sábado, 25 de junho de 2016

Duas Almas


Alceu Wamosy



Ó tu, que vens de longe, ó tu, que vens cansada,
entra, e, sob este teto encontrarás carinho:
Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,
vives sozinha sempre, e nunca foste amada...

A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,
e a minha alcova tem a tepidez de um ninho.
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
se banhem no esplendor nascente da alvorada.

E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
podes partir de novo, ó nômade formosa!

Já não serei tão só, nem irás tão sozinha:
Há de ficar comigo uma saudade tua...
Hás de levar contigo uma saudade minha...

*****

Filho de José Afonso Wamosy, de origem húngara, e de Maria de Freitas, foi poeta simbolista. Publica seu primeiro livro Flâmulas, poemas, em 1913, quando já escreve para o jornal A Cidade, fundado por seu pai em Alegrete, Rio Grande do Sul.

Adquire em 1917 o jornal O Republicano, no qual permanece até a morte. No ano de publicação do seu Coroa de Sonhos, no qual enfeixa sua única contribuição relevante à nossa literatura “Duas Almas”, envolve-se ardentemente na Revolução de 1923, sendo ferido a bala e vindo a falecer em um “hospital de sangue” na companhia da mãe e da esposa, com a qual esposa casa-se in extremis.

É Patrono da Cadeira N.° 40 da Academia Rio-Grandense de Letras; aclamado patrono da Feira do Livro de Porto Alegre de 1967.



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