quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Chove


Chove.
A natureza está chorando
E atirou lágrimas na minha janela.
Nós dois estamos tristes, pessimistas.
Por certo as causas não serão as mesmas.
Os pingos, vagarosos como lesmas,
Lambem itinerários na vidraça.
Um dedo de cachaça pra ver se a chuva passa!

E ela não veio.
E, com esse tempo, creio, me dará o bolo.
E eu aqui dentro, preso como um tolo.
Minha vontade é acabar com a vida:
Revólver, formicida, qualquer coisa, afinal,
Que me perfure ou me corroa... mas não doa!
Eta mulherzinha à-toa, sem moral, sem palavra, cretinaça!
Dois dedos de cachaça pra ver se a chuva passa!

Formicida eu não tomo, é morte arcaica.
Não conheço coisa mais prosaica
Que um sujeito mandar para a barriga
Uma fórmula de química estrutura
Que os que protegem a nossa agricultura
Só inventaram para matar formiga.
Pra que eu exale o último suspiro,
Nada melhor, mais rápido, que um tiro:
Com um balaço na parte abdominal,
Eu promovo a mixórdia visceral
Capaz de me arrancar dessa desgraça.
Seis dedos de cachaça pra ver se a chuva passa!

E ela não veio.
Porém, não é por vergonha, amor-próprio,
Doença ou honestidade.
Não! Que ingenuidade!
Ela não vem de maldade, de pirraça!
Dez dedos de cachaça pra ver se a chuva passa!

E passou! Passou a chuva, de repentemente.
Ela vem por aí, naturalmente,
Com uma mentira pronta pra mentir,
Mas eu não quero mais, de modo algum.
Mas a chuva passou e ela não tarda.
E, assim que ela chegar, irei de mão armada,
Pois não posso conter minha revolta.
Um copo de cachaça pra ver se a chuva volta!

E ela não vem.
Mas ela quem?
Eu não marquei encontro com ninguém!
Que faz na minha frente o formicida,
Por que na minha mão esse trabuco?
Um litro de cachaça pra deixar de ser maluco!


Texto de Max Nunes


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