domingo, 28 de agosto de 2016

Sítio do Pica-Pau Amarelo


Como era o Sítio do Pica-Pau Amarelo?

Por Nina Rahe


 Ilustras Japs

1) A curiosidade matou a sardinha:

→ Na cozinha, Tia Nastácia preparava várias delícias. Quando os integrantes do Reino das Águas apareceram no sítio, a cozinheira ganhou uma companheira muito enxerida. A Senhorita Sardinha se metia em tudo: provou sal, açúcar e até trepou no fogão para espiar a frigideira de gordura. Pulou dentro dela achando que fosse uma lagoa e acabou frita.

2) Esse gato é um gatuno:

→ Antes de dormir, a família se reunia na sala de jantar, a Tia Nastácia acendia o lampião e alguém contava uma história. Em Reinações de Narizinho, um falso “cinquentaneto” do Gato Félix inventou que tinha nascido na Europa, vindo para a América no navio de Colombo e se naturalizado norte-americano. Demorou, mas Visconde de Sabugosa descobriu as mentiras.

3) Ô de casa!

→ A sala de visitas já recebeu muitos “famosos”. Entre eles, Cinderela, Chapeuzinho Vermelho e Branca de Neve, convocadas para uma festa da Narizinho. Esta última acabou se aborrecendo quando descobriu que um monstro também tinha sido convidado. Quando ele esmurrou a porta, todos se amontoaram para espiar pela janela. Ainda bem que ele não conseguiu entrar!

4) Pegadinha da malandra:

→ Difícil alguém passar pelo sítio e não encontrar Dona Benta sentada na varanda com sua cesta de costura. Mas, em Reinações de Narizinho, a garota levou um susto: encontrou a vovó transformada numa tartaruga. Era uma vingança da Dona Carocha, especialista em histórias, porque a menina havia ajudado a esconder o Pequeno Polegar.

5) Que delícia de Hamlet!

→ A biblioteca foi reformada por Emília quando os outros moradores do sítio viajaram para a Europa, em A Reforma da Natureza. Ela trocou o papel dos livros por trigo e o porco Rabicó acabou devorando as obras completas de Shakespeare. A boneca também cometeu outras ousadias, como colocar as jabuticabas do pomar no pé de abóbora.

6) Decoração literária:

→ A casinha do Visconde de Sabugosa era formada por dois grossos volumes do Dicionário de Morais, na biblioteca. A mesa era um livro chamado O Banquete e a cama era um exemplar da Enciclopédia do Riso e da Galhofa. Mas, depois que Visconde caiu atrás da estante, também em Reinações, passou a dormir numa latinha.

7) Jantar na cama:

→ Narizinho e Emília passaram a dividir um quarto depois que a boneca aprendeu a falar. Elas conversavam até tarde, aguardando que o sono viesse. Certa noite, foram despertadas por uma formiga ruiva batendo à porta. Ela trazia na cabeça uma salva de prata, coberta com guardanapo de papel. Emília espichou os braços para receber o presente: croquetes tostadinhos!


Imaginação sem limites

Para Monteiro Lobato, os arredores do sítio podiam levar a todo tipo de aventura:

1) Prenda a respiração:

→ Com águas limpas e pedrinhas roliças de todas as cores, o ribeirão fazia divisa com o pomar e as terras de plantação. Em certos pontos, formavam-se pequenas praias de areia branca. Todos os domingos, Tia Nastácia se metia na água até a cintura para pegar peixes na peneira. O local também era a porta de entrada para o Reino das Águas, comandado pelo Príncipe Escamado.

2) Cada macaco no seu galho:

→ No pomar, cada árvore possuía um dono. A pitangueira era da Emília, as três jabuticabeiras, do Pedrinho, a mangueira de manga-espada, da Narizinho, os pés de mamão, da Tia Nastácia, e até o Visconde tinha um pezinho de romã. Debaixo das folhagens, onde não era permitido estilingue nem bodoque para a passarinhada se sentir à vontade, Narizinho e Pedrinho planejavam grandes aventuras.

3) Sabedoria popular:

→ No fim do pasto, perto da ponte, Tio Barnabé vivia em um rancho coberto de sapé. Negro sabido, com mais de 80 anos, ele entende de mula sem cabeça, lobisomem e de todas as feitiçarias. Foi quem incentivou Pedrinho a capturar um saci, pois aquele que colocasse o diabinho de uma perna dentro de uma garrafa de vidro o teria como escravo para o resto da vida.

4) O jardim de Pedrinho:

→ Todas as férias, Pedrinho enchia a varanda de flores. Houve um verão em que ele preencheu o espaço com pés de “cortina japonesa”, uma trepadeira com fios avermelhados da grossura de um barbante que, quando cresciam, desciam até o chão. O menino também pendurava muitas orquídeas e vasos de avenca miúda, de modo que o lugar estava quase virando um jardim.

