quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Viva o rebolado!



Democrático, colorido, sensual, cômico. O Teatro de Revista abraçava tais adjetivos com entusiasmo e, nos anos 40 e 50, tinha nome e sobrenome: Walter Pinto (1913 - 1994).

Em 31 de dezembro de 1939, Walter Pinto fazia sua estreia como produtor teatral com a revista É Disso Que Eu Gosto, estrelada por Aracy Cortes. O nome fora tirado de uma música de Carmen Miranda lançada nos Estados Unidos e o elenco contava ainda com Oscarito e Vicente Markelli. Em entrevista concedida ao Serviço Nacional de Teatro (SNT) em 15 de janeiro de 1975, o produtor, responsável pelo estrondoso sucesso do Teatro de Revista no Brasil nas décadas de 40 e 50, lembra do início da carreira e de episódios marcantes de sua trajetória.

Homem que revolucionou o Teatro de Revista dos anos 40 aos anos 60, Walter Pinto recebeu, durante quatro anos, três deles seguidos, o prêmio de melhor produtor de teatro musicado da Associação Brasileira de Críticos Teatrais (ABCT) na década de 50. Suas produções, suntuosas, ocupavam o Teatro Recreio, no Rio de Janeiro, e contavam com elenco de estrelas nacionais e internacionais.

Vaidoso e atencioso, o próprio produtor fazia questão de receber vedetes e bailarinas estrangeiras contratadas para seus espetáculos, como revela uma série de fotos de seu acervo, presente no Centro de Documentação (Cedoc) da Funarte, em que ele recepciona, no aeroporto, em solo carioca, um grupo de belas argentinas que enfeitaria a seguir a revista É Xique Xique no Pixoxó, em 1960. Imagens de 11 anos antes mostram o produtor no aeroporto Orly, em Paris, com as vedetes francesas que escalaria para a revista Está Com Tudo e Não Está Prosa.

Graças à mistura de glamour, produção requintada e mulheres bonitas, de corpos esculturais, em trajes provocantes, suas revistas musicadas caíram no gosto do público de teatro de classes sociais variadas, chamando a atenção também de artistas de outros países, como atestou o cronista Carlos Machado ao citar fala do ator francês Paulo Nivoix sobre a revista Trem da Central, de Freire Jr. e Walter Pinto, em 1948. “Nunca imaginei que no Brasil houvesse um produtor de tal força para extasiar o público”. Em sua coluna, Carlos Machado ainda publicaria: “O êxito de Walter Pinto é devido, sobretudo, a ele mesmo”.

Conforme atestava o cronista, mesmo que os grandes artistas da época deixassem de se apresentar, vez por outra, nas produções da Companhia Walter Pinto, os espetáculos mantinham o mesmo padrão de excelência.


Virgínia Lane

Comendo as claras

1943

Paulo Orlando e Walter Pinto

Cega-Rega*

* Pequeno instrumento que imita o som da cigarra.  Pessoa que fala muito repetindo a mesma coisa no mesmo tom.

Na música abaixo, cantada por várias vedetes, a letra é cheia de malícia e subentendidos...

(Estribilho)

São os ovos coisas raras
bem mais caros que o cinema!
Só quem pode come as “claras”
e o Zé povinha... gema!

Eu e minha namorada
não comemos sem azeite.
Minha mãe, que é viúva,
sente falta só de leite.

Eu só como pão francês,
não suporto um outro pão.
Eu prefiro comer rosca
a comer um alemão.

Cheguei tarde no açougue,
distraída com os estudos.
O maldito do açougueiro
empurrou-me os miúdos.

A viúva do meu vizinho
que é muito bonita e meiga,
não liga aos beijos do noivo...
prefere pão com manteiga.

Eu entrei numa quitanda
para comprar abacates.
Não comprei. O quitandeiro
só quis me vender tomates.

No açougue do seu Manduca,
que é camarada e bom moço,
muito embora falte tudo
não falta carne sem osso.

Portugal estava neutro
separado da Inglaterra,
depois que perdeu o Timor
resolveu entrar na guerra.

Diz o Juca, funcionário,
ao seu colega Castilho:
Enfim chegou o momento
deu-me a mulher mais um filho.

Casei-me com uma viúva
de um alemão. Mas me queixo:
depois que cassou comigo
não quis mais entrar no eixo.

A Alemanha solitária
onde a virtude se apaga,
se o alemão não faz força
O próprio Hitler se apaga.

Excerto de peças, do livro “Viva o rebolado!”,
de Salvyano Cavalcanti de Paiva

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