Conto de fadas para Mulheres Modernas
Era uma vez, numa terra muito
distante, uma linda princesa, independente e cheia de autoestima que, enquanto
contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo
estava de acordo com as conformidades ecológicas, se deparou com uma rã. Então,
a rã pulou para o seu colo e disse:
– Linda princesa, eu já fui um
príncipe muito bonito. Mas, uma bruxa má lançou-me um encanto e eu
transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me
transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir lar feliz
no teu lindo castelo. A minha mãe poderia vir morar conosco e tu poderias
preparar o meu jantar, lavarias as minhas roupas, criarias os nossos filhos e
viveríamos felizes para sempre…
…E então, naquela noite, enquanto
saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e
de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria e pensava:
– Eu, hein?…
nem morta!
(Luís Fernando
Veríssimo)
A solução
O Sr. Lobo encontrou o Sr. Cordeiro
numa reunião do Rotary e se queixou de que a fábrica do Sr. Cordeiro estava
poluindo o rio que passava pelas terras do Sr. Lobo, matando os peixes,
espantando os pássaros e, ainda por cima, cheirando mal.
O Sr. Cordeiro argumentou que, em
primeiro lugar, a fábrica não era sua, era de seu pai, e, em segundo lugar não
podia fechá-la, pois isto agravaria o problema do desemprego na região, e o Sr.
Lobo certamente não ia querer bandos de desempregados nas suas terras, pescando
seu peixe, matando seus pássaros para assar e comer e ainda por cima cheirando
mal.
– Instale
equipamento antipoluente, insistiu o Sr. Lobo.
– Ora, meu caro, retrucou o Sr.
Cordeiro, isso custa dinheiro, e para onde iria meu lucro? Você certamente não
é contra o lucro, Sr. Lobo! disse o cordeiro, preocupado, examinando o Sr. Lobo
atrás de algum sinal de socialismo latente.
– Não, não! disse o Sr. Lobo. Mas
isto não pode continuar. É uma agressão à Natureza e, o que é mais grave, à
minha Natureza. Se fosse à Natureza do vizinho…
– E se eu
não parar? perguntou o Sr. Cordeiro.
– Então, respondeu o Sr. Lobo,
mastigando um salgadinho com seus caninos reluzentes, eu serei obrigado a
devorá-lo, meu caro.
Ao que o Sr.
Cordeiro retrucou que havia uma solução:
– Por que o
senhor não entra de sócio na fábrica Cordeiro e Filho?
– Ótimo,
disse o Sr. Lobo.
E desse dia em diante não houve mais
poluição no rio que passava pelas terras do Sr. Lobo. Ou pelo menos, o Sr. Lobo
nunca mais se queixou.
(Luís Fernando
Veríssimo. Santinho. Porto Alegre, L&PM.)
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