Será
que, ainda hoje, algum leitor escreve para uma revista a fim de ouvir uma
opinião e receber um “conselho” capaz da ajudá-lo a solucionar um problema
pessoal? Em 1957, a Revista do Globo tinha uma seção chamada Correio da
Revista (ilustrada por uma foto genérica qualquer), em que um “conselheiro”
respondia às cartas recebidas.
Tipo esta:
“Não sei como começar estas linhas, tão
alarmado me encontro com certas atitudes de uma das minhas filhas… Nosso lar
era calmo e feliz até o dia em que a pequena se enamorou de um cretino que,
apesar de saber que lá em casa ninguém o tolera por seus inúmeros defeitos,
segue fazendo a corte a minha filha. Ciente de que sabemos bem quem é… ele
deveria ter vergonha e afastar-se. Penso também que uma jovem que se julga muito
inteligente, educada nos melhores colégios, sequer deveria pensar em tal
namoro. O caso é grave. Ela acha que está com a razão, não podemos tocar no
assunto sem que ela nos diga uma porção de desaforos, nos chamando de
insuportáveis e mandões. Por favor, senhor Conselheiro, dirija algumas palavras
a ela. Diga-lhe que pode até casar com um desclassificado, mas jamais obrigará
os pais a concordar com tal atitude. Ele é sem moral e sem personalidade… me
parece que os familiares do rapaz não valem nada, pelo menos, um deles. Afinal,
onde é que estamos? Que pretende essa mocidade de hoje? Pretenderá
ridicularizar os velhos, os pais, a religião e a pátria? Nada posso fazer…
Auxilie-me, senhor Conselheiro. Assina: Um Forasteiro”.
O conselheiro responde:
“…devo
dizer-lhe bem pouco. O que está fazendo é clamar contra a escuridão… Por que
não acende, você mesmo, a sua vela? Lamento imensamente o que nos está
mostrando parte da mocidade atual. Toda essa manifestação que está vendo nos
tempos atuais é uma conseqüência lógica do desenvolvimento dos meios que, mal
orientados, vêm servindo como fatores maléficos à nossa juventude. Não havia em
nossos tempos as leituras chamadas ‘infantis’ (histórias em quadrinhos), as
novelas de rádio, os filmes perniciosos. A esses (filhos ou adolescentes)
repugna toda e qualquer imposição, se a isso não estiveram habituados desde a
mais tenra infância. Em conseqüência, quem não esteve em condições de prevenir,
em muito menos estará de remediar. Os tempos mudam. Já não cabe atualmente
aquele velho sistema, as medidas repressivas como a internação num convento e a
incorporação na Marinha…(?) Agora, a vida é outra. O temor com que eram guiadas
as crianças de antanho deu lugar a uma amizade respeitosa que os pais, para o
bem de ambos, devem incutir em seus filhos, desde os primeiros balbucios…
Assina: O Conselheiro”.
Problemas
parecidos se repetirão eternamente… Mas, agora, passados quase 60 anos, as
abordagens, certamente, têm de ser mais sofisticadas. Divertido, se não fosse
trágico.
(Do Almanaque Gaúcho de Zero Hora)
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