segunda-feira, 11 de julho de 2016

Histórias de Paraquedistas XX

Mae West e o paraquedismo


(Mae West: 1893-1980)

Por Nilo da Silva Moraes – pqdt 11.779

Entre os acidentes que pode sofrer um paraquedista militar, o mais terrível é o “charuto”, onde o velame desce sem se inflar. A solução é abrir rapidamente o reserva para amortecer a sua queda fatal.

Outro acidente um pouco mais comum é o “Mae West” que todos os recrutas entendiam como “Meio Esse”, que é quando uma linha lateral do velame passa por cima do nylon do paraquedas, foto abaixo, deixando-o em forma de um sutiã gigantesco. Muitos pqdts antigos, principalmente sargentos e oficiais, carregavam junto ao bute uma faca afiadíssima para, em caso do citado acidente, cortar o fio (ou os fios) que passava(m) por cima do velame, dando ao paraquedas a sua forma original.


Vi uma vez, numa manobra, e parece que era um pouco comum, um paraquedista descendo com o “Mae West” numa queda mais rápida, aterrar normalmente e sobreviver sem nenhuma fratura; vi, também, um pqdt descer com os dois paraquedas (principal semiaberto e o reserva aberto), e, pior ainda, os dois paraquedas se enredarem e nenhum abrir normalmente, causando a morte do paraquedista.


Casemiro Scepaniuk, pioneiro 44, foi, provavelmente, o primeiro paraquedista militar brasileiro a sofrer esse tipo de acidente no Brasil. (foto baixo, assinalado no círculo, quase no chão). Isso aconteceu em 1949, em Cumbica-SP. Ele fez todos os procedimentos aprendidos em Fort Bennig-USA, a aterrou com T-7 parcialmente aberto e reserva aberto inteiro.


E por que Mae West? Ela foi uma atriz norte-americana que se caracterizava por ter seios enormes e, na década de quarenta, no auge de sua carreira, era muito famosa, despertando nos soldados americanos uma fantasia erótica muito intensa. Nenhum de nós, os soldados novos de 64, tinham visto um filme da atriz, e nem sabia que “Meio Esse” era, na verdade, corruptela da palavra “Mae West”.

Adendo de Ly Adorno

Nilo, sua história é a expressão da verdade. Em 1951 ouvi do então Sgt Pqdt 42 Luiz de Araújo Nunes, pioneiro do paraquedismo militar no Brasil a confirmação deste seu relato sobre o nosso "meio-esse". Ly Pqdt 503/51-3. Dou fé ao relato.

Relatos de quem sofreu esse tipo de acidente

Descendo com Mae West


Cantarelli

Em 1976, a bruxa estava solta na Brigada Paraquedista. José Alfredo Cantarelli, Pqdt 7127 – 1960/10 vai dar um salto de rotina no Campo dos Afonsos. Treinamento de MS, salto noturno, o que complica um pouco. Sai do avião normalmente, quando constata que está descendo em “Mae West”. Com 16 anos de prática em saltos, resolve fazer tudo como manda o manual. Tira o punho do paraquedas reserva e o coloca no bolso, solta o piloto para poder comandar o velame lentamente, mas o piloto do reserva entra direto no velame do paraquedas principal. Na ânsia de recolhê-lo para evitar maiores problemas, não percebe que o solo se aproxima rapidamente. Aterra com muita violência, chegando a amassar o capacete de aço. Não se feriu mais, pois aterrou numa moita de carqueja. Só vai recobrar a consciência no meio do caminho entre o Campo dos Afonsos e o Hospital Carlos Chagas de Marechal Hermes.


Acidentes em Curso de MS

O que é que a baiana tem?

Jairo Fernando Martins Pacheco, Pqdt 15.812 – 1967/2, o Pachequinho para os amigos do Grafonsos, é dos seres humanos mais tranquilos que conhecemos. Com o seu jeito calmo, tímido, ele e sua esposa formam um casal dos mais assíduos frequentadores de todos os almoços do Grafonsos. Mas o Pacheco tem suas histórias para contar... e muitas.

1970, Itabuna, Bahia, Curso de Mestre de Salto. Em volta da pista, várias barraquinhas para a venda de Acarajé, comida típica baiana. Salto de treinamento com dia de vento forte. Saída e abertura normal do paraquedas, mas aterragem violenta no solo. O nosso amigo Pacheco bate forte no chão e, consequentemente, desmaia. Depois de um tempo, ele acorda no colo de uma baiana toda de branco. Pacheco arregala os olhos e, assustado, deduz:

- Meu Deus, morri e estou no céu!