5) Um antiquário de plantas:

→ Segundo o livro O Saci, o jardim de Dona Benta era repleto de flores do tempo de sua mocidade, só plantas antigas e fora de moda: esporinhas, damas-entre-verdes, suspiros, orelhas-de-macaco, dois pés de jasmim-do-cabo e outro de jasmim-manga. Narizinho implicava com o cravo-de-defunto, pois achava que tinha cheiro de cemitério.

6) Festa junina:

→ Todos os anos, na véspera do dia de São João, Pedrinho fincava um mastro do santo no terreiro. Ele mesmo cortava o pau no mato, o descascava e pintava com arabescos vermelhos, amarelos e azuis. No topo, colocava a bandeira, na qual pregava com tachinhas um retrato de São João.

7) Nana, nenê, que ela vem te pegar:

→ Numa montanha de pedras nuas e escuras, com arvoredo retorcido brotando das brechas, uma abertura negra indicava a entrada para a caverna onde morava Cuca. Com cara de jacaré e garras nos dedos, a “rainha das coisas feias” era velha como o tempo, devia ter mais de três mil anos de idade, e só dormia uma noite a cada sete anos. Já chegou a sequestrar Narizinho e transformar a menina em uma pedra.

8) Vaca 2.0:

Em A Reforma da Natureza, Emília redefiniu as feições da vaca do sítio. No pasto, Mocha circulava de chifres compridos com bolas de borracha nas pontas e pelo furta-cor. A cauda, no meio das costas, permitia à Mocha espantar as moscas do corpo inteiro; as tetas, metade à esquerda e metade à direita, possibilitavam amamentar e tirar leite ao mesmo tempo.

Uma família estranha, mas feliz.

Na turma, tem até porco casado com boneca de pano.


Dona Benta

→ Com mais de 60 anos, é a mais feliz das vovós. Todos que passam pela estrada próxima ao sítio conseguem vê-la na varanda com uma cestinha de costura e óculos de ouro na ponta do nariz.


Tia Nastácia

→ Cozinheira de mão-cheia, foi quem ajudou Dona Benta a criar Narizinho. Negra de beiços grandes, faz os melhores quitutes e, sem ela, a vida no sítio não teria sabor. É muito medrosa.


Narizinho

→ Neta de Dona Benta, é morena como jambo, gosta muito de pipoca e já sabe fazer bolinhos de polvilho. Está sempre acompanhada de sua boneca Emília e, todas as tardes, vai ao ribeirão dar farelo de pão aos lambaris.


Pedrinho

→ Filho de Antonica e neto de Dona Benta, o menino passa todas as férias no sítio. Vive de lá pra cá com um estilingue nas mãos. Metido a valente, inventou até mesmo de caçar uma onça. 


Emília

→ Boneca de pano desajeitada, com olhos de retrós pretos e sobrancelhas altas, que Tia Nastácia fez para Narizinho. Ela passou a se comunicar depois de tomar uma pílula falante. É espevitada, mandona e interesseira.


Visconde de Sabugosa

→ Na tentativa de convencer Emília de que Rabicó era príncipe, Narizinho e Pedrinho usaram um sabugo de milho para inventar esse personagem, um “rei” que se finge de visconde. Muito inteligente, ele é “pai” de Rabicó.


Marquês de Rabicó

→ Os seis irmãos desse porquinho foram para o forno da Tia Nastácia. Mas ele se deu melhor. Virou marido de Emília depois que Narizinho a convenceu de que ele era um príncipe amaldiçoado por uma fada má

Correio elegante

Personagens tinham vários jeitos de se comunicar à distância.

Carta: Pedrinho enviou uma à avó para que um cavalo o esperasse na estação quando ele chegasse de viagem.

Marimbondo: Foi o mensageiro que trouxe um convite para a turma conhecer o palácio do Reino das Abelhas.

Borboletograma: Para responder à gentileza das abelhas, Narizinho enviou sua própria emissária, escrevendo nas asas de uma borboleta.

Libélula: Serviu de leva e traz para Rabicó, que queria pedir perdão a Narizinho por ter sido covarde em uma situação de perigo.

Peixes escoteiros: Despachados pelo Reino das Águas, traziam uma concha de madrepérola com o pedido de casamento do Príncipe Escamado a Narizinho.


Beija-flor: Convidou a Cinderela, a Branca de Neve e o Pequeno Polegar e outros personagens para a festa na casa de Narizinho.


Livro: O Sítio do Pica-Pau Amarelo
Autor: Monteiro Lobato (1882-1948)
Volumes: 23
Lançamento: 1920-1947
Gênero: Infantil / fantasia

(Do Blog: Mundo Estranho)


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