Mais mentiras do que mistérios
(Da Revista História
da Biblioteca Nacional – junho 2011)
Religiões, sociedades ocultistas,
criminosos, ativistas políticos. Verdadeiros ou inventados, vários grupos devem
muito sua fama à ligação com nomes célebres e supostas verdades escondidas.
Carbonária
→ Originário de Nápoles, os
carbonários eram revolucionários que agiam secretamente durante as Guerras
Napoleônicas, no início do século XIX. Inicialmente nacionalistas, organizaram
levantes contra governantes estrangeiros na região da futura Itália, lutando
pela adoção de regimes constitucionais. A sociedade teve grande atuação nas
revoluções que se espalharam pelo continente europeu entre 1820 e 1848. Um dos
episódios mais marcantes da atuação da Carbonária ocorreu em Portugal. Instalada
no país desde a década 1820, passou a agir firmemente contra a monarquia na
década 1890, a
partir do envolvimento na educação popular e em conspirações. Esteve
envolvida nos assassinatos do rei D. Carlos I e do príncipe herdeiro D. Luís
Filipe, em 1910. Entre seus membros mais famosos estavam o poeta inglês Lord
Byron e o político italiano Giuseppe Mazzini.
Cavaleiros Templários
→ A Ordem dos Pobres Cavaleiros
de Cristo e do Templo de Salomão, seu nome oficial, foi fundada em Jerusalém na
época da primeira Cruzada, no final do século XI, para dar proteção aos
peregrinos cristãos na região. O cavaleiro francês Hugo de Payns sugeriu que
fosse criada uma força militar subordinada à Igreja para este fim. Seus membros
foram alojados no local onde havia sido construído o mítico templo de Salomão.
Aprovado em 1129, dez anos depois recebeu uma bula papal que isentava da
obediência às leis locais, ligando-a diretamente ao papa. No século XIV, a
ordem foi acusada de praticar bruxaria, o que contribuiu para a associação dos
seus membros a práticas ocultistas. Seu último grão-mestre, Jacques de Molay,
morreu na fogueira por ordem do rei francês Felipe IV em 1314.
Simbologia: O emblema dos templários mostra dois cavaleiros dividindo a mesma
montaria, expressando o ideal de humanidade do grupo. Sigillum Militum Xpisti
quer dizer o selo dos Soldados de Cristo.
Jurema
→ Culto difundido no Nordeste do
Brasil, tem forte relação com o consumo de planta do mesmo nome por grupos
indígenas. Atualmente recebe influências de diversas manifestações religiosas,
como catolicismo, religiões nativas e africanas. O culto tem origem na
veneração de potiguares e tabajaras pela árvore, da qual fazia uma bebida
ritualística. Com chegada de grupos africanos, houve uma troca de conhecimentos
e de tradições religiosas relacionadas à natureza. Há duas grandes linhas de
trabalho na Jurema: a dos mestres, ligada ao culto dos mortos e das divindades
da natureza; e das encantados, ligada à invocação dos antigos pajés.
Germanenorden
→ Fundada na Alemanha no início
do século XX, a sociedade secreta tinha como membros vários ocultistas alemães,
e um dos seus traços fundamentais era o antissemitismo. Defensora da
superioridade da “raça” ariana, a sociedade agia de forma clandestina e tinha
uma organização fraternal e hierárquica. Entre seus rituais estava a celebração
do solstício de verão, uma festividade associada ao paganismo – característica
que seria, aliás, incorporada pelos nazistas alemães, assim como seu símbolo, a
suástica. Seus membros deviam comprovar ter sangue ariano “puro” e jurar manter
a pureza por meio do matrimônio.
Illuminatti
→ Sociedade criada pelo filósofo
alemão Adam Weinshaupt em 1776. O termo, que significa “Uluminados” em latim,
também foi utilizado para designar outros grupos. Educado por jesuítas,
Weinshaupt envolveu com rituais pagãos e com o maniqueísmo, filosofia religiosa
dualista surgida na Pérsia no século III que divide o mundo entre o bem (Deus)
e o mal (o Diabo). O fundador lecionava na Universidade de Ingolstadt,
selecionou os adeptos entre seus alunos, aos quais ensinava conhecimentos
secretos proibidos pela Igreja. Reprimida no século XIX, esta sociedade voltou
à tona em 2000, com a publicação do livro Anjos
e Demônios, de Dan Brown. Por conta do segredo que envolveu o grupo em sua
fundação, teorias conspiratórias passaram a associar seu nome a episódios como os
ataques terroristas nos Estados Unidos em 2004 e à morte da princesa Diana.
