quinta-feira, 21 de abril de 2016

Carta do imperador Vespasiano

(41 d.C.) para seu filho Tito (79 d.C.)


Busto de Vespasiano, cópia no Museu Pushkin,
baseado em original no Museu do Louvre

“Onde o povo prefere pousar seu clunis:
 numa privada, num banco de escola ou num estádio?”

(Clunis são nádegas em latim.)

22 de junho de 79 d.C.

“Tito, meu filho, estou morrendo. Logo eu serei pó e tu, imperador. Espero que os deuses te ajudem nesta árdua tarefa, afastando as tempestades e os inimigos, acalmando os vulcões e os críticos. De minha parte, só o que posso fazer é dar-te um conselho: não pare a construção do Colosseum*. Em menos de um ano ele ficará pronto, dando-te muitas alegrias e infinita memória. Alguns senadores o criticarão, dizendo que deveríamos investir em esgotos e escolas. Não dê ouvidos a esses poucos. Pensa: onde o povo prefere pousar seu clunis: numa privada, num banco de escola ou num estádio? Num estádio, é claro.

Será uma imensa propaganda para ti. Ele ficará no coração de Roma por omnia saecula saeculorum, e sempre que o olharem dirão: ‘Estás vendo este colosso? Foi Vespasiano quem o começou e Tito quem o inaugurou’.

Outra vantagem do Colosseum: ao erguê-lo, teremos repassado dinheiro público aos nossos amigos construtores, que tanto nos ajudam nos momentos de precisão. ‘Moralistas e loucos dirão que mais certo seria reformar as velhas arenas. Mas todos sabem que é melhor usar roupas novas que remendadas. Vel caeco appareat (Até um cego vê isso). Portanto, deves construir esse estádio em Roma.

Enfim, meu filho, desejo-te sorte e deixo-te uma frase: Ad captandum vulgus, panem et circenses (Para seduzir o povo, pão e circo). Esperarei por ti ao lado de Júpiter”.

*ou Coliseus, no latim tardio.

A carta acima, assim como o comentário abaixo,
foram publicados no site da Folha UOL:

Vespasiano morreu no dia seguinte à carta. Tito não inaugurou o Coliseu com um jogo da Copa, mas com cem dias de festa. Tanto o pai quanto o filho foram deificados pelo senado romano.

Igualmente estão sendo construídos estádios monumentais em Natal, Cuiabá e Manaus, mesmo que nem haja um público suficiente por esses lugares. Só para você ter uma ideia, o campeonato de Mato Grosso teve média inferior a mil pessoas por partida, e a Arena Pantanal, em Cuiabá, terá capacidade para 43.600 espectadores. Em Recife haverá um novo estádio, mas todo o grande clube já teme seu. Pior será arena de Manaus: terá 47 mil lugares e, no campeonato estadual, juntando os 80 jogos que houve, o público total foi de 37.971.

As gentes da Terra Papagalli não ligaram nem mesmo para o exemplo dos sul-africanos, que construíram cinco novos estádios e quatro são deficitários.

O pão e o circo continuam...


O Coliseu foi construído em um local que havia sido devastado pelo Grande Incêndio de Roma durante o governo de Nero. As obras, então, serviram para animar a população e também para integrar a tão famosa política do pão e circo. A construção passaria a abrigar os mais interessantes espetáculos da época, como luta de gladiadores e execuções. Para celebrar o fim das obras, Tito ordenou jogos iniciais, no ano 80. O fim do governo de Tito foi seguido por catástrofes como erupção, novo incêndio em Roma e surto de peste. Com a situação apaziguada, iniciaram-se cem dias de jogos para entreter a população e foi aí que o Coliseu foi tomado de uma série de atrações.

O Coliseu também é chamado de Anfiteatro Flaviano em função de uma grande estátua de Nero que ficava próximo ao local. Durante aproximadamente 500 anos sua utilização foi intensa. O monumento foi a sede principal dos espetáculos até o governo do imperador Honório, no século V. Nesta época, o Coliseu foi danificado por um terremoto que exigiu uma grande reforma do imperador Valentiniano III. O último registro que dá conta de sua utilização é referente ao século VI. A partir daí, já iniciando a Idade Média, o Coliseu deixou de ser local de espetáculos e passou a ser utilizado para habitação, oficina, forte, pedreira, sede de ordens religiosas e templo cristão. Ao longo dos séculos XV e XVI, foi saqueado muitas vezes e, assim, perdeu-se muito dos materiais nobres que dele fizeram parte durante muito tempo. No século seguinte, XVII, o papa Bento XIV o declarou como lugar sagrado.

Por muito tempo, o Coliseu serviu de propaganda e difusão da filosofia da civilização romana. Hoje, trata-se da maior atração turística da cidade de Roma. Encontra-se, atualmente, em ruínas decorrentes de terremotos e pilhagens, mas ainda é o grande símbolo do Império Romano. Declarado como uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno, está passando por um intenso processo de restauração.


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