sábado, 9 de abril de 2016

Foi o melhor programa da TV

A mosca


Durante a Semana Santa, na encenação da Vida de Cristo, sob a direção de Chianca Garcia, ocorreu uma situação pitoresca. O programa, ao vivo, transcorria normalmente: Cristo pregado na cruz, Madalena e Maria chorando aos seus pés, sonoplastia perfeita, elenco ligado e contrito, tudo perfeito.

De repente, Dalvo Ferreira, diretor de TV do programa, grita na cabine de controle: “Ih! Olha lá!”. Uma mosca estava prestes a entrar no nariz do figurante que interpretava Jesus Cristo, que já estava no limite da sua tolerância. E Dalvo Ferreira que poderia cortar para outra câmera, manteve, petrificado, a câmera em close no rapaz. A mosca prosseguia seu caminho, entrou no nariz do ator, o qual, não resistindo, tirou a mão da cruz, afastando a mosca com um grande tapa.

Gargalhada no estúdio, ira do Chianca, e entraram os comerciais. Nessa ocasião, registrei, assim, o acontecimento:

Aconteceu, senhores, o imprevisto,
Rodeando a cabeça do bom Cristo
Que se encontrava preso na cruz,

Para aumentar ainda o seu martírio,
Pousou, entre sorrisos e delírio,
Uma mosca no crânio de Jesus!

E a mosca vil prossegue no pagode.
Desceu do crânio e foi até o bigode,
E passeou, tranquila, onde quis.

Pobre do Cristo! Além do sacrifício
De carregar a cruz, mais um suplício...
E eis a mosca dentro do nariz.

O pobre ator, pegado de improviso,
Tentou, em vão, conter o seu sorriso
Que explodiu, de jofre, em sua boca.

E o diretor, coitado, apavorado,
Olhou e viu Jesus crucificado,
Às gargalhada, numa fúria louca.

E, afobado e rindo, coisa rara,
O pobre ator meteu a mão na cara
E afastou a mosca para trás.

Mas, nessa altura, todo o estúdio ria:
Pôncio Pilatos, Judas até Maria
E todo mundo ria até Caifás.

Entrou comercial. Findou-se a festa.
O diretor passando a mão na testa
E o suor descendo, já se vê.

Mas, mesmo assim, nessa balbúrdia louca,
Ouviu-se uma voz de boca em boca:
“Foi o melhor programa da TV!”

(Do livro “Era uma vez... a televisão”, de João Lorêdo)




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