sábado, 23 de abril de 2016

Diálogos entre duas pessoas chatas



- Querido, você me acha bonita?

- Eu não diria bonita, pois se trata de um conceito adotado pelas classes dominantes para classificar animais humanos dentro de padrões de beleza culturalmente pré-estabelecidos.

- Isto quer dizer que sou feia?

- Comesticamente diferente é o termo mais adequado.

- Amor, você ainda me ama?

- O amor é um sentimento inventado pela burguesia com intuito de subjugar o individuo, em um único modo de pensar da sociedade, tirando-lhes a razão e o senso crítico.

- E daí?

– Daí que nutro por você um sentimento de co-participação em interesses de ordem habitacional, econômica e sexual.

– O quê? Quer dizer que você me quer como faxineira e prostituta?

– Não se diz faxineira, e sim higienizadora ambiental. E tratar parceiras sexuais alugadas como prostitutas não e politicamente correto...

– Você deve estar louco!

– Emocionalmente fora do padrão.

– Bem que me avisaram quer você era um chato!

– Chato não, pessoa interessante que pensa de maneira diferente.

– Como fui cega...

– Desprovida de capacidade visual é o mais correto.

– Não sei por que casei com você!

– Você não sabe porque se submeteu a uma prostituição oficializada.

– Idiota!

– Pessoa com ideia fixa.

– Pra mim chega! Vou procurar um amante que me queira.

– Você não precisa recorrer a esse tipo de relacionamento com padrão não convencional, nós ainda podemos partilhar de uma coexistência saudável como duas pessoas com referências diferenciadas da cultura dominante.

– Prefiro conviver com um lavador de carros a continuar com você!

– Sua preferência em manter coabitação de caráter afetivo com um especialista em aparências de veículos, não lhe dá o direito de comparar opções de meio de sobrevivência alternativo com o meu comportamento que se diferencia dos dogmas do status-quo.

– Ah, por que você não pode ser uma pessoa normal?

– A normalidade é uma convenção imposta.

– Chega, não aguento mais! Quero lhe ver morto!

– O que você deseja e transformar-me num indivíduo metabolicamente inviável.

– Vou pegar meu revólver que está no criado-mudo, ou melhor, sobre o auxiliar doméstico oralmente prejudicado e vou lhe dar um tiro!

– Você não teria coragem de atirar, ou será que teria?

(...depois do tiro...)

– Perdão, querido, eu não queria lhe matar, eu sou uma burra!

– Não tem nada não, querida, você é apenas uma pessoa com uma lógica toda particular... Fui!




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