Não
sei se vocês já leram ou ouviram alguma coisa sobre a Momolândia, um país que
afundou no oceano Atlântico há milhares e milhares de anos. Ninguém sabe ao
certo como seu povo foi dizimado. Entre os documentos encontrados no cofre de
um banco arrombado, há um que fala sobre uma terrível epidemia chamada salarite
minumis, que quase dizimou todo o seu povo – salvou-o o Rhum Creosotado.
Outra
grave moléstia, que frequentemente atacava o sistema nervoso do momolandiano,
era a chamada politicomielite, causadora da devastadora paralisia
estatal. Mas a saúde do povo era uma preocupação constante das autoridades, que
instituíram a “medicina de grupo”. Tanto que, pela manhã, ficavam grupos de
doentes nas filas, esperando pelos médicos.
A justiça
da Momolândia era implacável: quem cometia um crime era preso e assim ficava
até o dia do julgamento, quando era posto em liberdade.
Na
Momolândia, todos nasciam iguais perante a lei, mas esse problema eles
conseguiram resolver. As leis proibiam também que os naturais da terra
carregassem dinheiro – só os estrangeiros podiam carregar o dinheiro dos
momolandianos. A poligamia era severamente proibida. Só era permitida a
monogamia, regime no qual um homem podia ter várias esposas, sendo que, sua
mesmo, só uma.
A
fauna da Momolândia tinha apenas 25 bichos, que, à tarde, subiam pelos postes.
Mas há uma lenda que fala num tipo de tubarão, perigosíssimo, que, em vez de
viver no mar, vivia no comércio da terra.
Uma
das maiores riquezas do país era o petróleo. Sua procura era uma verdadeira
obsessão. Por isso havia enormes buracos em todas as ruas e em todas as
estradas.
Apesar
de ser um povo muito religioso, o momolandiano não frequentava as igrejas.
Preferia rezar nos supermercados. Olhava para os preços super-remarcados e
orava: “Ave Maria! Nossa Senhora! Meu Jesus! Santo Deus!”. A santa padroeira da
Momolândia era a santa Paciência.
Engenheiros
da Momolândia puseram em prática um engenhoso plano rodoviário: abriram uma
grande estrada, no meio de uma densa floresta, para que as pessoas pudessem
passar por ela de avião.
O
momolandiano era um povo pacífico, de boa índole, nada vingativo. Quando alguém
o explorava, ele não pagava na mesma moeda. Pagava em dólar. E era um povo
muito sensível: quando encontrava uma galinha preta atravessada numa
encruzilhada, acendia logo uma vela.
Tudo
na Momolândia tinha um lado bom, a não ser as mulheres, que tinham dois. A
educação é que era problema: as escolas caríssimas, o material escolar pela
hora da morte. Basta dizer que o material escolar mais barato era o professor.
O
solo da Momolândia era extremamente montanhoso, sendo que o monte mais
importante era o monte Inflação, cujo pico era muito alto.
Na
Momolândia, tanto o trânsito como os refrigerantes era engarrafados. Sendo o
povo de espírito altamente inventivo, os momolandianos inventaram, entre outras
coisas, o automóvel sem vaga, o telégrafo sem troco e o policiamento sem
soldado. Cultivaram o diálogo: podia-se falar com qualquer pessoa, menos com o
motorista, e nunca explicaram por quê. O problema da empregada doméstica não
existia. Existia, sim, o problemas da patroa, que não achava empregada de jeito
nenhum.
Afirmam
os pesquisadores da Momolândia que, um dia, um rei, vindo de longe, resolveu
decretar a abertura dos portos às nações amigas, permitindo assim a invasão de
uísques, relógios, cigarros, perfumes, carros e filmes pornográficos, com
graves prejuízos para a indústria do país.
Politicamente,
a Momolândia era dividida em estados: estados menores e estados maiores. E o
estado que mandava era sempre o Estado-Maior.
Diz
a História que a Momolândia ficou independente no dia 7 de setembro de 1822.
Mas isso é história...
(Texto de Max Nunes, no livro “Uma pulga na camisola”,
seleção e organização de Ruy Castro)
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