Simbologia: Olho que tudo vê – também chamado de Olho da Providência, o olho
rodeado de raios de luz dentro ou sobre um triângulo foi utilizado pela
maçonaria e, depois, pelos Illuminatti.
Ku Klux Klan
→ Organização criada em 1865,
tinha como objetivo original perseguir os negros no sul dos Estados Unidos e
manter a supremacia da “raça” branca. O nome deriva da palavra grega kuklos (círculo), e por ser formada
majoritariamente por descendentes de escoceses, cujas famílias se organizaram
em clãs, acrescentou-se à sua denominação a palavra klan. Seus membros usavam capuzes e túnicas brancas para
aterrorizar seus alvos, fazendo-os crer que eram fantasmas dos confederados
mortos em combate durante a Guerra Civil (1861-1865). A Justiça americana
classificou a KKK como “grupo terrorista” em 1869. Atualmente, a maioria dos
membros é cristã protestante, e o leque de ataque e mais amplo: além dos
negros, perseguem imigrantes, judeus, homossexuais, comunistas e católicos.
Simbologia: Mioak (insígnia mística da Ku Klux Klan. A cruz com fundo vermelho era
exibida nas roupas brancas dos membros do grupo. A gota no centro do símbolo
indicaria a pureza do sangue da raça ariana.
Majestic 12
→ Suposto comitê secreto criado
em 1947 pelo presidente norte-americano Harry Truman para investigar as
atividades de óvnis. Seus membros seriam militares de alta patente e cientistas
de alto nível, reunidos após o incidente de Roswell, no Novo México, ocorrido
naquele ano e que envolveria uma espaçonave alienígena. Algumas fontes chegavam
a mencionar a participação do físico Albert Einstein no comitê. O objetivo do
grupo seria divulgar teorias para ocultar a verdade sobre o episódio. Caso
clássico de “teorias da conspiração”, os documentos que comprovavam as
atividades do grupo eram forjados. Em um deles, a assinatura do presidente
Truman havia sido fotocopiada.
Máfias
→ O crime organizado envolve
grupos de alcance mundial, as máfias, que são dirigidas por colegiados
secretos. Um tipo muito comum é das chamadas Tríades chinesas. A primeira
destas redes criminosas foi criada no século XVII e combateu a dinastia Qing.
No século XX, já estavam espalhadas pelo globo explorando diversas atividades
ilegais, como a prostituição e o tráfico de mulheres. Os grupos surgidos no
Japão estão, em grande parte, organizados em torno da Yakuza, e atuam desde o final do século XVII. Obedecem a regras
rígidas, e seus membros são proibidos de falar sobre a organização. Hoje se
envolvem em atividades como prostituição, tráfico de drogas, de armas e de
pessoas e lavagem de dinheiro. Seus integrantes têm os corpos cobertos de irezumis, tradicionais tatuagens
japonesas, e o castigo clássico consiste em decepar a ponta do próprio dedo a
cada erro cometido. As máfias italianas surgiram na Idade Média como grupos que
extorquiam em troca de proteção, e ganharam fama no século XIX – caso da
siciliana Cosa Nostra, que tem
ramificações em países como Estados Unidos, Canadá e Austrália.
Muti
→ Medicina tradicional praticada
no sul da África por curandeiros chamados de sangonas. Em geral, a prática é inofensiva para as pessoas,
utilizando o conhecimento sobre ervas e árvores como meio de cura. Mas há
também assassinatos rituais, clandestinos, nos quais partes do corpo humano são
utilizados para a produção de medicamentos ou para dar sorte. Em 2002, foi
encontrado no Rio Tamisa, em Londres, o torso de um menino, que se suspeitou
ter sido vítima deste tipo de ritual secreto.
