O maior sucesso de Cauby Peixoto
(Cauby Peixoto: 10.02.1931 –
15.05.2016)
Cera vez, já nos anos 80, Cauby
Peixoto* foi fazer um show no Maranhão. Terminando sua apresentação, quando já
ia saindo, a mulher do governador segurou seu braço e ameaçou: “Onde é que você
pensa que vai?” Ele respondeu: “O show já terminou.” Ela, insatisfeita,
intimou: “Não terminou, não! Você não sai daqui sem cantar Conceição!” – desse
jeito, como se fosse uma ordem. E assim, Cauby pode dizer que, pelo menos no Brasil,
desde que lançou o famoso samba-canção de Dunga e Jair Amorim, em setembro de
1956, jamais deixou de cantá-lo num show sequer. O curioso é que o estouro de
“Conceição” foi gradativo e, depois de ser lançada em 78 rpm, foi incluída como
a terceira faixa do lado B de seu terceiro LP na Columbia, Você, a música e Cauby, editado logo a seguir.
“Conceição” também foi faixa
escolhida para integrar o módulo musical em mais uma chanchada de cinema da
época, no caso, Com água na boca, de
J.B. Tanko, com acompanhamento do maestro Renato de Oliveira. A música aparecia
no filme logo depois de Zezé Gonzaga cantar “Linda flor” (o mesmo samba-canção
também conhecido como “Ai Ioiô”) maior sucesso da cantora – que na verdade foi
o primeiro samba-canção brasileiro, de 1929, gravado inicialmente por Aracy
Cortes, também atriz de teatro de revista. Pois, então, entrava Cauby fingindo
tomar pinga na mesa de um bar, cujo cenário era ora de barracão num morro ora
mais urbano, mostrando letreiros luminosos e insinuando uma mulher “da vida”
nas esquinas.
...
Cauby não acha esse samba-canção tão
horrível assim. Pelo contrário. “Feliz do cantor que tem uma Conceição no repertório”, defende sua
musa. Analisando friamente, trata-se de um samba-canção com sabor bem moralista
e religioso da época. Conta a história de uma moça ambiciosa que tentou largar
sua vida pobre no morro e foi para a cidade, provavelmente, fazendo algumas
concessões para conseguir alguma projeção. Seus planos não deram certo e ela
desapareceu, com certeza envergonhada de voltar à vida do morro. Até porque,
tão “mal-falada” na vizinhança, jamais voltaria a ser tratada como a Conceição
de outrora. Acontece que a melodia do samba-canção servida de bandeja para que
Cauby pudesse mostrar seus dotes vocais, com descidas aos graves e subidas aos
agudos, acompanhando a sina da protagonista. Agora, tente imitá-lo cantado a
letra...
Se subiu,
Ninguém sabe, ninguém viu,
Pois, hoje, o seu nome mudou
E estranhos caminhos pisou.
Só eu sei
Que, tentando a subida, desceu.
E agora (ela) daria um milhão
Para ser outra vez Conceição.
* Cauby Peixoto (Niterói,
10 de
fevereiro de 1931 − São Paulo,
15 de maio
de 2016)
foi um cantor
brasileiro,
considerado um dos maiores e mais versáteis intérpretes da música brasileira.
“Esta canção é o meu Hino Nacional.”
Cauby Peixoto
Conceição
Dunga e Jair Amorim
Conceição?
Eu me lembro muito bem,
(Ela) Vivia no morro a sonhar
Com coisas que o morro não tem.
Foi então
Que lá em cima apareceu,
Alguém, que lhe disse a sorrir,
Que descendo à cidade, ela iria subir.
Eu me lembro muito bem,
(Ela) Vivia no morro a sonhar
Com coisas que o morro não tem.
Foi então
Que lá em cima apareceu,
Alguém, que lhe disse a sorrir,
Que descendo à cidade, ela iria subir.
Se subiu,
Ninguém sabe, ninguém viu,
Pois, hoje, o seu nome mudou
E estranhos caminhos pisou.
Só eu sei
Que, tentando a subida, desceu.
E agora (ela) daria um milhão
Para ser outra vez Conceição.