O Pqdt do abacaxi

Esta história aconteceu em Belém (capital do Estado do Pará) nos idos de 1963, com José Benedito Rodrigues, Pqdt 5113 – 1958/6.

Quando do meu Curso de Mestre de Salto (1963/1 CMS) envolveu as cidades de Manaus e Belém, sendo interrompido em consequência do "movimento" dos Sargentos em Brasília. Deixando o "movimento" de lado, lembrei-me de uma "mancada" - na atual conjuntura, "mico" – quando, em um dos saltos em Belém, ao "aterrar" em cima de uma plantação de abacaxi, comecei a arrancar os tenros pezinhos daquela deliciosa fruta pensando que era na raiz que se encontrava o suculento fruto. Aí, não sei se foi o Luiz ou o Melquíades que me perguntou se eu tinha batido com a cabeça no chão por ocasião da aterragem, considerando-se que abacaxi "dá em cima e não em baixo".

O dia em que o Auxiliar foi Mestre de Salto

O Mestre de salto inspeciona a aeronave, organiza as equipes, fiscaliza a correta colocação dos equipamentos e lança os paraquedistas. O MS lança e o Aux. de MS ajuda.

Vejam o que aconteceu com o Pqdt 10.919 – 1963/09 Sérgio de Oliveira Mattos.

“Estava na função de Auxiliar de Mestre de Salto na ZL de Afonsos. Tudo corria bem. As equipes anteriores já tinham saltado, sem problemas. Como sabemos, a última equipe é a do MS do avião. Após os comandos regulamentares do Sgt Lopes (Zarza), MS do avião, a última equipe saiu. Eu seria o último a saltar, pois controlava o fluxo de saída, quando deparei com um incidente: Um soldado enganchou o seu Para-fal no banco entrelaçado do Búffalo e travou os soldados da porta da direita. O Sargento Lopes saltou com a equipe e o soldado parado, tentando desenganchar a sua arma. Quando desenganchou e veio para saltar, eu, numa rapidez de raciocínio, pensei: há uma pedreira no fim da pista. Coloquei-me à frente da porta impedindo-o de saltar. Na hora tocou horror no avião. O Rec-Fitas, Sgt (?), aloprou lá em cima e eu tomei a atitude de “mandar” ele pedir mais uma passagem ao piloto, que nos atendeu. Imediatamente, mandei os soldados restantes da equipe (quatro) trocar de porta, pois o avião não para; fui à porta e lancei a “equipe”. Após o salto, fui à Equipe Prec (Cap Gilseno e Sgt Alcântara) narrei o que houve e ainda fui elogiado verbalmente pela iniciativa.”

 O dia em que o Rec-fitas comandou um lançamento

Era um salto de manobra, pelas portas laterais, uma única passagem, na região de Macaé-RJ. Eu era o Rec-Fitas do avião. Como não notei nenhum movimento dentro da aeronave depois do toque de “20 minutos para a ZL”, procurei o MS do avião (Sgt Pereira) para saber se estava tudo em ordem. Encontrei-o deitado, próximo à cabine do piloto, ao lado dele o Aux MS do avião (?), ambos passando mal, daquele velho e conhecido problema de estômago. Falei com o MS do avião que prosseguiria com o lançamento e ele fez sinal de positivo com o polegar. Após amarrar aos corpos dos militares os pacotes que alguns portavam, fiz os procedimentos regulamentares e executei o lançamento. Até aí tudo bem. Quando fui à porta recolher as fitas, vi que um pacote havia se desprendido do corpo de um militar e caía em queda livre. Recolhi as fitas. Dias depois, recebi duas notícias: a) Dentro do pacote havia uma metralhadora que foi danificada; b) Estava enrolado em uma Sindicância, sob a acusação de não ter amarrado corretamente o pacote ao soldado. (David Alves dos Santos, Pqdt nº 10.935 – 1963/09, na época Sgt Alves ou “Sgt Prego”.

