(uma enquete profissional)
Para os humoristas, a
Vida não passa de uma boa piada.
Mas, o que pensam as pessoas de
outras profissões a respeito da Vida? Consultei algumas e resultado foi esse:
L.C.F., alfaiate:
→ A Vida só dá pano pra manga. É
a maior rasgação de seda que existe. Um dia tudo vai bem, no outro ela te bate
o brim. Procurar um lugar ao sol é procurar uma agulha no palheiro. A vida não
dá camisa a ninguém, amigo. Te deixa com as calças na mão anos a fio e no fim
ainda te abotoa o paletó.
B.G.R., padeiro:
→ Que Vida, meu chapa! Estou aqui
suando e comendo o pão que o Diabo amassou e você vem me falar de Vida? A Vida me
deu um bolo quando eu nasci brasileiro. Agora tenho que sustentar o burro a
pão–de-ló, lá em Brasília.
E sem me queixar senão levo bolacha na cara. A Vida não é
biscoito, meu chapa.
C.E.P. horticultor:
→ Ah, a Vida... É um tal de
descascar um abacaxi atrás do outro... Gente nos mandando às favas por culpa do
intermediário... O ICM te espinafrando... A mulher, que antes era uma uva, uma
pele de pêssego, agora tá feia e me manda plantar batatas todas às noites...
Ah, a Vida... Já foi um chuchu, mas embananaram tudo...
O.D.E.,
ferramenteiro:
→ Dá pá virada, moço, dá pá
virada. É isso que a Vida tá. Parece que o mundo tem um parafuso frouxo. A gente
senta pua no trabalho decente e não há recompensa. Tenta a boa fé e lá vem
picaretagem. Em pouco tempo tá no prego, não é?
H.S., ourives:
→ Hum, a Vida... Olha eu acho que
não adianta nascer em berço de ouro. Às vezes, a Vida te dá um caráter que não
vale um níquel, e aí? Termina o senhor com um testa de ferro qualquer. Pra
levar a Vida tá, não há prata da casa que aguente. Até seria joia se acabasse
mais cedo
J.I.T., marceneiro:
→ Bom, com um cara de pau a Vida está
salva. Claro, você pode ser honesto, ser pau para toda obra, etc. Só que tem um
detalhe: os cavacos do ofício. Eles atrapalham a sua Vida de um jeito que não
tem solução e você é obrigado a botar o pé na tábua. Ou baixar a lenha
corajosamente. E te dou um conselho: quando vier de sarrafo, te manda. Resistir
acaba em pijama de madeira.
W.V.N., bancário:
→ Vida com V maiúsculo? Não vale
um tostão furado. É um cheque sem fundos. E tem mais: não tem compensação
nunca, sabe? Faz cada uma que você tem que pagar na mesma moeda. Quanto mais sujeira
te faz, mais você tem de dar o troco. O resto é saldo negativo.
S.R.S., fiscal do
Instituto Nacional de Pesos e medidas:
→ A Vida ficou ruim pra mais de
metro. Nunca dá um quilo certo! Todo mundo sabe que ela tem dois pesos e duas
medidas, com a justiça, pode?
B.K.L., escritor:
→ Se a Vida não escrevesse certo
por linhas tortas, até que gostaria falar dela. Ao pé da letra, a Vida não é
mais do que um rascunho, um esboço. Vida, vírgula! É sempre bem concebida e,
depois mal acabada. Roteiros, mesmo assim, eu desejaria uma reedição da Vida.
Porque essa que estamos vivendo é apenas sinopse. E ponto final.
E.E., artista de
circo:
→ Não fossem as acrobacias, a vida
seria uma boa, não é? Mas não tem fim essa corda bamba. É tanta zebra, tanto
amigo urso, que você banca o palhaço e tem que fazer mágica para manter o show.
Tenho esperança de que a coisa mude, pois na lona não pode ficar.
U.S.D., consultor
sentimental:
→ Estou de coração ferido com a Vida. Tenho a alma em pedaços. Meu orgulho
está ferido.
M.Z.I., mestre-de-obra:
→ A Vida faz o que lhe dá na
telha. Encosta todos contra a parede. Tira o colchão embaixo dos teus pés. E entra
areia, não é?
J.L.O., farmacêutico:
→ Sim, eu acho a Vida uma droga
mesmo dourando a pílula, não se pode engolir. É dose. Receita para melhorá-la?
Se eu tivesse, seria uma injeção de ânimo em mim. Acredito que a Vida
não passe de uma amostra grátis. O negócio é encontrar uma fórmula de ir
levando, já que ela não tem remédio. Mas vamos parar com essa entrevista sobre
a Vida que tá ficando xarope, tá?
Aí desistir:
com pessimismo profissional não é possível.
*****
Nascido em 1946, em Porto Alegre , Fraga
foi bolsista e aluno interno no Colégio Cruzeiro do Sul. Como redator
publicitário, atuou em agências de Porto Alegre e centro do país. Como
jornalista, manteve coluna de humor nos principais jornais da capital gaúcha e
colaborou com inúmeras publicações, locais e nacionais. O material reunido na
retrospectiva foi antes publicado em O Pasquim , Exemplar, Zero Hora, Carrinho, Folha
da Manhã, Diário de Notícias, Coojornal, Risco, Diário do Paraná, Ovelha Negra,
Programa, Atenção!, Ficção, A Raposa, Pasquim 21, Bundas, Coletiva.net, JÁ,
Solda Cáustico, Jornal Extra Classe, Revista Carta Capilé, Correio de Gravataí,
Diário de Viamão, Diário de Cachoeirinha, Varanda Cultural, Twitter, Playboy,
entre outros, de meados de 1971 ao início de 2015. Também organizou as
coletâneas QI 14 e Antologia Brasileira de Humor, exposições coletivas com
cartunistas gaúchos e nacionais como Humor nos Eixos (1977) e O Riso é Livro
(2010).
Em 1980, publicou seu primeiro
livro “Punidos Venceremos” e o segundo, Frasista, por assim dizer, que reúne
1.551 frases, lançado em 2016 – ambos pela Motriz Assuntos Gráficos,
“quixotesca empresa” que mantém em parceria com Zimbres e Beto Abreu. O
catálogo da exposição será lançado em álbum ainda este ano, primeiro sob
demanda, depois, em edição comercial na Feira do Livro.
Olá, só nesta semana comecei a ler Punidos Venceremos e estou encantada. Agora quero saber, onde está o Fraga? Onde tem trabalho dele? Exposição?
ResponderExcluirViver é não pensar muito no dia de ontem, perderá a maior parte do dia de hoje. Desfrute da simplicidade e incerteza da vida. Aproveite o amor que a vida lhe oferece todos os dias e ignore os pensamentos pessimistas. Seja feliz do seu jeito!
ExcluirCabeleireira