Aquela mulher, de olhos
tristonhos,
Que vende sortes de loteria,
Fala em riqueza, promete sonhos,
Com o “prêmio grande” que tem na
mão…
E assim, (contraste feito
ironia!)
Numa indigência, que mal encobre,
Fala em riqueza quem é tão pobre!
Promete ouro quem não tem pão!
De rua em rua, na amarga luta,
Com o olhar sumido, que o pranto
molha,
E a voz tão baixa, como uma
prece…
Passa um banqueiro, que não a
olha;
Passa um soldado, que não a
escuta;
Passa um poeta que ela entristece.
Se a chuva cai, não lhe importa a
roupa,
Que até se lava com a chuva
forte.
Só os bilhetes é que ela poupa!
Nem a doença lhe dá cuidados,
Pois a pobreza não teme a morte…
A noite chega. E ela, vencida
Do ingrato ofício na luta em vão,
Retorna a casa, desiludida,
Depois de haver, por um dia
inteiro,
Vendido aos outros tanta ilusão!
(Raul Pompeia. Cantos
sem glória. Rio de Janeiro, Irmãos Pongetti, 1953)
Nenhum comentário:
Postar um comentário