terça-feira, 20 de setembro de 2016

Os bolos que lá ficaram...

(Isso aconteceu em Portugal.)


Uns estudantes de Coimbra decidiram pregar uma peça a certo caixeiro de pastelaria que se tinha na conta de muito esperto.

‒ Não ateimes porque o Costa não se deixa intrujar! – insistiu um dos do grupo.

‒ Veremos – teimou o mais ladino.

‒ Vocês esperem aqui para não levantar suspeitas.

E dirigiu-se para o estabelecimento. Mal entrou, o Costa, atenciosamente, perguntou-lhe o que desejava.

‒ Uma dúzia daqueles bolinhos – e apontou uns que estavam no mostruário.

O caixeiro tirou o prato do mostruário e, cuidadosamente, um a um, com a pinça foi passando os bolos para a caixa de cartão. Quando já se preparava para os embrulhar, interveio o estudante.

‒ Olhe, senhor Costa, se me dá licença – e olhando para uma prateleira atrás do balcão, apontou – preferia aqueles. Se não lhe faz diferença?

‒ Olha essa! – e o Costa retirou os bolos da caixa, colocou-os no prato e foi pôr este no mostruário.

Voltando ao balcão empacotou os segundos bolos pedidos e entregou o embrulho ao freguês. Este agradeceu e saiu.

O Costa ficou indeciso, mas, vendo que o freguês não lhe pagava os bolos, dirigiu-se à porta e chamou o estudante, que se aproximava sorridente do grupo que o aguardava no passeio.

‒ Ó meu caro senhor! Faz-me a fineza?

‒ Que há?! – perguntou o outro.

‒ O senhor não pagou os bolos!

‒ Não paguei os bolos?

‒ Não, senhor esqueceu-se de pagar – continuou o caixeiro, ainda crente no equívoco.

‒ Mas eu não tenho de os pagar! – declarou o estudante.

‒ Não tem de os pagar, por quê?! – objetou o Costa,

‒ Porque os troquei por aqueles que estão no mostruário!

‒ Mas o senhor também não pagou aqueles! – afirmou o Costa, já a abespinhar-se.

‒ Pois claro! Como queria que os pagasse se o senhor os tem ali no mostruário!

‒ Ah! – exclamou o Costa, olhando indeciso para o mostruário e para o estudante. - Tem razão, desculpe.

(Do Almanaque do Diário de Noticias de 1958)

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