segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Histórias do Mário Lago


26.11.1911 – 30.05.2002

→ Foi um advogado, poeta, radialista, compositor e ator brasileiro.


Mário Lago deu uma entrevista à revista Bundas em janeiro de 2000, dessa entrevista retiramos algumas partes que julgamos que são informações históricas e que devem ser lidas pelos leitores do nosso almanaque.

→ Ziraldo: Como era seu relacionamento com Noel Rosa?

Mário: Eu não me dava bem com Noel. Ele passava pelos bares que eu frequentava, mas não entrava, o reduto dele era a parte xumbrega da Lapa. E depois houve um caso... sou inspirador do samba: “Pra que mentir.”

Para que mentir?

(Vadico e Noel Rosa)

Para que mentir
Se tu ainda não tens
Esse dom de saber iludir?
Pra quê? Pra que mentir,
Se não há necessidade
De me trair?

Pra que mentir
Se tu ainda não tens
A malícia de toda mulher?
Pra que mentir, se eu sei
Que gostas de outro
Que te diz que não te quer?

Pra que mentir tanto assim
Se tu sabes que eu sei
Que tu não gostas de mim?
Se tu sabes que eu te quero,
Apesar de ser traído
Pelo teu ódio sincero
Ou por teu amor fingido?

→ Pimentel: Você tomou a mulher do Noel Rosa?

Mário: Na tomei, aquilo já estava no fim. No início nós éramos só amigos, íamos ao teatro, ao cinema, meses depois é que fomos resolver o assunto. Sempre tratei mulher (prostituta) como gente. Eu gostava de ter mulheres amigas. Tive grandes amigas prostitutas, ficávamos conversando, íamos ao cinema, sem ter nada. Uma vez eu estava com uma dor-de-cotovelo, tomei um porre, uma prostituta me levou pra casa, me deu banho, me deixou dormir na cama dela, sem nada. Guimarães Rosa é que diz: “Amor que há, é o das putas, que elas conhecem a alegria de viver”.

O hino do partido comunista brasileiro

→ Agora estou pensando em contar a história da delegação brasileira que foi a uma reunião internacional em Moscou. Todos os partidos comunistas têm o seu hino próprio, além da Internacional, mas o brasileiro não tinha. Ficavam perguntando: “Mas vocês não têm um hino? Então o pessoal cantou:

Aurora

Mário Lago / Roberto Roberti

Se você fosse sincera,
Ô ô ô ô,
(ergue os braços como um revolucionário)
Aurora!
Veja só que bom que era.
Ô ô ô ô,
Aurora!

Se você fosse sincera
Ô ô ô ô,
Aurora!
Veja só que bom que era
Ô ô ô ô,
Aurora!

Um lindo apartamento
Com porteiro e elevador,
E ar refrigerado
Para os dias de calor,
Madame, antes do nome,
Você teria agora,
Ô ô ô ô,
Aurora!

→ Mário: Achavam que era um hino em homenagem ao navio Aurora.

Devolve”

Valsa de Mário Lago – 1942

Mandaste as velhas cartas comovidas
Que, na febre do amor, te enviei.
Mandaste o que ficou de duas vidas,
Um romance e uma dor que eu provei.
Mandastes tudo, porém,
Falta o melhor que eu te dei

Devolve toda a tranquilidade,
Toda a felicidade
Que eu te dei e que perdi.
Devolve todos os sonhos loucos,
Que eu construí aos poucos
E te ofereci.
Devolve, eu peço por favor,
Aquele imenso amor,
Que nos teus braços esqueci.
Devolve, que eu te devolvo ainda,
Esta saudade infinda,
Que eu tenho de ti.



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