sexta-feira, 9 de setembro de 2016

A maior fraude de uma revista brasileira



Foto da Revista “O Cruzeiro”, de 17 de maio de 1952,
retirada do livro “O Império de Papel – Os Bastidores de O Cruzeiro”,
de Accioly Netto – Editora Sulina.

O texto abaixo foi tirado do livro “Cobras Criadas”,
de Luiz Maklouf Carvalho, da Editora SENAC.


Disco Voador na Barra da Tijuca

“Disco Voador na Barra da Tijuca”. a maior fraude da história de O Cruzeiro, entrou como encarte “Extra” na edição de 17 de maio de 1952 – sem chamada na capa e sem inclusão no índice da página 2, indicações de que ficou pronta na última hora, quando grande parte da revista já havia sido impressa.

A foto da abertura é a panorâmica de um objeto cilíndrico voando sobre a Pedra da Gávea. Embaixo, no canto direito, as fotos de Ed Keffel e João Martins, de terno e gravata. No canto esquerdo, a legenda: “Fantástico mas real! O disco voador sobrevoando a Pedra da Gávea, vendo-se a sua parte interna”. Abaixo do título, a explicação:

O Cruzeiro apresenta um fato jornalístico espetacular, a mais sensacional documentação jamais conseguida sobre o mistério dos discos voadores. O estranho objeto veio do mar, com enorme velocidade, e foi visto durante um minuto – Cor cinza-azulado, absolutamente silencioso, sem deixar rastros de fumaça ou de chamas – Relato completo da fascinante aparição na Barra da Tijuca.

João Martins conta que, no começo da tarde de 7 de maio, ele e Keffel chegaram à Barra da Tijuca - então uma praia quase deserta -, com o objetivo de fazer uma reportagem sobre “os pares amorosos que por lá se refugiavam. Tomaram um barquinho para a Ilha dos Amores e por lá almoçaram camarões, no bar de Antônio Teixeira. Levantaram-se algumas vezes, para apreciar as acrobacias de uma esquadrilha da Força Aérea Brasileira.

Entre quatro e quatro e meia da tarde, sentados na areia, tiveram a atenção despertada “por um objeto que se movia no ar, ao lado do sol”.

Esse objeto, à distância, assemelhava-se a um avião visto de frente: mas o extraordinário era esse “avião”, que parecia voltado para nós, movia-se de lado, num a velocidade tremenda. Vinha diretamente do oceano para a terra, perpendicularmente à rota dos aviões comerciais. Falei para o meu companheiro: “Bata, Keffel!”

O Cruzeiro, 17.05.1952


Mais cinquenta anos depois, ainda há quem defenda a fraude como verdadeira. É o caso de Flávio Damm, Accioly e Zé Amádio, os dois últimos por assumida co-autoria, e o primeiro por uma questão de amizade a Ed Keffel. Os demais, entre os ouvidos, têm explicações variadas.

Mário Moraes:

Eles foram atrás do Prestes, que estava foragido. Fui eu que atendi o telefonema do João Martins. Eles foram bons atores, mas depois fuçou provado que foi uma fraude. O Leão encomendou um laudo técnico ao perito Carlos Éboli. Ele comprovou a farsa mostrando que havia duas sombras – e, portanto, dois Sóis, o que não poderia acontecer.

Jorge Audi:

Totalmente falso, um tiro que saiu pela culatra. Eu era amigo pessoal do Carlos Éboli, o melhor cara de polícia técnica no Brasil. Ele me contou, pessoalmente, que o Leão Gondim pediu uma perícia nos negativos. A primeira coisa que ele descobriu é que havia dois Sóis: um à esquerda, outro à direita. esse laudo foi entregue para o leão, que ficou puto e enfiou na gaveta. O Éboli me mostrou o laudo. Era uma coisa grande, com várias páginas.


O Keffel era um gênio da técnica fotográfica no laboratório. Na época em que não havia foto colorida, ele conseguia dar cor, só com reação química. Uma vez, João Martins me contou que o negócio tinha sido uma brincadeira e que depois eles não conseguiram segurar. Ligaram lá da Barra para o diretor, só que o Amádio botou a boca no mundo. Quando eles chegaram à redação já havia um aparato, e eles tiveram que bancar. Eu acredito que o Keffel fotografou o objeto no laboratório, rebobinou o filme e depois fotografou a paisagem por cima.

Millôr Fernandes:

Não tenho a menor dúvida de que foi uma fraude. O Keffel e o Martins começaram a se atirar em busca de coisas extravagantes. O clima de fantasia criado pelo David Nasser e pelo Manzon permitia isso, a revista incentivava. O Keffel era um bom técnico. Eles foram para a Barra por conta própria. Atiraram calotas, fotografaram e avisam a redação. Iam explicar a coisa toda para o leão, mas quando chegaram lá a direção, com aquela leviandade toda, já tinha avisado a imprensa. O clima estava criado e não tiveram como recuar.

Resumo

Os diretores da revista "O Cruzeiro", tendo em vista que a vendagem estava baixa e que também estava na moda o assunto disco voador, resolveram preparar uma "bomba", para assim aumentar a vendagem. Posteriormente, iriam divulgar como a fraude foi realizada, mostrando assim que é muito fácil fraudar fotos de discos voadores. Só que jamais iriam imaginar que os militares, comandados pelo cel. João Adil de Oliveira, iriam se interessar pelas fotos e pior, acabaram dando autenticidade às mesmas. Assim, tendo em vista os rumos que tomaram o caso, resolveram "sustentar" a grande farsa.

Infelizmente, a Ufologia brasileira começou com essa grande fraude. Seria esse também o motivo da Ufologia não decolar?

Eng. Claudeir Covo é ufólogo e presidente do INFA





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