Salto Noturno
No dia 5 de abril de 1963,
eu estava à janela do meu apartamento, em Marechal Hermes ,
por volta das 19 horas, quando ouvi o barulho dos motores do avião C-82 e,
poucos segundos depois, avistei a aeronave que se dirigia para a ZL (Zona de
Lançamentos) dos Afonsos; era mais um salto noturno.
Quanto a isso nada havia de
extraordinário, porque esses saltos são comuns, pois quase que diariamente são
realizados, e eu costumo a assisti-los, como disse, do meu apartamento.
Acontece que nesse dia (5 de abril de 1963), havia algo diferente naquele ato,
e eu sentia como que uma força estranha a chamar-me à atenção para o que se
passava..., foi então que liguei os fatos; realmente, aquele salto não era de
rotina, pois, algumas horas antes, o nosso saudoso companheiro Sargento Nicolau
havia falecido, vítima de acidente de salto. Então eu compreendi o porquê
daquele meu estado de espírito, e fui como que tomado por uma onda de emoção e
dúvida. A dúvida que pairava no meu espírito naquele momento era saber por que
aqueles bravos soldados do ar estariam saltando? – Seria em homenagem ao
heróico Sgt. Nicolau* – que morrera horas antes lutando contra as forças
(invencíveis) do destino, ou seria simplesmente de protesto e desprezo à
traiçoeira morte, a qual havia ceifado a vida de um de seus companheiros?
Confesso que naquele momento não consegui resposta a estas perguntas, e a
dúvida continuou (e ainda continua) a martelar-me o cérebro...
Por que saltariam eles? Porém
de uma coisa tive absoluta certeza; naquele momento tratava-se de uma luta
titânica entre os arrojados paraquedistas e a maldita morte, e esta (a morte)
fora fragorosamente derrotada e, como que acovardada e trêmula, numa correria
louca, fugiu para bem longe, desaparecendo na imensidão da noite.
Vencera a mística dos paraquedistas!
Sgt Amacyl Pereira da
Cunha, Pqdt 241, do 1950/3 – MS 248
*Sgt Nicolau Radiusz, Pqdt 3127,
do 1957/3 – MS 834 - faleceu em acidente de paraquedas em 5 de abril de 1963,
na ZL do Campo dos Afonsos. Sofreu um "Mae West" no paraquedas
principal, com rasgos em várias painéis. O reserva enrolou-se no principal não dando sustentação para uma aterragem segura.
Fatalidade
Sargento Jader do
Monte Ferreira, pqdt 4907 – 1958/5
Era um dia festivo
da Unidade-Padrão.
Pairava no olhar altivo
de quem olhava o avião.
Um homem lutava...
Ao mesmo tempo em que a sorte
ao seu velame rasgava
lhe causando assim a morte.
Um companheiro sem igual.
Destemido, lutador e forte.
Um vibrador sem rival,
sem medo da morte...
Assim morreu Nicolau...
Vi sua luta pela vida.
Vi seu reserva, subindo, enrolando.
Mais tarde vi a ferida
da fatalidade nossa alma
enlutando.
Deus Nosso Pai Eterno,
Tu que és o Rei da Terra,
Que nos livra do inferno
e dos maus que a vida encerra,
Livra-nos, também, da imperfeição,
sustentando ou inflando nossos
paraquedas
ou amolecendo o chão.
Foto de "Mae West": principal enrolado
e reserva dando sustentação ao paraquedista.
Quando havia um acidente com
morte de um paraquedista, no mesmo dia e a qualquer hora do dia, ou da noite, todos
eram convocados para saltar, demonstrando, com isso, que não temiam a morte,
que a morte não os venceriam. Pelo menos isso acontecia no meu tempo...
Nilo da Silva Moraes
(Do Almanaque Paraquedista, capa abaixo)
Emocionante relato!
ResponderExcluirO Paraquedista sem dúvida alguma é diferenciado,seja por um ano ou mais.
Saudoso Sg.Ly Adorno.