1° Ele, quase sempre, nasceu por
falta de planejamento familiar. Não foi esperado, é apenas mais um numa família
que não tinha condição afetiva, financeira, moral e religiosa para educá-lo num
mundo cada vez mais competitivo.
2° Não foi devidamente instruído para a vida. Nunca teve ambição, propósito profissional e foi mal educado por
seus pais, que também nunca tiveram educação.
2° Tudo que quis na vida
conseguiu, apesar das dificuldades financeiras de seus pais, com facilidade.
Quando quis tênis, teve tênis; quando quis um boné novo, teve o boné. No Natal,
implorou e consegui um telefone celular. Fez tatuagens berrantes em seu corpo,
tudo com a aprovação dos pais.
3° Na escola foi sempre um
péssimo aluno: faltou, foi reprovado muitas vezes. Culpava a escola e seus
professores. Dormia tarde da noite, acordava quase ao meio-dia. Nunca foi
religioso, como seus pais. Dengoso, inseguro, mimado, querendo, mais tarde, ter
tudo que achava que a vida devia lhe dar.
4° Mais tarde, quase adulto, vai
andar em más companhias. Terá seguido um líder negativo. Vai experimentar
drogas leves que algum “amigo” vai lhe oferecer. Um desses “amigos” vai lhe
propor um trabalho leve, ficar na campana para um assalto leve, coisa boba, sem
importância. Ele vai, vai ganhar uns trocados no mole, e vai perceber que é
muito fácil conseguir dinheiro de otários, que somos nós, cidadãos de bem.
5° Em casa, ninguém estranha de
como alguém, como seu filho, tem dinheiro, roupas novas e não estuda nem
trabalha.
6° Depois, usando drogas mais
pesadas, já armado com seu primeiro revólver, vai ter sonhos mais altos. Com
uma companheira, do mesmo meio marginal dele, vai querer ter mais dinheiro e
vai, também, ter filhos como seus pais o tiveram.
7° Drogado, nervoso, com o dedo
no gatilho de uma arma sem manutenção, vai praticar um assalto, julgando que a
vítima vai reagir, pratica seu primeiro assassinato.
8° Se ele um dia for preso, nada
vai mudar na sua vida. Mesmo que tenha uma pena reduzida, vai se tornar mais um
albergado, praticando assaltos de dia e dormindo numa prisão-albergue à noite.
9° Ele, que começou roubando
celulares de mulheres em paradas de ônibus, depois roubando operários, que
ainda sonham em ser cidadãos comuns, em coletivos da madrugada. Foi roubar
carros, que é mais fácil, para trocar por drogas, que rendem muito mais.
10° Até que um dia, ele,
levemente drogado, estressado e auto-suficiente, vai para mais ato meliante de
sua vida. Num bar, ou restaurante, ou lotação, sem muito cuidado, pois ele já
fez isso dezenas de vezes, no fundo do bar ou do lotação, alguém armado,
precavido, vai atirar nele. Vai morrer de bobeira. Marginal não se aposenta,
não sai do crime, não se recupera. Ele tem vida curta, pois a única que coisa
fez em toda a sua pequena estada neste mundo, foi apropria-se de coisas que
nunca lutou decentemente para consegui-las. Seu filho, provavelmente, irá pelo
mesmo caminho...
P.S. Dei aulas, durante muitos
anos, em uma escola pública de Porto Alegre. No diurno de 90 alunos, 90 iam até
o final do ano. No noturno, com alunos mais velhos e desempregados, de 90
alunos, 30 iam até o final do ano. A maioria desistia por coisas banais:
desinteresse, falta de ambição, vontade de ficar em casa sem fazer nada. Seriam
presas fáceis para a marginalidade.
Texto de Nilo da
Silva Moraes
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