sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Sonetos temáticos de Bastos Tigre



Amor Algébrico

Ponhamos nós em equação, primeiro,
Do nosso afeto o original problema;
E depois resolvamos o sistema
Pelas regras de Cunha e Serrasqueiro.

Procuro x, sem que enganar-me tema
E encontro-o, após um cálculo ligeiro,
De valor positivo, real, inteiro,
(X representa o amor que a ti me algema).

Tem duas soluções, coisa é sabida,
Uma equação a dois (do grau segundo)
Busco x linha e a tenho resolvida.

Mas, ah! de amante, algébrico fadário!
Eis o valor do teu amor profundo:
“Raiz de menos um!”. É imaginário...


Amor Geométrico

O meu amor é um círculo; evidente
É que o centro do amor é o coração;
Ando há muito buscando uma tangente
Ou seja - um pé - para pedir-te a mão.

Deste-me corda e eu digo francamente
Quero abrir o “arco” procuro agora em vão;
Cupido, o deus menino onipotente,
Fundo cravou-me a “flecha”, o maganão!

Do círculo do amor calculo a área:
(fórmula)... e a mente vária
Sinto, enquanto a paciência se me esvai.

Conheço (pi) (valor aproximado);
O que, porém, me deixa atrapalhado
É o “quadrado do raio”, que é teu pai!


Amor Gramatical

Amar é verbo regular às vezes.
(Depende da pessoa e do momento)
Quase sempre aparece o complemento
ao fim de um certo número de meses.

Tenho sofrido bárbaros reveses
sempre que em regra conjugá-lo tento;
e até lancei ao negro esquecimento
os meus velhos compêndios portugueses.

Amar!... Verbo de encher... a alma da gente!
Conjugável de modo assaz variado.
e em pessoas e tempos igualmente.

Sabes? É um verbo que eu adoro e evito,
mas quem me dera tê-lo, conjugado
por nós dois no presente do infinitivo!...


Nasceu no Recife (PE), a 12 de março de 1882, filho de Delfino da Silva Tigre e Maria Leontina Bastos Tigre. Faleceu no Rio de Janeiro, a 2 de agosto de 1957.

Estudou no Colégio Diocesano de Olinda (PE), onde compôs os primeiros versos e criou o jornalzinho humorístico O Vigia. Diplomou-se pela Escola Politécnica, em 1906. Trabalhou como engenheiro da General Electric e depois foi ajudante de geólogo nas Obras Contra as Secas, no Ceará.

Foi homem de múltiplos talentos, pois foi jornalista, poeta, compositor, teatrólogo, humorista, publicitário, além de engenheiro e bibliotecário. E em todas as áreas obteve sucesso, especialmente como publicitário. É dele, por exemplo, o slogan da Bayer que correu o mundo, garantindo a qualidade dos produtos daquela empresa: “Se é Bayer é bom”.

Foi ele ainda quem fez a letra para Ary Barroso musicar e Orlando Silva cantar, em 1934, o “Chopp em Garrafa”, inspirado no produto que a Brahma passou a engarrafar naquele ano, e veio a constituir-se no primeiro jingle publicitário, entre nós.

Prestou concurso para Bibliotecário do Museu Nacional (1915) com tese sobre a Classificação Decimal. Mais tarde, transferiu-se para a Biblioteca Central da Universidade do Brasil, onde serviu por mais de 20 anos.

Exerceu a profissão de bibliotecário por 40 anos, é considerado o primeiro bibliotecário por concurso, no Brasil.

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