sábado, 29 de outubro de 2016

Censura a uma música


Documento mostra censura da letra de “Tiro ao Álvaro”, 
de Adoniram Barbosa.


Em 1973, cinco canções do consagrado compositor e cantor Adoniram Barbosa foram vetadas pela censura, inclusive as que já haviam sido gravadas na década de 50. Os pareceres são assinados pela censora Eugênia Costa Rodrigues.

Um exemplo eloquente foi a censura da letra de “Tiro ao Álvaro. Adoniran Barbosa usava em suas canções o jeito coloquial de falar dos paulistanos. Não querendo problemas com a censura, em 1973, o artista decidiu lançar um álbum com várias canções já gravadas na década de cinquenta. Inesperadamente, cinco das suas canções foram vetadas, mesmo não sendo inéditas. Diante da linguagem coloquial de “Samba do Arnesto” (Adoniran Barbosa – Alocin), que trazia nos seus versos “O Arnesto nos convidou prum samba/ Ele mora no Brás/ Nóis fumo/ Num encontremo ninguém/ Fiquemo cuma baita duma réiva/ Da outra veiz nóis num vai mais (Nóis num semo tatu)”, o censor só liberaria a música se ele regravasse cantando assim: “Ficamos com um baita de uma raiva/ Em outra vez nós não vamos mais (Nós não somos tatus)”. Na letra da música “Tiro ao Álvaro” (Adoniran Barbosa – Osvaldo Molles), a censora faz um círculo nas palavras “tauba”, “revorve” e “artormove”, concluindo que a “falta de gosto impede a liberação da letra”. Para que pudessem ser aprovadas, “Samba do Arnesto” e “Tiro ao Álvaro”, teriam que virar “Samba do Ernesto” e “Tiro ao Alvo”. Tiveram o mesmo destino “Já Fui uma Brasa” (Adoniran Barbosa – Marcos César), “Eu também um dia fui uma brasa. E acendi muita lenha no fogão” e “O Casamento do Moacir” (Adoniran Barbosa – Osvaldo Molles), “A turma da favela convidaram-nos para irmos assistir ao casamento da Gabriela com o Moacir”. “O Casamento do Moacir” foi considerada de “péssimo gosto” pela censora Eugênia Costa Rodrigues. Diante da censura, Adoniran Barbosa não mudou a sua obra, deixou para gravar as músicas mais tarde, quando a burrice já tivesse passado.
  
(Do Blogue Documentos Revelados)

Tiro Ao Álvaro

Adoniran Barbosa / Osvaldo Molles

De tanto levar
frexada do teu olhar,
Meu peito até
Parece sabe o quê?
tauba de tiro ao álvaro
Não tem mais onde furar.

Teu olhar mata mais
Do que bala de carabina,
Que veneno estriquinina,
Que pexeira de baiano.

Teu olhar mata mais
Que atropelamento
De autormove,
Mata mais
Que bala de revorve.




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