(Isso aconteceu em Portugal.)
Uns
estudantes de Coimbra decidiram pregar uma peça a certo caixeiro de pastelaria
que se tinha na conta de muito esperto.
‒ Não
ateimes porque o Costa não se deixa intrujar! – insistiu um dos do grupo.
‒ Veremos
– teimou o mais ladino.
‒ Vocês
esperem aqui para não levantar suspeitas.
E
dirigiu-se para o estabelecimento. Mal entrou, o Costa, atenciosamente,
perguntou-lhe o que desejava.
‒ Uma
dúzia daqueles bolinhos – e apontou uns que estavam no mostruário.
O
caixeiro tirou o prato do mostruário e, cuidadosamente, um a um, com a pinça
foi passando os bolos para a caixa de cartão. Quando já se preparava para os
embrulhar, interveio o estudante.
‒ Olhe,
senhor Costa, se me dá licença – e olhando para uma prateleira atrás do balcão,
apontou – preferia aqueles. Se não lhe faz diferença?
‒ Olha
essa! – e o Costa retirou os bolos da caixa, colocou-os no prato e foi pôr este
no mostruário.
Voltando
ao balcão empacotou os segundos bolos pedidos e entregou o embrulho ao freguês.
Este agradeceu e saiu.
O
Costa ficou indeciso, mas, vendo que o freguês não lhe pagava os bolos,
dirigiu-se à porta e chamou o estudante, que se aproximava sorridente do grupo
que o aguardava no passeio.
‒ Ó
meu caro senhor! Faz-me a fineza?
‒ Que
há?! – perguntou o outro.
‒ O
senhor não pagou os bolos!
‒ Não
paguei os bolos?
‒ Não,
senhor esqueceu-se de pagar – continuou o caixeiro, ainda crente no equívoco.
‒ Mas
eu não tenho de os pagar! – declarou o estudante.
‒ Não
tem de os pagar, por quê?! – objetou o Costa,
‒ Porque
os troquei por aqueles que estão no mostruário!
‒ Mas
o senhor também não pagou aqueles! – afirmou o Costa, já a abespinhar-se.
‒ Pois
claro! Como queria que os pagasse se o senhor os tem ali no mostruário!
‒ Ah!
– exclamou o Costa, olhando indeciso para o mostruário e para o estudante. - Tem
razão, desculpe.
(Do Almanaque do Diário de Noticias de 1958)
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