(1859-1916)
BERÇO
Recordo: um largo verde e uma
igrejinha,
um sino, um rio, um pontilhão, e
um carro
de três juntas bovinas que ia e
vinha
rinchando alegre, carregando
barro.
Havia a escola, que era azul e
tinha
um mestre mau, de assustador
pigarro...
(Meu Deus! que é isto! que emoção
a minha
quando estas cousas tão singelas
narro!?)
Seu Alexandre, um bom velhinho
rico,
que hospedara a Princesa; o
tico-tico
que me acordava de manhã e a
serra...
com seu nome de amor – Boa
Esperança,
eis tudo quanto guardo na
lembrança
de minha pobre e pequenina terra!
QUANDO EU MORRER
Quando eu morrer em véspera
tranquila,
num pôr-do-sol de goivos e
saudade,
da velha igreja, que a Madona
asila,
o sino grande a soluçar Trindade;
Quando o tufão do mal que me
aniquila
soprar minh´alma para a
Eternidade,
todas as flores dos jardins da
vila,
certo, eu terei da tua caridade.
E, já na sombra amiga do
cipreste,
há de haver uma lágrima piedosa,
a edênica gota, a pérola celeste,
para quem desfolhou, terno, e as
mãos cheias,
o lírio, o bogari, o cravo e a
rosa
pelas estradas brancas das
aldeias.
→ Bernardino da Costa Lopes
nasceu no arraial de Boa Esperança (Rio Bonito), Província do Rio de Janeiro,
em 15 de janeiro de 1859 e morreu no Rio de Janeiro em 18 de setembro de 1916.
Casado, desorganizou sua vida por motivos de ordem sentimental e entregou-se ao
álcool. Foi ridicularizado no fim da vida por conta de um soneto infeliz, de
louvor ao marechal Hermes da Fonseca.
→ O poeta negro B. Lopes nasceu
antes do fim da escravidão, mas como filho de pais livres e membros da classe
média pobre: o pai, Antônio, escrivão, e a mãe, Mariana, costureira.
→ Membro da boemia intelectual,
sua poesia recolhe diferentes tendências da passagem do século XIX ao XX. Da
primeira etapa, vista como parnasiana, é Cromos (1881), com o qual obteve
reconhecimento nacional. Seus cromos representam, conforme Alfredo Bosi, “uma
linha rara entre nós: a poesia das coisas domésticas, os ritmos do cotidiano”.
→ Em 1890, Cruz e Souza chegou ao
Rio de Janeiro: ele, B. Lopes, Emiliano Perneta e Oscar Rosas formaram o
primeiro grupo de simbolistas brasileiros. Desse novo período, fazem parte
Brasões (1895) e Val de Lírios (1900), entre outros.
→ Em 1906, morre de tuberculose.
A hibridez de sua poesia, de marcas parnasiana e simbolista, continua a merecer
novos leitores.
→ Seus sonetos estão em: Poesia
Brasileira para a Infância, Cassiano Nunes e Mário da Silva Brito, São Paulo,
Saraiva:1968.
Nenhum comentário:
Postar um comentário