Carlos Drummond de
Andrade
Que
frio! Que vento! Que calor! Que caro! Que absurdo! Que bacana! Que tristeza!
Que tarde! Que amor! Que besteira! Que esperança! Que modos! Que noite! Que
graça! Que horror! Que doçura! Que novidade! Que susto! Que pão! Que vexame!
Que mentira! Que confusão! Que vida! Que talento! Que alívio! Que nada!
Assim,
em plena floresta de exclamações, vai se tocando pra frente. Ou para o lado. Ou
para trás. Ou não se toca. Parado. Encostado. Sentado. Deitado. De cócoras.
Olhando. Sofrendo. Amando. Calculando. Dormindo. Roncando. Pesadelando.
Fungando. Bocejando. Perregando. Adiando. Morrendo.
Em
redor, não cessam explosões interjetivas. Coitado! Tadinho... Canalha!
Cachorro! Pilantra! Dedo-duro! Bandido! Querido! Amoreco! Peste! Boneco! Flor!
E
vêm outras vozes breves, no vão do vaivém:
É.
Pois é. Ah, é. Não é. Tá. OK. Ciao. Tchau. Chau. Au. Bai-bai. Oi. Opa! Epa!
Oba! Ui! Ai! Ahn...
Que
fazer senão ir na onda? Lá isso... Quer dizer. Pois não. É mesmo. Nem por isso.
Depende. É possível. Antes isso. É claro. É lógico. É óbvio. É de lascar. Essa
não! E daí? Sai dessa.
Não
diga! É o que lhe digo. Eu não disse? Repete. Como ia dizendo... Não diga mais
nada. Digo e repito. Dizem... Que me contas!
(in: O poder ultrajovem. Rio de Janeiro: José Olympio,
1973, pág. 99)
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