Como era o Sítio do Pica-Pau Amarelo?
Por Nina Rahe
1) A curiosidade matou a
sardinha:
→ Na cozinha, Tia Nastácia
preparava várias delícias. Quando os integrantes do Reino das Águas apareceram
no sítio, a cozinheira ganhou uma companheira muito enxerida. A Senhorita
Sardinha se metia em tudo: provou sal, açúcar e até trepou no fogão para espiar
a frigideira de gordura. Pulou dentro dela achando que fosse uma lagoa e acabou
frita.
2) Esse gato é um gatuno:
→ Antes de dormir, a família se
reunia na sala de jantar, a Tia Nastácia acendia o lampião e alguém contava uma
história. Em Reinações de Narizinho, um falso “cinquentaneto” do Gato Félix
inventou que tinha nascido na Europa, vindo para a América no navio de Colombo
e se naturalizado norte-americano. Demorou, mas Visconde de Sabugosa descobriu
as mentiras.
3) Ô de casa!
→ A sala de visitas já recebeu
muitos “famosos”. Entre eles, Cinderela, Chapeuzinho Vermelho e Branca de Neve,
convocadas para uma festa da Narizinho. Esta última acabou se aborrecendo
quando descobriu que um monstro também tinha sido convidado. Quando ele
esmurrou a porta, todos se amontoaram para espiar pela janela. Ainda bem que
ele não conseguiu entrar!
4) Pegadinha da malandra:
→ Difícil alguém passar pelo
sítio e não encontrar Dona Benta sentada na varanda com sua cesta de costura.
Mas, em Reinações de Narizinho, a garota levou um susto: encontrou a vovó
transformada numa tartaruga. Era uma vingança da Dona Carocha, especialista em
histórias, porque a menina havia ajudado a esconder o Pequeno Polegar.
5) Que delícia de Hamlet!
→ A biblioteca foi reformada por
Emília quando os outros moradores do sítio viajaram para a Europa, em A Reforma da Natureza.
Ela trocou o papel dos livros por trigo e o porco Rabicó acabou devorando as
obras completas de Shakespeare. A boneca também cometeu outras ousadias, como
colocar as jabuticabas do pomar no pé de abóbora.
6) Decoração literária:
→ A casinha do Visconde de
Sabugosa era formada por dois grossos volumes do Dicionário de Morais, na
biblioteca. A mesa era um livro chamado O Banquete e a cama era um exemplar da Enciclopédia
do Riso e da Galhofa. Mas, depois que Visconde caiu atrás da estante, também em
Reinações, passou a dormir numa latinha.
7) Jantar na cama:
→ Narizinho e Emília passaram a
dividir um quarto depois que a boneca aprendeu a falar. Elas conversavam até
tarde, aguardando que o sono viesse. Certa noite, foram despertadas por uma
formiga ruiva batendo à porta. Ela trazia na cabeça uma salva de prata, coberta
com guardanapo de papel. Emília espichou os braços para receber o presente:
croquetes tostadinhos!
Imaginação sem limites
Para Monteiro Lobato,
os arredores do sítio podiam levar a todo tipo de aventura:
1) Prenda a respiração:
→ Com águas limpas e pedrinhas
roliças de todas as cores, o ribeirão fazia divisa com o pomar e as terras de
plantação. Em certos pontos, formavam-se pequenas praias de areia branca. Todos
os domingos, Tia Nastácia se metia na água até a cintura para pegar peixes na
peneira. O local também era a porta de entrada para o Reino das Águas,
comandado pelo Príncipe Escamado.
2) Cada macaco no seu galho:
→ No pomar, cada árvore possuía
um dono. A pitangueira era da Emília, as três jabuticabeiras, do Pedrinho, a mangueira
de manga-espada, da Narizinho, os pés de mamão, da Tia Nastácia, e até o
Visconde tinha um pezinho de romã. Debaixo das folhagens, onde não era
permitido estilingue nem bodoque para a passarinhada se sentir à vontade,
Narizinho e Pedrinho planejavam grandes aventuras.
3) Sabedoria popular:
→ No fim do pasto, perto da
ponte, Tio Barnabé vivia em um rancho coberto de sapé. Negro sabido, com mais
de 80 anos, ele entende de mula sem cabeça, lobisomem e de todas as
feitiçarias. Foi quem incentivou Pedrinho a capturar um saci, pois aquele que
colocasse o diabinho de uma perna dentro de uma garrafa de vidro o teria como
escravo para o resto da vida.
4) O jardim de Pedrinho:
→ Todas as férias, Pedrinho
enchia a varanda de flores. Houve um verão em que ele preencheu o espaço com
pés de “cortina japonesa”, uma trepadeira com fios avermelhados da grossura de
um barbante que, quando cresciam, desciam até o chão. O menino também pendurava
muitas orquídeas e vasos de avenca miúda, de modo que o lugar estava quase
virando um jardim.
