para encorajar o ato de atravessar o
salão e chegar na mesa com o convite, formalismo, “Vamos dançar?”.
O “sim” dela poderia
significar que também queria dançar, pois os olhos já tinham se cruzado num
momento do baile, mas poderia ser apenas o “sim” formal para não dar
um “cano” no rapaz audacioso. Nesse último caso, a regra que a jovem
aprendeu em casa com a mãe casamenteira, era dançar no máximo três para não
significar que havia outro interesse a não ser o da boa educação.
No entanto, se “pintasse um
clima” ai, Jesus! – as danças se prolongariam por todo o baile e, na hora
exata, os rostos se colavam e a sedução começava com uma conversa de ouvido. O ato de seduzir transformava-se numa
enciclopédia romântica que valia até mentiras ingênuas.
Corta para 2016...
Não há mais rosto colado, não há mais
bailes, os conjuntos melódicos são apenas boas lembranças e os clubes estão
fechando seus salões que tinham a sua boate para os jovens. O beijo roubado,
quando as luzes diminuíam de intensidade, era, talvez, o único da noite. Hoje,
as garotas ficam apostando quem beija mais garotos numa noite e vulgarizou-se o
ato mais sublime de um início de conquista.
O baile funk, mais que uma reunião
dos jovens de hoje, é um convescote de traficantes em busca de novos babacas
para o início de uma vida de vícios. Vale o mesmo para a festa reive e os incidentes
estão aí na imprensa para que o colunista não passe por um “velho recalcado”.
A sedução transformou-se em agressão sexual, para ambos os lados.
Sem crack, sem pó, sem baseado, não
há sequer uma aproximação de pessoas de sexo diferente. Rosto colado nem mesmo
quando o DJ aposta em algo lento para descansar os dedos. Não se dança mais, os
requebros e os pulos substituíramos passos cadenciados. O barulho do
bate-estaca acabou com o diálogo. Sem diálogo não há sedução.
Fim de papo
Está bem, somos velhos quando falamos em
“rosto colado”. Mas ninguém pode roubar de nossa memória um tempo
mágico onde o cavalheirismo de uma dança fazia-nos flutuar por salões com
pessoas especiais. E quem não dançou uma vez na vida de rosto colado não sabe o
que perdeu.
(Rogério Mendelski)
É exatamente isso, tempo mágico.
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