Pe. Guilherme
Eu
tive fome, e tu deste minha comida ao teu gado de exportação.
Eu
tive fome, e tu continuaste te banqueteando como o ricaço da minha parábola.
Eu
tive fome, e tu plantaste, no lugar do meu feijão, imensidades de
cana-de-açúcar.
Eu
tive fome, e tu fabricaste da cana-de-açúcar combustível para teu automóvel.
Eu
tive fome, e tu mataste com o esgoto da tua fábrica os peixes de nosso rio que
diminuíram tantas vezes minha fome.
Eu
tive fome, e tu destruíste o mato onde eu colhia tanta coisa para comer.
Eu
tive fome, e tu destruíste no óleo 80.000 pintinhos para manter o preço alto.
Eu
tive fome, e tu despejaste no rio milhares de litros de leite, leite salvador
para milhares de vida infantis.
Eu
tive fome, e tu jogaste no lixo toneladas de comida preciosa, sobrando nos
ambientes de luxo.
Eu
tive fome, e tu me expulsaste da minha roça, com teu Projeto Pró-Álcool, para
uma favela da cidade.
Eu
tive fome, e tu vendeste o estoque de nossa comida, por milhões de dólares, na
exportação.
Eu
tive fome, e tu me encheste com armamentos destruidores de civilização.
Eu
tive fome, junto com milhares de criancinhas, e tu deixaste morrer mil delas
por dia só na tua terra, que eu tanto abençoei com a riqueza natural.
Eu
tive fome, e tu não me deste de comer.
A primeira vez que li esse texto foi na 5a.serie; há muitos anos atrás. Lembro bem que fiquei bastante emocionado e impactado, pelo que estava escrito e também por ser de autoria de um padre. Nunca pensei que um dia moraria no Rio de Janeiro. Ano que vem farei 10 anos na Cidade Maravilhosa, e a sensação que tenho quando vejo tanta gente morando e dormindo na rua é a mesma, às vezes pior. A prática e a teoria são tão diferentes e cruéis às vezes...
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