segunda-feira, 25 de abril de 2016

Sonetos de Ezechias da Rocha*



Momento

Tudo acaba, meu filho, nesta vida:
o poder, a fortuna, a sorte dura,
a mesma glória, ainda a mais subida
e o próprio pó da fria sepultura.

Que seja sempre nobre e comedida
tua ânsia de progresso e de ventura:
Raro palmilha a Terra Prometida
o tolo visionário que a procura.

Tudo acaba, meu filho. Resta apenas,
o espírito a boiar nas trevas plenas,
ou no abismo de luz da Divindade.

Os teus problemas, pois, enquadra-os nisto:
Não te afastes jamais da lei de Cristo
e trabalha, fitando a Eternidade!

Conselho paterno

Ao preto velho, trôpego, alquebrado,
aos pobres anciãos de mão tremente,
atende-os tu, meu filho, paciente,
e nunca lhes recuses um bocado.

Além de te prostares cristãmente,
presta um preito ao lidador cansado,
um herói, bem possível, do passado,
nas lutas pela glória do presente.

Atende-os. São a própria experiência,
que, justa e sábia, quase sempre iguala
ao mesmo verbo, à luz da Providência.

Meu filho: Deus, que fala no Evangelho,
muitas vezes ao mundo também fala
pela boca de um pobre negro velho.



→ Ezechias Jerônimo da Rocha nasceu a 8 de dezembro de 1898, em Sertãozinho (hoje Major Isidoro – homenagem que os alagoanos prestaram ao velho patriarca fundador daquelas brenhas e avô do poeta). Faleceu no Rio de Janeiro em 8 de abril de 1983.

→ Fez os preparatórios no «Colégio II de Janeiro» e o curso de Medicina na Bahia. Clinicou em Maceió durante trinta anos. Foi diretor da Saúde Pública, deputado estadual e catedrático de História Natural do Colégio Estadual.

→ Foi senador federal pelo Estado de Alagoas. Publicou: «Musa Antiga» Maceió, 1947, coletânea de versos condoreu»; com que ganhou o «Prêmio Otton Bezerra de Melo», conferido pela Academia Alagoana de Letras, de que é sócio e ocupante da cadeira de Cassiano de Albuquerque; «A Vida dos Cristais», tese para a cadeira de História Natural, do Liceu Alagoano.


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