quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A Missa Crioula - 2ª parte



O que é a Missa?

01

Gauchada, peões e prendas,
Siás donas, piás e Patrão,
Permiti que vos explique
Em versos, nesta ocasião,
O que significa a missa
No culto da Religião.

03

Lá no Egito, por exemplo,
Adoravam o sol e gato,
Júpiter, deus dos romanos,
Tupã dos bugres do mato,
Até a vaca lá na Índia,
Chegou a ser deusa de fato.

05

Os povos agradeciam
Todo este Universo em flor,
A pedra, a planta, a vida,
A inteligência e o amor,
O bem, enfim, tudo o mais
Que nos deu o Criador.

07

Assim Abel, por primeiro,
Ofereceu prestimoso
O melhor fruto da horta
E Deus aceitou gostoso.
Caim não gostou da história
Matando o irmão de invejoso.

09

Foi então que Jesus Cristo
Subiu o Calvário solito,
E em nome do povo todo
Ofertou ao Deus bendito,
Um presente sem limite,
Um sacrifício infinito.

11

Cristo, sim, ofereceu
A Deus o maior presente,
Não foi comida, nem bois,
Nem sangue de algum parente,
Mas foi o sangue divino,
Que é puro, virgem, inocente.

13

Mas Cristo fez ainda mais:
Demonstrou maior justiça,
Mandou que se repetisse
Seu drama da Cruz roliça.
E Cristo atravessa os tempos
Morrendo em cada Missa.

15

É verdade... em cada Missa
O Cristo morre de novo,
Oferecendo outra vez
A Deus em nome do povo,
Seu sangue dentro de um cálice
Muito simples sem retovo.

17

Ele morre de outro jeito,
Morre sem crucifixão,
Vereis seu Corpo e seu sangue
Em real separação.
O Sangue dentro do vinho
E o Corpo dentro do pão.

19

Deus fez bem em não mudar
Por fora e pão e o vinho;
Quem bebe o Sangue de Cristo
De sangue tendo gostinho?
Quem come a Carne de Cristo
Se o pão mudasse um pouquinho?

21

Quem vai ofertar a Deus
Este presente grandote,
Não é só Cristo e o Padre,
Mas todos os cristãos do lote,
Sois vós e Cristo reunidos
Pelas mãos do Sacerdote.

23

Nossos trabalhos e dores,
Problemas de cada dia,
Nosso corpo e nossa vida,
Nosso descanso e alegria,
Tudo o que temos e somos,
Suba aos céus com galhardia.

25

Rezemos, pois, esta Missa
Bem crioula, bem campeira,
Junto com Cristo Senhor
E a Virgem Mãe Medianeira,
Pelo querido Rio Grande,
Por toda a terra brasileira.

02

Todos os povos da História
Criam num deus justiceiro,
Embora nem sempre cressem
No Deus Santo e verdadeiro,
Como o nosso “Patrão Velho”
Que entre os deuses é o primeiro.

04

Fosse lá o deus que fosse,
Mas por deus tinham respeito;
Ofereciam presentes,
Cada povo do seu jeito,
Para que Deus com o povo
Se sentisse muito satisfeito.

06

Por isso a Bíblia registra
O esforço da Humanidade
Em oferecer presentes
Por louvor à divindade.
E o Deus Jahvé aceitava
Com toda a simplicidade.

08

O punhal sangrava o filho
No punho dos próprios pais.
E o povo ainda procurava
Um presente mais capaz,
O povo ainda sentia
Que Deus merecia mais.

10

Foi lá de braços abertos,
Tendo um prego em cada mão,
Espinhos sangrando a face,
A lança no coração,
Que o próprio sangue de um Deus
Tingiu as pedras do chão.

12

E Deus do céu contemplando
Seu próprio filho na Cruz,
Recebendo essa homenagem
Que por nós lhe deu Jesus,
Exclamou: agora basta!
A noite se encheu de luz.

14

Pois quis que todos os homens,
Todas as raças, países,
Homens de todos os tempos
Presenciassem como juízes,
Esta oferta que ele fez
Para nos fazer felizes.

16

É claro, Jesus na Missa
Não morre como morreu,
Pregado lá no Calvário
Pelo seu povo judeu,
Mas na missa é o mesmo sangue
Que na Cruz ofereceu.

18

Mesmo que o pão e o vinho
Não mudem nada por fora,
Conservem a cor e o peso
O mesmo gosto de outrora,
 Mas por dentro, bem por dentro,
São diferentes agora.

20

Vede que a Missa é um presente
Dum valor descomunal,
Oferecemos o Sangue
Do Patrão Universal,
Por isso a Igreja nos pede
A Missa Dominical.

22

Vamos reforçar a oferta
Do Sangue subindo à altura.
Ofereçamos, também,
Nossa humilde criatura
A luta do ganha-pão,
Tristezas, mágoas, agruras.

24

Assim como os grãos de trigo
Se unem formando um pão;
Assim como os bagos de uva
Formam vinho pela união,
Assim Cristo como nós todos
Nos unamos como irmãos.


(A Missa Crioula – Padre Paulo Aripe – 1968)

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