5) Um antiquário de plantas:
→ Segundo o livro O Saci, o
jardim de Dona Benta era repleto de flores do tempo de sua mocidade, só plantas
antigas e fora de moda: esporinhas, damas-entre-verdes, suspiros,
orelhas-de-macaco, dois pés de jasmim-do-cabo e outro de jasmim-manga.
Narizinho implicava com o cravo-de-defunto, pois achava que tinha cheiro de
cemitério.
6) Festa junina:
→ Todos os anos, na véspera do
dia de São João, Pedrinho fincava um mastro do santo no terreiro. Ele mesmo
cortava o pau no mato, o descascava e pintava com arabescos vermelhos, amarelos
e azuis. No topo, colocava a bandeira, na qual pregava com tachinhas um retrato
de São João.
7) Nana, nenê, que ela vem te
pegar:
→ Numa montanha de pedras nuas e
escuras, com arvoredo retorcido brotando das brechas, uma abertura negra
indicava a entrada para a caverna onde morava Cuca. Com cara de jacaré e garras
nos dedos, a “rainha das coisas feias” era velha como o tempo, devia ter mais
de três mil anos de idade, e só dormia uma noite a cada sete anos. Já chegou a
sequestrar Narizinho e transformar a menina em uma pedra.
8) Vaca 2.0:
→ Em A Reforma da Natureza,
Emília redefiniu as feições da vaca do sítio. No pasto, Mocha circulava de
chifres compridos com bolas de borracha nas pontas e pelo furta-cor. A cauda,
no meio das costas, permitia à Mocha espantar as moscas do corpo inteiro; as
tetas, metade à esquerda e metade à direita, possibilitavam amamentar e tirar
leite ao mesmo tempo.
Uma família estranha, mas feliz.
Na turma, tem até
porco casado com boneca de pano.
Dona Benta
→ Com mais de 60 anos, é a mais
feliz das vovós. Todos que passam pela estrada próxima ao sítio conseguem vê-la
na varanda com uma cestinha de costura e óculos de ouro na ponta do nariz.
Tia Nastácia
→ Cozinheira de mão-cheia, foi
quem ajudou Dona Benta a criar Narizinho. Negra de beiços grandes, faz os
melhores quitutes e, sem ela, a vida no sítio não teria sabor. É muito medrosa.
Narizinho
→ Neta de Dona Benta, é morena
como jambo, gosta muito de pipoca e já sabe fazer bolinhos de polvilho. Está
sempre acompanhada de sua boneca Emília e, todas as tardes, vai ao ribeirão dar
farelo de pão aos lambaris.
Pedrinho
→ Filho de Antonica e neto de
Dona Benta, o menino passa todas as férias no sítio. Vive de lá pra cá com um
estilingue nas mãos. Metido a valente, inventou até mesmo de caçar uma onça.
Emília
→ Boneca de pano desajeitada, com
olhos de retrós pretos e sobrancelhas altas, que Tia Nastácia fez para
Narizinho. Ela passou a se comunicar depois de tomar uma pílula falante. É espevitada,
mandona e interesseira.
Visconde de Sabugosa
→ Na tentativa de convencer
Emília de que Rabicó era príncipe, Narizinho e Pedrinho usaram um sabugo de
milho para inventar esse personagem, um “rei” que se finge de visconde. Muito
inteligente, ele é “pai” de Rabicó.
Marquês de Rabicó
→ Os seis irmãos desse porquinho
foram para o forno da Tia Nastácia. Mas ele se deu melhor. Virou marido de
Emília depois que Narizinho a convenceu de que ele era um príncipe amaldiçoado
por uma fada má
Correio elegante
Personagens tinham
vários jeitos de se comunicar à distância.
Carta: Pedrinho enviou uma à avó
para que um cavalo o esperasse na estação quando ele chegasse de viagem.
Marimbondo: Foi o mensageiro que
trouxe um convite para a turma conhecer o palácio do Reino das Abelhas.
Borboletograma: Para responder à
gentileza das abelhas, Narizinho enviou sua própria emissária, escrevendo nas
asas de uma borboleta.
Libélula: Serviu de leva e traz
para Rabicó, que queria pedir perdão a Narizinho por ter sido covarde em uma
situação de perigo.
Peixes escoteiros: Despachados
pelo Reino das Águas, traziam uma concha de madrepérola com o pedido de
casamento do Príncipe Escamado a Narizinho.
Beija-flor: Convidou a Cinderela, a Branca de Neve e o Pequeno Polegar e outros personagens para a festa na casa de Narizinho.
Livro: O Sítio do Pica-Pau Amarelo
Autor: Monteiro Lobato (1882-1948)
Volumes: 23
Lançamento: 1920-1947
Gênero: Infantil / fantasia
(Do Blog: Mundo
Estranho)
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