Cantar “Conceição” é fácil, agora
cantar bem, num tom mais alto, como o de Cauby, e saboreando palavras como
“sonhaaaaar”, “pisooooou” e “Conceiçããão”, só mesmo Cauby. Tanto que suas
amigas Dircinha Batista e Dolores Duran a regravaram em seus discos, ainda na
década de 1950, mas, apesar de excelentes cantoras, a música desaparece em suas
vozes. Não adianta, “Conceição” é de Cauby e ponto. Foi, de fato, seu único
casamento com uma mulher que deu certo, realmente. (...)
Há ainda uma curiosidade sobre o
samba-canção mais famoso de seu repertório. Sua história é baseada num problema
pessoal que o compositor Dunga teve com sua mulher. Inicialmente, a canção foi
oferecida ao cantor Sílvio Caldas, que não quis gravá-la a menos que se
fizessem algumas modificações na letra. Jair não concordou e resolveu procurar
Cauby. Nessa época, Cauby já morava – quando estava no Brasil – no Hotel Novo
Mundo, no Catete. Na verdade, “Conceição”, segundo Cauby, foi feita apenas por
Dunga. Jair Amorim entrou na parceria mais como divulgador da música.
“Um dia, saí da Rádio Nacional em direção ao Novo Mundo quando veio uma
pessoa pegar no meu braço. Era o Jair Amorim. Eu disse: Agora não posso te
atender, vamos marcar mais tarde na casa do Di Veras – que ficava próximo ao
morro da Viúva. Quando o Di Veras ouviu, disse: Grava ontem. Mandou-me ir para
casa, acordar às seis horas da manhã do dia seguinte e gravar o acetato. Não
percebi nada de especial na música porque era tão desligado que só fazia o que
ele queria”, confessa o cantor.
Cauby Peixoto em 1956
– ano em que gravou “Conceição”
(Do livro “Bastidores
– Cauby Peixoto 50 anos da voz do mito”,
de Rodrigo Faour, Editora Record)
de Rodrigo Faour, Editora Record)
Em 1956, Cauby Peixoto gravou
três LPs. Em “Você, a música e Cauby” lançou o grande sucesso do ano e sua
interpretação mais famosa, o samba-canção “Conceição”, de Jair Amorim e Dunga. Do
mesmo LP faziam parte ainda “Siga”, de Hélio Guimarães e Fernando Lobo e “Molambo”,
de Jayme Florence e Augusto Mesquita.
Aprenda a tocar
Conceição
C Am Dm
Conceição
G7
Eu me lembro muito bem
Am Dm
Vivia no morro a sonhar
G7 C7+ Am
Com coisas que o morro não tem
Dm
Foi então
G7 C E7
Que lá em cima apareceu
Am Em
Alguém que lhe disse a sorrir
B7 G7
Que, descendo à cidade, ela iria subir
Dm
Se subiu
G7 C
Ninguém sabe, ninguém viu
Am Dm
Pois hoje o seu nome mudou
G7 A7
E estranhos caminhos pisou
Dm
Só eu sei
Fm C E7
Que tentando a subida, desceu
Am Dm
E agora daria um milhão
G7
Para ser outra vez
C G# C
Conceição
G7
Eu me lembro muito bem
Am Dm
Vivia no morro a sonhar
G7 C7+ Am
Com coisas que o morro não tem
Dm
Foi então
G7 C E7
Que lá em cima apareceu
Am Em
Alguém que lhe disse a sorrir
B7 G7
Que, descendo à cidade, ela iria subir
Dm
Se subiu
G7 C
Ninguém sabe, ninguém viu
Am Dm
Pois hoje o seu nome mudou
G7 A7
E estranhos caminhos pisou
Dm
Só eu sei
Fm C E7
Que tentando a subida, desceu
Am Dm
E agora daria um milhão
G7
Para ser outra vez
C G# C
Sei nao discordo que Jair Amorin nao tenha feito nada na musica, pois ele tem uma lista enorme de musicas lindas, como BRIGAS e sentimental demais...
ResponderExcluirO autor do livro, Rodrigo Faour se refere especificamente a essa música, "Conceição",
Excluirdeve ter pesquisado para dar sua opinião.
Quanto a Jair Amorim, todos sabemos que se trata de grande compositor da MPB.
Na verdade, Dircinha Batista não a regravou. Ela gravou Conceição no mesmo ano, mas um mês antes de Cauby.
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