quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Tudo, todos e o todo


Carlos Rodrigues Brandão*


Somos feitos de barro e do fogo
e por isso somos o desejo e o amor.
Fomos feitos de terra e de água
e assim somos eternos como a vida
e somos passageiros como a flor.
Somos a luz, a sombra, o claro, a escuridão
a memória de deus, a história e a poesia.
Somos o espaço e o tempo, a casa e a janela
e a noite e o dia, e o sol e o céu e o chão.

Somos o silêncio e o som da vida.
O estudo, a lembrança e o esquecimento.
Somos o medo e o abandono.
A espera somos nós e somos a esperança.
Pois não somos mais e nem menos do que o todo
e nem somos menos e nem mais que tudo.
Somos o perene e o momento, a pedra e o vento
a energia e a paz, a vida criada e o criador.

Somos o mundo que sente, e irmãos da vida,
somos a aventura de ser vida e sentimento.
E assim em cada ave que voa há nossa alma,
e em cada ave que morre, a nossa dor.

*Carlos Rodrigues Brandão é Professor Emérito da Unicamp

O que foi desenhado e escrito aqui
começou num dia que ninguém mais
se lembra quando é que foi. E foi!
Mas o que se escreveu e desenhou
se acabou de desenhar e de escrever
na manhã de céu azul e nuvens brancas
com muito vento e anúncio de chuva
na virada da Lua Crescente para Lua Cheia
do dia oito de setembro do ano de doismile3
faltando um pouco pra chegar a Primavera.
E foi acabado de ser desenhado e escrito
num lugar do Sul de Minas
chamado Sítio da Rosa do Ventos
perto de Pocinhos do Rio Verde
no Vale da Pedra Branca
em Caldas, Minas Gerais,
perto do Céu, longe do Mar,
aqui, no Planeta Terra:
Nossa barca, nossa casa e nosso lar


→ Nascido em 1940, viveu em Goiás entre 1967 e 1975, trabalhando como professor universitário. Mestre em antropologia social pela Universidade de Brasília (UnB), doutor em ciências sociais pela Universidade de São Paulo (USP) e livre-docente pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ao longo de sua vida, entre períodos de alguns meses ou de vários anos, lecionou em 12 universidades do Brasil e da Europa. Trabalha atualmente no doutorado em ambiente e sociedade na Unicamp e no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Goiás (UFG). Desde 1963 trabalha como educador popular. É autor de vários livros nas áreas de antropologia social, educação, questões ambientais e literatura. Há mais de 15 anos dedica-se ativamente ao ambientalismo e, de maneira especial, à educação ambiental. Recentemente escreveu para o Programa dos Municípios Educadores Sustentáveis, do Ministério do Meio Ambiente, um livro com as idéias essenciais da proposta: Aqui é onde eu moro. Aqui nós vivemos.

→ Bacharel em psicologia e psicólogo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1965). Aposentou-se da UNICAMP em 1997. Realizou estudos de pós-doutorado em antropologia junto à Universidade de Perúgia e a Universidade de Santiago de Compostela.

→ Divide sua obra escrita entre a antropologia, a educação e a literatura. Publicou ou coordenou a edição de sessenta e dois livros nestas três áreas do conhecimento. É comendador da Ordem do Mérito Científico, recebeu prêmio do CNPq por sua obra em cultura popular. Recebeu a medalha Roquette Pinto da Associação Brasileira de Antropologia e o Prêmio Poesia-Liberdade pela Fundação Centro Alceu Amoroso Lima. Recebeu também a medalha Dom Helder Câmara, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. É professor emérito da Universidade Federal de Uberlândia.

 → livros de Carlos Rodrigues Brandão:

- As flores de abril
- Abecedário dos bichos
- O voo da arara azul
- Furudum...

Do Blog Trabalhos Feitos


3 comentários:

  1. Pena que um homem com esse currículo extraordinário não tenha o reconhecimento que merece; mesmo pessoas com bom nível de conhecimento ignoram a sua importância no mundo científico do país.Bem Brasil.

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    1. Este modesto almanaque reconhece o talento e e beleza poética do versos deste deste grande brasileiro, que é Carlos Rodrigues Brandão!

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