quinta-feira, 21 de abril de 2016

Saber educar é uma arte



Será que, ainda hoje, algum leitor escreve para uma revista a fim de ouvir uma opinião e receber um “conselho” capaz da ajudá-lo a solucionar um problema pessoal? Em 1957, a Revista do Globo tinha uma seção chamada Correio da Revista (ilustrada por uma foto genérica qualquer), em que um “conselheiro” respondia às cartas recebidas.

Tipo esta:

“Não sei como começar estas linhas, tão alarmado me encontro com certas atitudes de uma das minhas filhas… Nosso lar era calmo e feliz até o dia em que a pequena se enamorou de um cretino que, apesar de saber que lá em casa ninguém o tolera por seus inúmeros defeitos, segue fazendo a corte a minha filha. Ciente de que sabemos bem quem é… ele deveria ter vergonha e afastar-se. Penso também que uma jovem que se julga muito inteligente, educada nos melhores colégios, sequer deveria pensar em tal namoro. O caso é grave. Ela acha que está com a razão, não podemos tocar no assunto sem que ela nos diga uma porção de desaforos, nos chamando de insuportáveis e mandões. Por favor, senhor Conselheiro, dirija algumas palavras a ela. Diga-lhe que pode até casar com um desclassificado, mas jamais obrigará os pais a concordar com tal atitude. Ele é sem moral e sem personalidade… me parece que os familiares do rapaz não valem nada, pelo menos, um deles. Afinal, onde é que estamos? Que pretende essa mocidade de hoje? Pretenderá ridicularizar os velhos, os pais, a religião e a pátria? Nada posso fazer… Auxilie-me, senhor Conselheiro. Assina: Um Forasteiro”.

O conselheiro responde:

“…devo dizer-lhe bem pouco. O que está fazendo é clamar contra a escuridão… Por que não acende, você mesmo, a sua vela? Lamento imensamente o que nos está mostrando parte da mocidade atual. Toda essa manifestação que está vendo nos tempos atuais é uma conseqüência lógica do desenvolvimento dos meios que, mal orientados, vêm servindo como fatores maléficos à nossa juventude. Não havia em nossos tempos as leituras chamadas ‘infantis’ (histórias em quadrinhos), as novelas de rádio, os filmes perniciosos. A esses (filhos ou adolescentes) repugna toda e qualquer imposição, se a isso não estiveram habituados desde a mais tenra infância. Em conseqüência, quem não esteve em condições de prevenir, em muito menos estará de remediar. Os tempos mudam. Já não cabe atualmente aquele velho sistema, as medidas repressivas como a internação num convento e a incorporação na Marinha…(?) Agora, a vida é outra. O temor com que eram guiadas as crianças de antanho deu lugar a uma amizade respeitosa que os pais, para o bem de ambos, devem incutir em seus filhos, desde os primeiros balbucios… Assina: O Conselheiro”.

Problemas parecidos se repetirão eternamente… Mas, agora, passados quase 60 anos, as abordagens, certamente, têm de ser mais sofisticadas. Divertido, se não fosse trágico.

(Do Almanaque Gaúcho de Zero Hora)




Nenhum comentário:

Postar um comentário