quinta-feira, 5 de maio de 2016

Das qualidades do dirigente da cidade ideal



Este é o mandante em quem ninguém manda, o dirigente que ninguém dirige, o guia, o chefe supremo da Cidade Ideal... Posição que só caberá a quem reúne por natureza doze qualidades:

01. Um organismo físico perfeito, capaz de executar qualquer tarefa que por ofício lhe couber;

02. Uma mente que capta e interpreta corretamente tudo o que se lhe dirige;

03. Uma memória que guarda fielmente tudo o que percebe, vê, ouve, adivinha;

04. Uma inteligência viva e sutil, capaz de tirar deduções corretas dos menores indícios;

05. Uma eloquência que consegue expressar eficientemente todas suas ideias e intenções;

06. Um amor pelo saber que lhe torne agradável a aquisição de todo novo conhecimento;

07. O controle dos seus apetites; e o afastamento dos jogos de azar;

08. O amor à verdade e aos que a dizem; o ódio à mentira e aos mentirosos;

09. O sentido da elevação e da nobreza e uma repulsa instintiva por todo ato ou sentimento indigno;

10. A submissão à legalidade e à justiça e a repulsa à opressão e à iniquidade, tanto nos discursos como nas ações;

11. A moderação e o controle de si mesmo a fim de que não seja nem influenciável demais nem inabordável, e nem lento nem apressado, fácil de guiar no caminho do bem, impossível de induzir no caminho do mal;

12. A energia e a audácia a serviço das causas públicas.

A reunião de todas essas qualidades num só homem é acontecimento raro. Quando tal homem existir na Cidade Ideal, será ele o dirigente. Nas épocas em que tal homem não existir, adotar-se-ão as leis e regulamentos anteriormente promulgados e entregar-se-á a direção da cidade a quem reunir os seis seguintes requisitos:


01. Ser sábio.

02. Ser informado: conhecer as leis e os regulamentos promulgados antes dele pelos dirigentes perfeitos e imitar-lhes as ações e o comportamento nas suas próprias ações e comportamento.

03. Ser interpretativo: saber induzir, para as situações novas, soluções certas, inspiradas de circunstâncias similares do passado.

04. Ser inventivo, capaz de improvisar soluções adequadas para situações inéditas, obedecendo ao interesse da Cidade.

05. Ser respeitador das tradições.

06. Ser forte e competente na arte da diplomacia.

Se esses requisitos se reunirem não num homem só, mas em dois, sendo um deles sábio e o outro provido das outras virtudes, serão os dois governantes da Cidade.

Se os requisitos forem repartidos entre vários homens e mesmo seis, possuindo cada um deles uma das seis condições mencionadas, serão todos eles governantes da Cidade, sob a condição que haja entendimento entre eles. Se, todavia, faltar ao dirigente ou aos dirigentes a sabedoria, a Cidade não será mais governada, na verdade, ela correrá, mais cedo ou mais tarde, para a sua ruína.

(Do livro “A Cidade Ideal”, citado em
As mais Belas Páginas da Literatura Árabe,
de Mansour Challita) 



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