terça-feira, 5 de abril de 2016

Marias do Brasil



Formado em 1998 por 10 trabalhadoras domésticas o grupo popular de Teatro do Oprimido Marias do Brasil acumula uma extensa atuação, possuindo dois espetáculos de Teatro Fórum que já levaram o grupo para São Paulo na Mostra Nacional de Teatro do Oprimido em Santo André, Porto Alegre para duas edições do Fórum Social Mundial e para o Festival da Federação de Teatro Associativo do Rio – FETAERJ, na qual Maria Vilma, integrante do grupo, recebeu uma Monção Honrosa. Com os projetos Encenando Direitos Humanos e Maria Luta por Lei Justa, o teatro amplia seu alcance: a plateia discute e propõe leis. Como a Medida Provisória da Lei Federal 10.208 de 23/03/2001, que determina ser facultativo o Fundo de Garantia dos trabalhadores domésticos. Marias do Brasil e os Sindicatos dos Trabalhadores Domésticos do Rio de Janeiro e de Nova Iguaçu reivindicam que esta medida se torne obrigatória. Para isso, iniciaram um movimento para recolher o máximo de assinaturas e enviar ao Congresso Nacional. Participe entrando em cena e apoiando nosso abaixo-assinado.

Uma história do grupo

No fim de um espetáculo do Teatro do Oprimido, feito por domésticas, uma delas, chorando, desabafa com Augusto Boal:

– Uma empregada doméstica deve ser invisível. Quanto menos seja vista, melhor. Ela põe e tira a mesa, faz comida e a cama, lava e passa, varre, limpa, cuida das crianças... mas, sobretudo, não deve ser vista nunca. Nós aprendemos a ser invisíveis. Hoje, ensaiando no palco, reparei que um técnico cuidava que estivesse bem iluminada, com a cor adequada. Aprendemos a emudecer: outro técnico colocava um pequeno microfone no meu vestido para que minha voz fosse ouvida... Isso é tão bom... A família, para qual eu trabalho, estava inteira na plateia, no escuro, vendo e ouvindo. No final, aplausos: trabalho para eles há mais de dez anos e acho que foi a primeira vez que me viram e me ouviram. Agora sabem que eu existo. Porque fiz teatro.


(Do livro dos Erros - Histórias Equivocadas da Vida Real,
de Mário Goulart)


4 comentários:

  1. Obrigado Senhora Claudenir, são experiências como esta do Teatro de um grupo de empregadas, que nunca tiveram voz, só engrandecem uma classe social. Quando li "Do Livro dos Erros - Histórias Equivocadas da Vida Real", de Mário Goulart, li o texto acima, que está em itálico, fiquei emocionado e resolvi colocá-lo neste almanaque para que mais pessoas o lessem e o divulgassem. Obrigado pelo seu relato.

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  2. Boa tarde Nilo,a minha irmã, Dorceni é faxineira e faz parte do canal Sinddomesticabrasil (não sei se é assim que escreve). Pois é, por incrível que pareça não tenho celular, de modo que faço minhas intervenções no grupo por meio do celular dela. Foi neste canal que uma trabalhadora sugeriu a leitura do livro: A distância entre elas. O tema é sobre as Trabalhadoras Domésticas da Índia e a semelhança com a nossa realidade é muito grande. A semelhança levou-me a seguinte questão: este modelo de sociedade opressora foi planejado nas salas dos senhores étnicos escravocrata que se julgam superiores, em decorrência de sua pele clara há milhares de anos e implantado nos Estados do mundo inteiro. E mais, fiz uma análise deste livro com outras biografias que tratam do tema: A doméstica de Odete de Barros e o conto, as capas do diabo de Cora Coralina e percebi o quanto a literatura pode servir manutenção da sociedade escravocrata como é o caso da narrativa das escritoras brasileiras. Fiquei um pouco chocada ao ler essas duas escritoras... Não se você conhece a Lurdes do Rio Cumprido ela tem uma história interessante sobre uma liderança que se chama Odete, mas faleceu há pouco tempo. Pergunta aí no grupo se conhecem Lurdes e Josefa... E, por favor, não trate-me senhora porque é muito formal...

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  3. Amiga Claudenir, faça bom uso de nosso modesto almanaque. São mais 4.000 textos com os mais variados assuntos: bons e humanos, como o que descreveu a bela experiência teatral de um grupo de domésticas.

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