segunda-feira, 11 de julho de 2016

O Caso dos Dez Negrinhos

Aghata Christie

Várias pessoas são convidadas a irem à mansão situada numa ilha. Lá chegando, percebem que estão à mercê de um desconhecido. Um a um, vão sendo eliminados de diferentes maneiras. E, cada vez que ocorre uma morte, desaparece uma das estatuetas negras que enfeitam a sala do casarão. Quem afinal os convidara e as mantém sob constante ameaça? Por que estão ali e quem parece tê-las condenado à morte?

Apavorados, os sobreviventes de cada crime nada podem fazer. Assistem às cenas terríveis que vão ocorrendo e tecem hipóteses sobe esses fatos que ameaçam suas próprias vidas. É o que acontece depois da noite do general Macarthur, um dos prisioneiros da ilha.

Sinopse

Dez pessoas diferentes recebem um mesmo convite para passar um fim de semana na remota Ilha do Soldado. Na primeira noite, após o jantar, elas ouvem uma voz acusando cada uma de um crime oculto cometido no passado. Mortes inexplicáveis e inescapáveis então se sucedem. E a cada convidado eliminado, também desaparece um dos soldadinhos que enfeitam a mesa de jantar. Quem poderia saber dos dez crimes distintos? Quem se arvoraria em seu juiz e carrasco? Como escapar da próxima execução?

O Gen. Macarthur fora depositado na sua cama.
Depois de fazer um derradeiro exame, Armstrong deixou o quarto e desceu a escada. Encontrou os outros reunidos na sala de estar.
Miss Brent fazia tricô. Vera Claythorne estava junto da porta envidraçada, olhando a chuva que fustigava os vidros. Blore conservava-se teso na sua cadeira, com as mãos pousadas nos joelhos. Lombard caminhava irrequieto de um lado para outro. E, no fundo da peça, o Juiz Wargrave estava sentado numa bergère, com os olhos semicerrados.
Quando o doutor entrou, o juiz abriu os olhos e disse numa voz clara e penetrante:
− Então, doutor? Armstrong estava muito pálido.
− Nada de colapso cardíaco ou coisa parecida − disse ele. − Macarthur foi golpeado na nuca com uma soqueira ou outra arma desse gênero.
Um pequeno murmúrio deu volta à sala, mas a voz clara do juiz impôs-se mais uma vez.
− Achou a arma que foi usada?
− Não.
− Contudo, está seguro do que afirma?
− Seguríssimo.
O Juiz Wargrave falou em tom tranquilo.
− Agora sabemos exatamente onde estamos.
Já não havia dúvida sobre quem tomara conta da situação. Durante a manhã Wargrave ficara encolhido na sua cadeira, no terraço, abstendo-se de toda atividade exterior. Agora, assumia o comando com a facilidade nascida de um longo hábito de autoridade. Passara a presidir francamente os trabalhos do tribunal.
O magistrado compôs o peito e tornou a assumir a palavra.
− Esta manhã, cavalheiros, enquanto ficava sentado no terraço, estive observando as suas atividades. Pouca dúvida podia haver quanto ao propósito que os animava. Revistaram a ilha em busca de um assassino desconhecido?
− Exatamente, senhor − disse Philip Lombard. O juiz continuou:
− Os senhores chegaram, sem dúvida, à mesma conclusão que eu. Isto é, que as mortes de Anthony Marston e da Sra. Rogers não foram acidentais, nem foram suicídios. Sem dúvida também chegaram a uma conclusão positiva quanto ao propósito do Sr. Owen em nos atrair a esta ilha.
Blore exclamou em voz rouca:
− É um louco! Um tarado!
O juiz tossiu.
− Isso é quase certo, mas pouco afeta o caso. Nossa maior preocupação é esta: salvar nossas vidas.
Armstrong atalhou em voz trêmula:
− Não há ninguém nesta ilha, afirmo-lhe. Ninguém! Wargrave afagou o queixo e respondeu com brandura:
− No sentido que tem em mente, não. Cheguei a essa conclusão hoje de manhã. Poderia ter dito aos senhores que sua busca seria infrutífera. Não obstante, inclino-me pela opinião de que o "Sr. Owen" (para lhe dar o nome que ele próprio adotou) está efetivamente na ilha. Muito efetivamente. Dado o plano em apreço, e que não é mais nem menos do que a execução da justiça sobre determinados indivíduos por crimes que estão fora da alçada da lei, só havia um meio de pôr esse plano em prática. O Sr. Owen só podia vir à ilha de um modo.
“A coisa está perfeitamente clara. O Sr. Owen é um de nós...”

Tradução de Leonel Vallandro.
Obra editada pela Editora Globo e pela Abril Cultural

Mas tudo gira envolta de um poema

Dez negrinhos vão jantar enquanto não chove;
Um deles se engasgou e então ficaram nove.
Nove negrinhos sem dormir: não é biscoito!
Um deles cai no sono, e então ficaram oito.
Oito negrinhos vão a Devon de charrete;
Um não quis mais voltar, e então ficaram sete.
Sete negrinhos vão rachar lenha, mas eis
Que um deles se corta, e então ficaram seis.
Seis negrinhos de uma colmeia fazem brinco;
A um pica uma abelha, e então ficaram cinco.
Cinco negrinhos no foro, a tomar os ares;
Um ali foi julgado, e então ficaram dois pares.
Quatro negrinhos no mar; a um tragou de vez.
O arenque defumado, e então ficaram três.
Três negrinhos passeando no Zoo. E depois?
O urso abraçou um, e então ficaram dois.
Dois negrinhos brincando ao sol, sem medo algum;
Um deles se queimou, e então ficou só um.
Um negrinho aqui está a sós, apenas um;
Ele então se enforcou, e não ficou nenhum.


Aghata Christie nasceu na Inglaterra em 1891 e morreu em 1976. Coloca-se entre os mais populares escritores do gênero policial em todo o mundo. Entre seus romances, muitos deles adaptados para o cinema, destacam-se “Assassinato no Expresso Oriente”, “A Morte no Espelho”, “Cai o Pano” e “O Caso dos Dez Negrinhos”.

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