Rui Cardoso Nunes
Os rastreadores
da História
campearam minha
memória,
do tempo nas
noites grandes,
e me encontraram
na Taba,
nos araxás do
ameraba
da cordilheira
dos Andes!
Dos séculos na
densa bruma,
a minha origem
se esfuma!
Sou alma xucra e
gaudéria
que vem de
tempos sem fim!
Ninguém sabe de
onde eu vim,
se de Atlântida
ou Sibéria!
Talvez fosse um
lemuriano,
guardasse n'alma
o arcano
da legendária
Lemúria -
minha primeira
Querência,
tragada pela
violência
de cataclismos
em fúria!
Talvez malaio,
australiano,
ou mongol, ou
tasmaniano,
antes de vir
para a América!
Sou, hoje, o
guasca sulino
mestiço com
beduíno
lá da Península
Ibérica!
Sou mescla de
vários sangues!
Dos temidos
Caingangues
sinto a fibra em
minha raça!
Destas coxilhas
sou filho,
cruza de branco
caudilho
com ameríndia
lindaça!
Fui Charrua e
Minuano!
Enfrentei o
lusitano
nos campos de
Caiboaté!
Na região
missioneira,
iluminei a
fronteira
nas guerrilhas
de Sepé!
Fui guerreiro,
andei lutando...
Surgi mil vezes
peleando,
mil vezes tombei
na guerra,
eternizando na
história,
numa legenda de
glória,
as tribos de
minha Terra!
Marquei, com
sangue estrangeiro,
deste Torrão
Brasileiro
as fronteiras
que ele tem!
E nelas, qual
marco vivo,
deixei meu
sangue nativo,
as demarcando
também!
E se alguém, num
dia aziago,
quiser tomar
este pago,
ser das coxilhas
monarca,
há de sentir
pelo lombo,
no impacto de
cada tombo,
que nossa Terra
tem marca!
Rui Cardoso Nunes (São Francisco
de Paula, 25 de março de 1919 ‒ Porto Alegre, 8 de julho de 2009) foi
jornalista, poeta e escritor.
Nascido na Fazenda do Chapéu, no
atual município de Jaquirana, antigo distrito de São Francisco de Paula, também
era jornalista, ensaísta e dicionarista. Ainda jovem, veio para a Capital, onde
começou a trabalhar em
jornal. Não demorou para começar a escrever poesias, um
talento que já demonstrava quando criança. Entre tantos poemas que escreveu,
seu preferido era Lança Farrapa, que fazia questão de sempre incluir nas
antologias publicadas com sua obra. Dedicado ao tradicionalismo, participou da
criação do CTG 35, na Capital. Foi o acadêmico que por mais tempo ocupou sua
cadeira na Academia Rio-Grandense de Letras (mais de 50 anos). Como Secretário
Geral da entidade, ajudou na conquista da sede da Academia Rio-Grandense de
Letras, na Rua dos Andradas.
Publicou diversos livros de
poesia. Na área de folclore, publicou com Zeno Cardoso Nunes, o Dicionário de
Regionalismos do Rio Grande do Sul, em 1997 e o Minidicionário Guasca, em 1994,
além de ensaios e artigos em revistas e jornais.
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