Publicado na Folha de S. Paulo, sábado, 17 de janeiro
de 1976
Um enfarte do miocárdio silenciou
para sempre o homem Antônio Franco de Oliveira, na madrugada de ontem, na Casa
de Saúde Dr. Eiras. Mas “Neném Prancha”, o mito, ficará na história do futebol
brasileiro. Torcedor incondicional do Botafogo desde o dia em que chegou a
Copacabana, procedente de Resende, há mais de 40 anos. “Neném Prancha” ganhou
fama no extinto Posto Quatro Futebol Clube, como goleador, e zagueiro, no
Carioca Esporte clube.
Profundo conhecedor de futebol,
"Neném Prancha" atuou até pouco tempo como "olheiro" no
futebol de praia. Roupeiro do departamento de atletismo no Botafogo desde 1943 -
começou trabalhando para a divisão juvenil de futebol, Antônio Franco de
Oliveira passou a ter problema no coração a partir de março do ano passado: "O
"Neném" ficou muito agitado com o lançamento do livro “Assim falou
Neném Prancha”, de autoria do esportista Pedro Zamara, era o comentário mais
ouvido durante o seu enterro no cemitério São João Batista.
Homem de poucas palavras, mas
perfeito observador e muito inteligente, só falava nos momentos oportunos.
Lançava com grande humor as suas frases irônicas para definir os fatos. Adepto
do futebol simples e objetivo, ele contestava a forma de jogar de Domingos da
Guia. Neném repudiava o drible, a firula dentro da área: “Jogar a bola pra
cima, enquanto ela estiver no alto não há perigo de gol.”
Para muitos torcedores,
"Neném" era uma figura humana estranha. Apesar de muito conhecido na
praia, ele jamais foi visto tomando banho de mar. Antônio Franco de Oliveira
jamais gostou de falar sobre o seu passado. Filho de Zeferino, um biscateiro e
Dª. Júlia, empregada doméstica, "Neném Prancha" passou os seus 69
anos -
nasceu a 16 de junho de 1906 - criando suas frases.
Quando encontrava um menino
habilidoso, com jeito de seguir a carreira, "Neném Prancha" o
aconselhava. “Jogador de futebol, tem que ir na bola com a mesma disposição com
que vai num prato de comida. Com fome, para estraçalhar.”
Talvez, por passar praticamente toda
a sua vida entre a praia e o seu pequeno quarto na própria sede do Botafogo,
assim definia as concentrações: “Se concentração ganhasse jogo, o time do
presídio não perdia uma partida”.
Foi também inimigo das superstições,
que dominam a maioria dos jogadores e dirigentes do futebol brasileiro. Ele
sempre dizia que sem talento não adiantavam as promessas: “Se macumba
resolvesse, o campeonato baiano terminava sempre empatado”.
Um conselho paternal para os
goleiros: “O goleiro deve andar sempre com a bola, mesmo quando vai dormir. Se
tiver mulher, dorme abraçado com as duas”.
Admirador do futebol clássico,
"Neném Prancha" encarava Didi como um dos maiores armadores de
futebol do mundo. Sua resposta era a mesma quando solicitado para comentar o
talento de Didi: “O Didi joga bola como quem chupa laranja, com muito carinho”.
Mito do futebol brasileiro, Antônio
Franco de Oliveira passou a "Neném Prancha" por causa das mãos - cada
uma mede 23
centímetros de comprimento - e dos pés, que poucas vezes
calçaram sapatos número 44 - ele preferia os chinelos. A exemplo dos demais
funcionários do Botafogo, passou por privações com os frequentes atrasos dos
salários. Mas nunca pensou em largar o clube de seu coração. Foi há muito custo
que ele concordou em se internar numa casa de saúde.
"Neném Prancha" jamais
pensou em casamento, porque o pouco dinheiro que ganhava servia apenas para
“Manter o estômago em dia”, além disso, "Neném Prancha" não confiava
muito na história da Amélia, a mulher de verdade, porque lia diariamente nos
jornais as notícias sobre briga de casais: “Casamento é coisa muito séria para
terminar nas manchetes de jornais”.
Quando jogador no futebol de praia, "Neném Prancha" evitava a cobrança de pênaltis e depois passou à condição de treinador de juvenis e torcedor do Botafogo, ele lançou uma de suas mais famosas frases: “Pênalti é uma coisa tão importante, que quem devia bater é o presidente do clube”.
Frases de Neném
Prancha
Futebol é muito
simples: quem tem a bola ataca; quem não tem defende.
Jogador brasileiro não vai ter problema no México, não. Tudo já morou
em favela e não pode se queixar de altitude.
Jogador de futebol, tem que ir na bola com a mesma disposição com que
vai num prato de comida.
Jogar a bola pra cima,
enquanto ela estiver no alto não há perigo de gol.
Se concentração
ganhasse jogo, o time do presídio não perdia uma partida.
Futebol moderno é que
nem pelada. Todo o mundo corre e ninguém sabe para onde.
Jogador é o Didi, que
joga como quem chupa laranja.
O goleiro deve dormir
com a bola. Se for casado, dorme com as duas.
O pênalti é tão
importante que devia ser cobrado pelo presidente do clube.
Se macumba ganhasse
jogo, o Campeonato Baiano terminava empatado.
O importante é o
principal, o resto é secundário.
Futebol é uma caixinha
de surpresa.
Uma coisa é uma coisa
e outra coisa é outra coisa.
Quem corre é a bola.
Senão, era só fazer um time de batedores de carteira.
Jogador que joga nas
11 não joga bem em nenhuma
Bola tem que ser
rasteira porque o couro vem da vaca e a vaca gosta de grama.
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