(41 d.C.) para seu filho Tito (79 d.C.)
“Onde o povo prefere pousar seu clunis:
numa privada, num banco de escola ou num estádio?”
numa privada, num banco de escola ou num estádio?”
(Clunis são nádegas
em latim.)
22 de junho de 79
d.C.
“Tito, meu filho, estou
morrendo. Logo eu serei pó e tu, imperador. Espero que os deuses te ajudem
nesta árdua tarefa, afastando as tempestades e os inimigos, acalmando os
vulcões e os críticos. De minha parte, só o que posso fazer é dar-te um
conselho: não pare a construção do Colosseum*. Em menos de um ano ele ficará
pronto, dando-te muitas alegrias e infinita memória. Alguns senadores o
criticarão, dizendo que deveríamos investir em esgotos e escolas. Não dê
ouvidos a esses poucos. Pensa: onde o povo prefere pousar seu clunis: numa
privada, num banco de escola ou num estádio? Num estádio, é claro.
Será uma imensa
propaganda para ti. Ele ficará no coração de Roma por omnia saecula saeculorum,
e sempre que o olharem dirão: ‘Estás vendo este colosso? Foi Vespasiano quem o
começou e Tito quem o inaugurou’.
Outra vantagem do
Colosseum: ao erguê-lo, teremos repassado dinheiro público aos nossos amigos
construtores, que tanto nos ajudam nos momentos de precisão. ‘Moralistas e
loucos dirão que mais certo seria reformar as velhas arenas. Mas todos sabem
que é melhor usar roupas novas que remendadas. Vel caeco appareat (Até um cego
vê isso). Portanto, deves construir esse estádio em Roma.
Enfim, meu filho,
desejo-te sorte e deixo-te uma frase: Ad captandum vulgus, panem et circenses
(Para seduzir o povo, pão e circo). Esperarei por ti ao lado de Júpiter”.
*ou Coliseus, no latim tardio.
A carta acima, assim
como o comentário abaixo,
foram publicados no site da Folha UOL:
foram publicados no site da Folha UOL:
Vespasiano morreu no dia seguinte à
carta. Tito não inaugurou o Coliseu com um jogo da Copa, mas com cem dias de
festa. Tanto o pai quanto o filho foram deificados pelo senado romano.
Igualmente estão sendo construídos
estádios monumentais em Natal, Cuiabá e Manaus, mesmo que nem haja um público
suficiente por esses lugares. Só para você ter uma ideia, o campeonato de Mato
Grosso teve média inferior a mil pessoas por partida, e a Arena Pantanal, em
Cuiabá, terá capacidade para 43.600 espectadores. Em Recife haverá um novo
estádio, mas todo o grande clube já teme seu. Pior será arena de Manaus: terá
47 mil lugares e, no campeonato estadual, juntando os 80 jogos que houve, o
público total foi de 37.971.
As gentes da Terra Papagalli não
ligaram nem mesmo para o exemplo dos sul-africanos, que construíram cinco novos
estádios e quatro são deficitários.
O pão e o
circo continuam...
O Coliseu foi construído em um
local que havia sido devastado pelo Grande Incêndio de Roma durante o
governo de Nero. As obras, então, serviram para animar a população e
também para integrar a tão famosa política do pão e circo. A construção
passaria a abrigar os mais interessantes espetáculos da época, como luta de gladiadores e
execuções. Para celebrar o fim das obras, Tito ordenou jogos iniciais, no ano
80. O fim do governo de Tito foi seguido por catástrofes como erupção, novo
incêndio em Roma e surto de peste. Com a situação apaziguada, iniciaram-se cem
dias de jogos para entreter a população e foi aí que o Coliseu foi tomado de
uma série de atrações.
O Coliseu também é chamado de
Anfiteatro Flaviano em função de uma grande estátua de Nero que ficava próximo
ao local. Durante aproximadamente 500 anos sua utilização foi intensa. O
monumento foi a sede principal dos espetáculos até o governo do imperador
Honório, no século V. Nesta época, o Coliseu foi danificado por um terremoto
que exigiu uma grande reforma do imperador Valentiniano III. O último registro
que dá conta de sua utilização é referente ao século VI. A partir daí, já
iniciando a Idade Média, o Coliseu deixou de ser local de espetáculos e passou
a ser utilizado para habitação, oficina, forte, pedreira, sede de ordens
religiosas e templo cristão. Ao longo dos séculos XV e XVI, foi saqueado muitas
vezes e, assim, perdeu-se muito dos materiais nobres que dele fizeram parte
durante muito tempo. No século seguinte, XVII, o papa Bento XIV o declarou como
lugar sagrado.
Por muito tempo, o Coliseu serviu
de propaganda e difusão da filosofia da civilização romana. Hoje, trata-se da
maior atração turística da cidade de Roma. Encontra-se, atualmente, em ruínas
decorrentes de terremotos e pilhagens, mas ainda é o grande símbolo do Império
Romano. Declarado como uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno, está
passando por um intenso processo de restauração.
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