Texto sério
Visita à casa paterna
Luís Guimarães Júnior
Como a ave que volta ao ninho antigo,
depois de um longo e tenebroso inverno,
eu quis também rever o lar paterno,
o meu primeiro e virginal abrigo.
Entrei. Um gênio carinhoso e amigo,
o fantasma talvez do amor materno,
tomou-me as mãos — olhou-me grave e terno,
e, passo a passo, caminhou comigo.
Era esta a sala (oh! se me lembro! e quanto!)
em que da luz noturna à claridade
minhas irmãs e minha Mãe... O pranto
jorrou-meem
ondas... Resistir quem há de?
Uma ilusão gemia em cada canto,
chorava em cada canto uma saudade.
depois de um longo e tenebroso inverno,
eu quis também rever o lar paterno,
o meu primeiro e virginal abrigo.
Entrei. Um gênio carinhoso e amigo,
o fantasma talvez do amor materno,
tomou-me as mãos — olhou-me grave e terno,
e, passo a passo, caminhou comigo.
Era esta a sala (oh! se me lembro! e quanto!)
em que da luz noturna à claridade
minhas irmãs e minha Mãe... O pranto
jorrou-me
Uma ilusão gemia em cada canto,
chorava em cada canto uma saudade.
Luís Guimarães Júnior,
Sonetos e Rimas. 3.a ed., Lisboa,
Clássica, 1914, p. 11.)
Visita ao tesouro
Primeira paródia
Visita ao tesouro
Acácio de Xexas
Como um’ave que volta ao ninho antigo,
depois de fazer muito desaforo,
eu quis também rever este Tesouro,
o meu primeiro e virginal abrigo.
Entrei. Um gênio pérfido e inimigo
(era o espectro do Déficit!), num choro,
por entre ratos e gambás em coro,
tomou-me as mãos, e caminhou comigo.
Aqui, outrora... (oh! se me lembro e quanto!)
houve muito dinheiro acumulado!
E hoje, Papai, nem um vintém... O pranto
jorrou-meem ondas... Meu
tesouro amado!
Um compadre comia em cada canto,
comia em cada canto um emboscado
depois de fazer muito desaforo,
eu quis também rever este Tesouro,
o meu primeiro e virginal abrigo.
Entrei. Um gênio pérfido e inimigo
(era o espectro do Déficit!), num choro,
por entre ratos e gambás em coro,
tomou-me as mãos, e caminhou comigo.
Aqui, outrora... (oh! se me lembro e quanto!)
houve muito dinheiro acumulado!
E hoje, Papai, nem um vintém... O pranto
jorrou-me
Um compadre comia em cada canto,
comia em cada canto um emboscado
(Idel Becker, comp.
Humor e humorismo: poesia e versos,
e paródias de poemas famosos.
São Paulo. Brasiliense, 1961, p. 309.)
Clássica, 1914, p. 11.)
Nota. Acácio de Xexas é o apelido dado, no livro Lira
Acaciana (1900), por Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Pedro Tavares Júnior a
Alberto Torres, presidente do Estado do Rio. Sendo três os autores da obra,
ficamos sem saber quem realmente escreveu a paródia.
Visita à casa da sogra
Itamar Siqueira
Segunda paródia
Visita à casa da sogra
Itamar Siqueira
Como urubu que regressasse ao ninho,
a ver se ainda um bom caminho logra,
eu quis também rever a minha sogra,
o meu primeiro e virginal carinho.
Entrei. Pé ante pé, devagarzinho,
o fantasma, talvez, daquela cobra...
tomou-me as mãos, olhou-me bem, de sobra...
E levou-me para dentro, de mansinho.
Era este quarto, oh! se me lembro, e quanto...
em que, à luz da lua que brilhava,
o pau roncava forte, tanto e tanto,
no costado da gente, sem piedade,
um cacete bem grosso lá no canto...
Minhas costas choraram de saudade...
a ver se ainda um bom caminho logra,
eu quis também rever a minha sogra,
o meu primeiro e virginal carinho.
Entrei. Pé ante pé, devagarzinho,
o fantasma, talvez, daquela cobra...
tomou-me as mãos, olhou-me bem, de sobra...
E levou-me para dentro, de mansinho.
Era este quarto, oh! se me lembro, e quanto...
em que, à luz da lua que brilhava,
o pau roncava forte, tanto e tanto,
no costado da gente, sem piedade,
um cacete bem grosso lá no canto...
Minhas costas choraram de saudade...
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