Ninjas
→ Personagens muito popularizados
pela ficção, os ninjas surgiram no Japão por volta do século XIV. Eram agentes
secretos com métodos de combate igualmente obscuros e que se dedicavam à
espionagem e aos assassinatos. Um manual de 1676, chamado Bansenshukai, traz uma coleção de conhecimentos ninja, incluindo
estratégia militar, filosofia e astrologia, enfatizando sua importância para a
segurança do Estado. Seu autor afirma que o Ninjutsu
(o conjunto de artes ninja) só pode ser utilizado por “pessoas conscientes e
sem más intenções”, e destaca a necessidade de lealdade total ao seu senhor. Não
ser visto ou ouvido é um aspecto fundamental na atividade de um ninja (ou shinobi): “Esteja seguro de que você não
faz barulho enquanto utiliza ferramentas para invadir um lugar”.
Ordem dos Assassinos
→ Seita secreta islâmica chamada Hashashin, foi fundada no século XI e
atuou na Síria e na Pérsia. O fundador é Hassan Bin Sabbah, também chamado de
Velho da Montanha ou Senhor da Montanha, de origem persa, que fazia parte de
uma facção religiosa dentro do Islã, o islamelismo. Seus membros eram
basicamente assassinos políticos, e seu nome significa “usuário de haxixe”. Os hashashin eram divididos em grão-mestre,
dais (emissários), rafiqs (associados) e fadais (devotos). A ordem existiu até
aproximadamente 1260.
Ordem Hermética da Aurora Dourada
→ Criada na Inglaterra na década
de 1880, era uma sociedade mágica que reunia diversas formas de práticas
ocultas. Entre outras tradições mágicas, a Aurora Dourada (“Golden Dawn” em
inglês) incorporava a cabala e a magia cerimonial, que consistia na invocação
de espíritos. Quanto aos seus membros, não havia restrição de raça, religião ou
sexo. Seus fundadores afirmavam que a criação da ordem obedeceu a instruções de
um manuscrito do início do século XIX, escrito em código e contendo cinco
rituais e uma estrutura hierárquica. Posteriormente, descobriu-se que os textos
que davam base à organização haviam sido forjados, o que a deixou em
descrédito.
Opus Dei
→ Criado em 1928 pelo espanhol
Josemaría Escrivá de Balaguer, atualmente é uma prelazia pessoal reconhecida
pelo Vaticano. Por isso seus membros não precisavam seguir a autoridade
católica regional, mas sim o diretor da organização. O objetivo dos membros do
Opus Dei (Obra de Deus) é santificar o mundo. Os que vivem em função da
organização são chamados de numerários e precisam se confessar semanalmente
para o diretor do centro onde residem. Há também os que vivem “no mundo”, os
supranumerários, que podem se casar, ter filhos, viver em suas própria casas,
embora muitas vezes também recorrem à penitência física. A instituição é
acusada por muitos de ser ultraconservadora e submeter seus membros à
obediência cega. Proíbe a leitura de determinados autores, como José Saramago e
James Joyce. Seu fundador foi santificado, 27 anos após sua morte, por João
Paulo II, em 2002.
Simbologia: A Cruz no Mundo símbolo oficial do Opus Dei, a cruz dentro do círculo
representa o cristianismo inserido no mundo.
Ordem dos Nove Ângulos
→ É uma organização secreta
satanista criada no reino Unido, que ficou conhecida a partir da década de
1980. Presentes na Europa e em países de outros continentes, como Estados
Unidos, Austrália, Canadá e Rússia, seus membros defendem o satanismo como uma forma
de elevação do ser humano e de criação de uma civilização superior. Entre os
ritos de passagem está o isolamento em uma floresta por três meses, como forma
de desenvolver a personalidade. Fortemente marcadas pelo individualismo, as
ideias da Ordem dos Nove Ângulos buscam, segundo seus membros, a construção de
um individuo “franco, deleitado na exploração e na descoberta de ter uma
atitude essencialmente pagã de viver”. Sacrifícios humanos são incentivados
como forma de fortalecer a sociedade, livrando-a dos mais fracos.
