sábado, 24 de dezembro de 2016

Mas, tchê! o que é o amor?



Por vezes o gaúcho rude, despreocupado com as coisas da alma, envolvido pelo ambiente de intempéries que o cerca, acaba esquecendo o que é o amor e fica até meio sestroso em prosear do assunto.

Na verdade, isto é temporário, pois, por mais arredio a palavras e atos de carinho, porquanto tenha crescido na intensa lida, o gaúcho é por demais romântico.

E quem tinha a dolência das tardes interioranas, mas viu um mundo novo nas retinas de rapaz e saiu a buscá-lo, na força e na coragem, não pode padecer de desamor.

Quem olhou para seus pais com a mesma ternura da mãe que bombeia o filho que se vai, não tem direito de negar o afeto.

Quem retrata em seu corpo o telurismo do solo nativo, há que ser um poeta do amor!

Mas então, gaúcho, o que é o amor?

‒ Não é o ímpeto a um olhar sotreta lhe clamando “vamos que depois veremos”.

‒ Não são lonjuras quando está tão perto o braço antigo que, por só, se cansa.

‒ Não!

‒ Não é o fogo nem o beijo ardente que se apagarão logo ali na frente...

‒ O amor é sim um tropel de ânsias entre passos firmes de um andar perene.

‒ O amor é o rancho, as aves, o vento. É o sonhar de dois, é o cruzar de tempos.

‒ E... se hay quem diga que o amor falece, então não me conhece!

‒ Eu sofro a dor dos injustiçados. Isto é amor! Eu tenho o frio dos desabrigados. Isto é amor! Eu tenho apego às coisas da terra. Isto é amor! Eu vejo o brilho dos teus olhos claros. Isto é amor!

‒ O amor é... a memória moça num rosto de rugas, é humanizar um mundo desumanizado.

‒ O amor é... ouvir murmúrios do coração magoado enquanto a razão grita em altos brados.

Texto: Léo Ribeiro



Um comentário:

  1. Não existe solidão, quando lemos bons livros e textos, a leitura é uma viagem, para perto ou para muito longe, agradeço ao ACB.Por tantas leituras, parabéns a VOCÊ, que faz a seleção e nos presenteia com tanta informação. FELIZ NATAL

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