Leonardo Boff
Júpiter, o deus criador e seu filho
Hermes, quiseram saber como andava o espírito de hospitalidade entre os
humanos. Travestiram-se de pobres e começaram a peregrinar pelo mundo afora.
Foram maltratados por uns, expulsos por outros.
Depois de muito peregrinar tiveram de
cruzar por uma terra cujos habitantes eram conhecidos por sua rudeza. As
divindades sequer pensavam em pedir hospitalidade. Mas, à noitinha, passaram
por uma choupana onde morava um casal de velhinhos, Báucis e Filêmon. Qual não
foi a surpresa, quando Filêmon saiu à porta e sorridente foi logo dizendo:
Forasteiros, vocês devem estar exaustos e com fome. Entrem. A casa é pobre, mas
aberta para acolhê-los.
Báucis ofereceu-lhes logo um assento
enquanto Filêmon acendeu o fogo. Báucis esquentou água e começou a lavar os pés
dos andarilhos. Com os legumes e um pouco de toucinho fizeram uma sopa
suculenta. Por fim, ofereceram a própria cama para que os forasteiros pudessem
descansar.
Nisso sobreveio grande tempestade. As
águas subiram rapidamente e ameaçavam a região. Quando Báucis e Filêmon
quiseram socorrer os vizinhos, ocorreu grande transformação: a tempestade parou
e de repente a pequena choupana foi transformada num luzidio templo dourado.
Báucis e Filêmon ficaram estarrecidos. Júpiter foi logo dizendo: por causa da
hospitalidade quero atender um pedido que fizerem. Báucis e Filêmon disseram
unissonamente: o nosso desejo é servir-vos nesse templo por toda a vida. Hermes
não ficou atrás: quero que façam também um pedido. E eles, como se tivessem
combinado responderam: depois de tanto amor gostaríamos de morrer juntos.
Seus pedidos foram atendidos. Um dia,
quando estavam sentados no átrio, de repente Filêmon viu que o corpo de Báucis
se revestia de folhagens floridas e que o corpo de Filêmon também se cobria de
folhas verdes. Mal puderam dizer adeus um ao outro. Filêmon foi transformado
num enorme carvalho e Báucis numa frondosa Tília. As copas e os galhos se
entrelaçaram no alto. E assim, abraçados, ficaram unidos para sempre. Os
velhos, até hoje, repetem a lição: quem hospeda forasteiros, hospeda a Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário