Consultados os porto-alegrenses mais
antigos, os viajantes eventuais e os turistas de ofício, os “gourmets” com
diploma passado pelo Luís Fernando Veríssimo, e os simples comilões de
subúrbios, recolhi a unânime opinião de que o mocotó (acompanhado pelo seu
adjetivo obrigatório, o “suculento”) é o prato mais típico de Porto Alegre. Não
quer isso dizer que a nossa capital guarde exclusividade na elaboração da
grande sopa, onde a gelatina das patas da rês se somam os mondongos, o feijão branco,
alguma linguiça de contrapeso e os necessários temperos, entre os quais a
pimenta, a salsa e o ovo picado. Exclusividade, é claro que não temos. Mas
Porto Alegre parece ser a única cidade onde, ao despontar o inverno, o mocotó
começa a ser oferecido a dias certos, em todos os restaurantes sem
sofisticação, desde a Rua Andrade Neves até a Sertório, e desde o Mercado
Central até a última tasca da Agronomia.
Nas minhas habituais leituras de
jornais antigos, tive o prazer de encontrar o momento em que o mocotó galgava
os primeiros degraus de seu vitorioso “marketing”. Desde o ano de 1891, pelo
menos, começa-se a achar na imprensa o singelo anúncio de casas de pasto ou
hotéis que ofereciam mocotó, às vezes ainda lusitanamente chamado de “mão-de-vaca”.
Em 1895, abril, o velho Jornal do
Comércio avisava que “esplêndido mocotó encontra-se todos os domingos e
dias santificados na casa de negócio à esquina da Azenha e Estrada do Mato
Grosso” (o que hoje corresponde à Praça Princesa Isabel), permitindo supor que
os comilões quase saíssem da cidade em busca do sopão incrementado.
Pela mesma época, o mocotó fazia seu
ingresso na literatura. O folhetim de pretensões realistas. A Tasca, de três autores sob pseudônimo,
no capítulo de 14-2-1896, do mesmo jornal, tem um trecho assim: “À porta da rua
eram infalíveis, do amanhecer até o meio-dia ou duas da tarde, duas pretas da
Costa, (...) uma fritando peixe e outra mexendo, continuadamente, um grande
caldeirão de mão-de-vaca, alimento dos operários e trabalhadores que habitavam
por aquelas redondezas, e que os enchia como a cônegos, por muito pouco
dinheiro”.
A tasca literária de 1896 ficava na
Rua Santana, onde é possível que até hoje se encontre algo parecido, exceção
feita, obviamente, às “pretas da Costa”.
(Do livro “A Velha
Porto Alegre”,
de Sérgio da Costa Franco – Edigal)
de Sérgio da Costa Franco – Edigal)
Nenhum comentário:
Postar um comentário