Nestes tempos de Acampamento
Farroupilha e culto às tradições, não custa lembrar uma das maiores atrocidades
cometidas contra a memória do movimento farrapo. Por uma daquelas coisas sem
explicação (mas facilmente explicáveis), um dos prédios mais significativos da
história do Rio Grande do Sul, a chamada Casa Branca do Morro Santana, foi
destruída, em 1972, para que o terreno fosse loteado e, posteriormente, fosse
erguido um bloco residencial. Em seu livro A difícil convivência: Porto Alegre e
os farrapos (AGE Editora /2013), o jornalista Walter Galvani registra: “Ficou
uma ironia de pé: no lugar onde se situava a Casa Branca e onde há esse
conjunto de habitações, uma pequena praça homenageia Marcos Rubin, o homem que a
demoliu!”.
Se o casarão fosse num lugar
distante, talvez tivesse sido poupado, mas não, acabou ficando dentro da
cidade, na Avenida Protásio Alves, quase esquina com a Avenida Antônio de
Carvalho.
A construção açoriana, do início do
século 19, foi quartel general dos farrapos durante o cerco a Porto Alegre; em
1836, hospital farroupilha; era frequentada por Bento Gonçalves e Garibaldi,
que planejou a invasão de Laguna do local. Joaquim Estácio Borges de
Bittencourt do Canto e Maria Altina Azambuja Cidade, esta prima de Bento, ambos
bisnetos de Jerônimo de Ornellas, foram provavelmente seus primeiros
proprietários. Apolinário Porto Alegre (1844-1904), educador brilhante,
jornalista, escritor, fundador do Partenon Literário, adquire a casa em 1885 e
faz dela um centro de cultura e história. Cria o que deve ter sido o primeiro
orquidário da cidade, um jardim botânico com 2 mil espécies do mundo todo, uma
biblioteca riquíssima, de onde escrevia seus textos aos jornais da época,
defendendo suas ideias no Partido Republicano. Acabou vítima de ameaças e
exílio. A casa foi depredada várias vezes pelos castilhistas na Revolução de
1893. Posteriormente, Artur de Sousa Costa se torna seu novo proprietário,
reformando-a como fez Apolinário, mantendo seu aspecto original e as fotos de
Bento e Apolinário na parede.
Alcides Maya, jornalistas e
intelectuais da época frequentavam a casa, referência e testemunha das
reviravoltas políticas de nosso tempo desde o Brasil Colônia. Muito depois, o
comerciante Marcos Rubin adquiriu a área para fazer o loteamento, hoje
conhecido como Jardim Itália, justamente no momento em que a casa (e a enorme
área do entorno) foi “declarada de utilidade pública, por ser necessária a
implantação de um parque histórico”, segundo o Decreto Municipal número 4534A,
de 5 de abril de 1972, o Parque Histórico dos Farrapos.
Apesar do incansável esforço de
Leandro Telles, presidente da comissão de constituição do Patrimônio Histórico
de Porto Alegre, e do apoio da imprensa, que acompanhava de perto, a luta pela
sua preservação em nada adiantou.
O empreendedor se defendeu, em nota
nos jornais, alegando que havia comprado a casa e o terreno em 1968 do espólio
do ministro Artur de Sousa Costa, que ela se encontrava em “precárias
condições” e que, desde então, nunca fora informado de que a Casa Branca
houvesse realmente sido tombada no Patrimônio Histórico. Disse também que “a demolição
é da segunda quinzena de fevereiro e o decreto é bastante posterior à
demolição”. Controvérsias à parte, sabemos que a nossa mui leal e valorosa
quase sempre foi muito mais fiel ao Império (da grana?) do que à causa dos
rebeldes, e isso talvez ajude a explicar, embora não justifique, o descaso.
(Do Almanaque Gaúcho
de Zero Hora)
Colaborou Luis Zildo
Spadoni,
pesquisador sobre a história da Casa Branca.
pesquisador sobre a história da Casa Branca.
Casa branca, o QG dos Farrapos.
Gostaria de saber quais são as referencias de que a casa pertenceu a Maria Altina Azambuja Cidade, pois estou pesquisando e não encontrei.
ResponderExcluirSe tiveres mais informações me ajudaria bastante 🙂
Obrigado
Gustavo (gustavo.ruwer@ufrgs.br)
Amigo Gustavo, esse texto tirei do Almanaque Gaúcho de Zero Hora, com pesquisa feita por Luis Zildo Spadoni. Creio que ele deve dirimir as tuas dúvidas.
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