Comentários da redação:

O Sgt Prego esteve em nosso último almoço lá no CSSVM, no dia 18 Julho, pp. Para quem não é operacional, num pelotão de infantaria existem três grupos de combate (8 ou 10 soldados), em cada grupo um soldado é “premiado” para levar uma metralhadora .30 num pacotão que era chamado P2B, que, de tão pesado, o soldado o levava “arrastando” até o avião e lá em cima o MS acoplava “o pacotinho” embaixo do paraquedas reserva. No meu grupo, no salto operacional da ZL Air France, em 1964, Jacarepaguá-RJ, o “premiado” foi o soldado Adilson Stort, hoje com trincheira em Nova-Iguaçu-RJ. O Pimentel e o Ferreira, ambos residindo em Vitória-ES, participaram daquele exercício. O Tenente Gilseno era o Comandante do Pelotão. O Nilo (Moraes), hoje com trincheira em Porto Alegre, que é o nosso compilador do Almanaque do Grafonsos, também teve a honra e o privilégio de saltar naquela ZL, com aquele famoso pacote aterrar com o mesmo grudado no corpo, mas sem nenhum ferimento. Os demais soldados saltavam com um pacote mais leve chamado P2D.

Paulo Fagundes – pqdt 11.372 – 1964/2

Biografia de Mae West

Atriz e argumentista norte-americana, nascida em Brooklin, começou aos cinco anos no teatro em "The Baby Vamp". Fez teatro de revista, a partir de 1911 na Broadway. Divertida e sensual marcou o cinema quando interpretou com desenvoltura a peça de sua autoria "Sexo", que lhe valeu oito dias de prisão. Mae sempre gostou de escandalizar. A Paramount contratou-a a partir de 1928. Os seus mais conhecidos filmes foram "Uma Noiva para Três", 1933; "Não sou um Anjo", 1933; "Annie, Missionária no Klondyke", 1934; "Riquezas da Avó", 1940; e "Myra Breckenridge", 1970. Também atuou em espetáculos em Las Vegas. É uma das mais célebres atrizes de cinema de sempre, pela sua irreverência e sensualidade. Escreveu a autobiografia em 1954. Esteve ausente dos ecrãs mais de trinta anos tendo reaparecido em 1970. Foi a típica "vamp", dos anos 40 e 50. Foi imortalizada pelo pintor Dali na tela com o título "Face de Mae West", como se fosse a decoração de um apartamento.

Em 1959, ela publicou seu livro de memórias: "A Bondade Nada Tem a Ver com Isso". É uma autobiografia como a de tantas outras atrizes. Mas contém uma das marcas registradas de Mae, a franqueza e a ironia. Na qual, por exemplo, diz que não foi ébria durante toda a sua vida: "Meu vício foi outro, ainda é outro - o homem."

A artista conta que, apesar de amar os homens, casou-se apenas uma vez, aos 17 anos. O casamento foi uma decepção e ela nunca mais quis saber de compromissos. Todavia, conheceu homens de todos os tipos, desde grandes milionários até políticos, agentes, atores, produtores, juízes, financistas, etc.

Essas memórias mostram bem as aventuras de Mae, que dizia: "Os melhores homens são os que já passaram dos 40, muito ricos e não muito seguros de si."

Ultimamente vivia mais ou menos refugiada entre suas duas propriedades: uma na região de Los Angeles e outra, um apartamento, em Hollywood. As duas residências mobiliadas no estilo e gosto dos anos 30, cercada por seus dois macacos. Mae West recebia raras visitas e sempre em seu leito: "Todo mundo sabe que onde melhor trabalho é na cama.”. Faleceu em 1980 aos 87 anos de idade.

Frases de Mae West


“Claro que meu amante pode confiar em mim. Eu disse a ele que centenas já confiaram.”

“Subtração aritmética é deixar com 2 dólares um homem que tem uma nota de 100.”

“O casamento é uma grande instituição, mas eu não estou preparada para as instituições.”

“Quando sou boa, sou muito boa, mas quando sou má, sou melhor ainda.”

“Entre dois males, escolho sempre aquele que nunca experimentei.”

“Quando as mulheres erram, os homens vão atrás.”

“Errar é humano, mas faz você se sentir divino.”

“Você nunca será muito velho para ficar mais novo.”

“Garotas boas vão para o céu, as más vão para outro lugar.”

“Geralmente evito tentações, a não ser que eu não possa resistir.”

“Tenha um namorado para um dia chuvoso - e outro, caso não chova.”

“Querido, você está com uma lanterna no bolso, ou isso é uma declaração de amor?”

(Mae West a alguém com quem dançava).


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