Noel Rosa por Bertoni
Noel Rosa, em tratamento de saúde em Belo Horizonte ,
Minas Gerais, manda desta cidade aquela que será a sua carta mais original e
conhecida. O destinatário é Edgar Graça Mello. O assunto, a doença e o
tratamento. A forma, poesia. Mas, a exemplo de muito do que Noel disse em seus
sambas, uma poesia feita de ironias e simulações, o paciente chamando o médico
de paciente e dizendo-lhe que está seguindo à risca as instruções, que se deita
às nove horas, que abandonou o cigarro, que já apresenta melhoras. E não faltam
duplos sentidos, como no verso “trepei de várias maneiras...”
“Meu dedicado médico e paciente amigo
Edgar.
Um abraço.
Se tomo a liberdade de roubar mais
uma vez seu preciso tempo, é porque tenho certeza de que você se interessa por
mim muito mais do que eu mereço.
Assim sendo, vou passar a resumir as
notícias que se referem à marcha do meu tratamento.
E, para amenizar as agruras que tal
leitura oferece, resolvi fazer uso das quadras que se seguem:
Já apresento
melhoras,
Pois levanto
muito cedo
E... deitar às
nove horas
Para mim, é um
brinquedo!
A injeção me
tortura
E muito medo
me mete;
Mas... minha
temperatura
Não passa de
trinta e sete!
Nessas
balanças mineiras
De variados
estilos
Trepei de
várias maneiras
E... pesei
cinquenta quilos!
Deu resultado
comum
O meu exame de
urina.
Meu sangue: -
noventa e um
Por cento de
hemoglobina.
Creio que fiz
muito mal
Em desprezar o
cigarro:
Pois não há
material
Pra meu exame
de escarro!
Até agora, só
isto.
Para o bem dos
meus pulmões,
Eu nem
brincando desisto
De seguir as
instruções.
Que meu amigo
Edgar
Arranque deste
papel
O abraço que
vai mandar
O seu amigo
Noel.”
Do livro “Noel uma
biografia”,
de João Máximo e Carlos Didier, Editora UnB*
de João Máximo e Carlos Didier, Editora UnB*
*Livro proibido por familiares de uma das esposas de Noel
Rosa.
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