domingo, 25 de setembro de 2016

Diante do berço



Quando as mães contemplam o filhinho no berço, o pensamento voa para o futuro; veem a sua criança nas sucessivas transformações da idade: a candura dos primeiros anos; a curiosidade da infância; a alegria, a inquietude da puberdade; os devaneios da juventude. As mães perguntam:

“Como será ele aos dez anos? Que fisionomia terá aos quinze? E quando apontar a barba, e quando atingir o esplendor da beleza e da força? Será belo? Será bom? Será afetuoso?”

E, intimamente, conjeturam:

“Pobrezinho! Encontrará, talvez, no caminho da vida, asperezas, ingratidões, grosserias, injustiças, brutalidades... Quem sabe se não conhecerá inimigos cruéis e traidores abjetos? Quem sabe se não curtirá privações, não terá dias amargos e turvos? Quantos procurarão humilhá-lo, com gestos bruscos ou frases sutis, com gargalhada sarcástica ou riso cortante de ironia? Iluminar-se-á de desilusões e tristezas?”

Todos esses pensamentos crescem nos corações das mães, humanas e ingênuas, quando embalam os filhinhos, cantando suas cantigas. Ele é tão pequenino e indefeso; ela defende-o, e protege-o e morrerá pela sua criança querida, se algum perigo ameaçar o tenro ser. Balançando o berço, a mãe sente-se forte contra tudo e contra todos...

“Dorme, dorme, meu filhinho, que mamãe vela por ti...”


(Do livro “Vida de Jesus”, de Plínio Salgado)



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