Priorado de Sião
→ Suas origens míticas remontam a
1099, em Jerusalém, quando uma sociedade secreta teria sido fundada para
proteger um segredo relacionado ao santo Graal – a descendência humana de Jesus
Cristo. Mas fontes confirmam que a fundação só ocorreu em 1956, quando o
francês Pierre Plantard criou uma sociedade fraternal na cidade de Annemasse. Seus
membros se reuniam em uma localidade chamada Mont Sion com o objetivo de
restituir valores tradicionalistas e moralizadores para melhorar a
personalidade humana. De acordo com a mitologia criada, nomes como o do pintor
renascentista Sandro Botticelli e do cientista inglês Isaac Newton estiveram
ligados ao Priorado. Em 1993, Plantard confessou ter criado a ordem para se
legitimar como descendente da dinastia merovíngia (século V-VIII) no caso de
uma restauração monárquica.
Rosacruz
→ As primeiras referências à
irmandade mística Rosacruz apareceram na Alemanha, em manifestos anônimos, no
início do século XVII. Segundo os textos, o objetivo do grupo, “doutores
filósofos místicos”, era reformar a humanidade. Um dos manifestos identifica o
fundador da sociedade como Christian Rosenkreuz, personagem mítico que teria
vivido entre os séculos XIV e XV, e que teria estudado artes ocultas no Oriente.
Ao retornar à Alemanha, ainda de acordo com a lenda, Rosenkreuz transmitiu seus
conhecimentos ocultos a uma pequena fraternidade que se dedicava à cura e ao
amparo dos necessitados. Atualmente, diversas sociedades se declaram
descendentes deste suposto primeiro grupo.
Shindo Renmei
→ Junji Kikawa era ex-coronel do
exército japonês que vivia em
São Paulo durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1942, fundou
uma organização secreta chamada Shindo
Renmei (ou Liga do Caminho dos Súditos). O objetivo era reunir os colonos
em torno do sentimento nacional japonês. O Japão acabou se rendendo em agosto
de 1945, mas os seguidores de Kikawa se recusavam a aceitar a derrota do seu
país, já que seu imperador era considerado divino. A partir daí, começaram a
perseguir os japoneses que aceitaram a derrota, chamando-os de “corações
sujos”. A primeira vítima fatal foi Ikuta Mizobe, presidente da Cooperativa
Agrícola de Bastos (SP), que havia distribuído um comunicado confirmando que o
Japão perdera a guerra. Os matadores da organização atuaram durante 13 meses,
assassinado 23 pessoas e ferindo 147.
A polícia paulista identificou 31.380 imigrantes
suspeitos de ligação com o grupo.
P.S. “Corações Sujos” filme de Vicente Amorim foi baseado no livro de
Fernando Morais.
Skull and Bones
→ Fundada em 1832 na Universidade
de Yale (Connecticut, EUA), é cercada de teorias da conspiração. A mais
difundida delas diz que a CIA teria sido criada por membros do grupo, e três
presidentes americanos, inclusive Bush pai e filho, eram membros da sociedade.
Seu símbolo é uma caveira (skull, em inglês) com dois ossos (bones) cruzados
sobre o número 322 – não se sabe ao certo o significado deste número. O grupo
se reúne em um prédio no campus da universidade chamado Tumba. Recentemente,
relacionou-se a ele a morte de Osama Bin Laden. O codinome utilizado pelas
forças especiais norte-americanas para identificar o saudita foi “Gerônimo”, um
líder indígena que teve seus ossos supostamente roubados pela Skull and Bones.
Simbologia: Inicialmente chamada de Clube de Eulogia, a imagem da caveira com dois
ossos cruzados sobre o misterioso número 322 deu nome à sociedade
Thule
→ Grupo ocultista alemão fundado
em 1918 por Rudolf von Sebottendorff. Seu nome é uma referência a uma lenda
nórdica que evocava uma terra mítica próxima da Groenlândia. Lá teria vivido
uma civilização superior, a origem da raça ariana. Profundamente nacionalista,
teve entre seus membros nomes importantes do Partido Nazista, ainda que não
exista evidência de que Hitler tenha sido um deles. Embira um site oficial da
organização negue qualquer ligação coma ideologia nazista, sabe-se que seu
periódico, o Observador do Povo, tornou-se propriedade do partido em 1920 e
funcionou até a derrota dos alemães na Segunda Guerra, em 1945.
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